conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção,<br />
tem a palavra o Sr. Deputa<strong>do</strong><br />
Domingos Duarte Lima.<br />
O Sr. Domingos Duarte Lima (PSD):<br />
— Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>República</strong>, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros <strong>do</strong> Governo, Srs.<br />
Presidentes <strong>do</strong> Supremo Tribunal de Justiça e <strong>do</strong> Tribunal<br />
Constitucional, Sr. Procura<strong>do</strong>r-Geral <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Prove<strong>do</strong>r<br />
de Justiça, Sras. e Srs. Deputa<strong>do</strong>s, Srs. Embaixa<strong>do</strong>res, Srs.<br />
Convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s, minhas Senhoras e meus Senhores: Ao celebrarmos,<br />
hoje, o 17.º aniversário <strong>do</strong> 25 de Abril ultrapassámos o limiar simbólico<br />
<strong>da</strong> duração <strong>da</strong> I <strong>República</strong>, sobressalta<strong>da</strong> pela instabili<strong>da</strong>de<br />
política e por conflitos institucionais, por crises sociais e<br />
económicas, cujo desfecho, passa<strong>do</strong>s 16 anos, culminou na<br />
instauração <strong>da</strong> ditadura e <strong>do</strong> autoritarismo.<br />
Este facto é digno de registo, desde logo porque nunca faltaram<br />
arautos a vaticinar a nossa incapaci<strong>da</strong>de congénita de a<strong>da</strong>ptação à<br />
democracia e aos horizontes <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de generosamente rasga<strong>do</strong>s<br />
pelos militares de Abril, a quem hoje, uma vez mais, a minha banca<strong>da</strong><br />
saú<strong>da</strong> com respeito.<br />
Aplausos <strong>do</strong> PSD, <strong>do</strong> PS, <strong>do</strong> PRD e <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s independentes<br />
João Correge<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Fonseca, José Magalhães, Jorge Lemos e Raúl<br />
Castro.<br />
Mas é igualmente digno de registo porque ao longo <strong>da</strong>s inúmeras<br />
vicissitudes e atribulações por que passou o regime democrático<br />
nestes 17 anos não faleceu o ânimo às principais forças políticas<br />
democráticas para introduzirem algumas reformas e melhorias no<br />
funcionamento <strong>do</strong> sistema político que permitiram ultrapassar os<br />
diversos bloqueamentos institucionais com os quais a socie<strong>da</strong>de<br />
portuguesa se viu confronta<strong>da</strong>. Essa capaci<strong>da</strong>de de aperfeiçoamento<br />
<strong>do</strong> nosso sistema político, visan<strong>do</strong> a construção <strong>da</strong>quilo a<br />
que o Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong> chamou de uma «<strong>República</strong><br />
moderna», deve ser um <strong>do</strong>s grandes objectivos a ter presente nos<br />
próximos anos, em particular na próxima legislatura.<br />
Para isso, devemos assumir com desassombro e frontali<strong>da</strong>de o<br />
imperativo de corrigir aquilo que no funcionamento geral <strong>do</strong> sistema<br />
político português é ain<strong>da</strong> objecto justifica<strong>do</strong> de críticas,<br />
porque desajusta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s objectivos que deve servir. O fim último<br />
<strong>da</strong> política é o homem, não o homem abstracto que povoa as<br />
páginas de alguns manuais, mas o homem concreto de que fala<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1991<br />
Duarte Lima<br />
PSD<br />
385<br />
com tanta insistência João Paulo II, o homem que ama, sofre e<br />
que trabalha, ser em relação com outros seres que aspira à liber<strong>da</strong>de<br />
e à realização <strong>integral</strong> <strong>da</strong> sua personali<strong>da</strong>de.<br />
Vozes <strong>do</strong> PSD: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — É ao seu serviço que deve estar organiza<strong>do</strong> o funcionamento<br />
<strong>do</strong> sistema político, e não submeti<strong>do</strong> aos interesses<br />
sempre transitórios <strong>da</strong>s diversas forças políticas que o gerem. Por<br />
isso, a celebração <strong>do</strong> 25 de Abril é o momento adequa<strong>do</strong> para<br />
colocarmos a nós próprios a questão: que desafios exige de nós o<br />
futuro para consoli<strong>da</strong>rmos a <strong>República</strong> moderna de que fala, com<br />
proprie<strong>da</strong>de, S. Ex.ª o Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>?<br />
Vamos assumir consequentemente que é um imperativo modernizar<br />
o nosso sistema eleitoral concebi<strong>do</strong> numa situação político-partidária<br />
em que tu<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s tinham me<strong>do</strong> de tu<strong>do</strong> e de to<strong>do</strong>s e<br />
cuja arquitectura transforma a estabili<strong>da</strong>de governativa em<br />
excepção e não em regra, como se verificou com a vertigem<br />
traduzi<strong>da</strong> na existência de 16 governos em 13 anos?<br />
Vamos assegurar uma relação mais autêntica entre os que elegem<br />
e os que são eleitos ou vamos continuar a privilegiar a relação em<br />
circuito fecha<strong>do</strong> entre estes e os aparelhos partidários em que se<br />
integram?<br />
Vamos potenciar a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia activa, alargan<strong>do</strong> o espaço de<br />
participação política ao conglomera<strong>do</strong> de forças sociais que hoje<br />
estruturam uma socie<strong>da</strong>de moderna ou vamos continuar a privilegiar<br />
a exclusivi<strong>da</strong>de até aqui reserva<strong>da</strong> aos parti<strong>do</strong>s políticos?<br />
Vamos modernizar o funcionamento <strong>do</strong> Parlamento, adequan<strong>do</strong>-o<br />
a <strong>da</strong>r resposta aos desafios <strong>do</strong>s novos tempos, ou vamos mantê-lo<br />
com uma organização e uma estrutura que teve a sua época, mas<br />
que hoje começa a estar claramente desactualiza<strong>da</strong>?<br />
Temos como certo que o principal desafio com que os Portugueses<br />
vão ser confronta<strong>do</strong>s nos próximos anos vai ser o de continuar a<br />
assegurar a estabili<strong>da</strong>de política e governativa, porque foi ela<br />
a pedra de toque que garantiu o surto de progresso e crescimento<br />
económico sustenta<strong>do</strong> que percorre o País e que prestigia<strong>do</strong>s observa<strong>do</strong>res<br />
internacionais qualificam como o «sucesso português».<br />
Aplausos <strong>do</strong> PSD.<br />
Garantir o desenvolvimento de Portugal — um <strong>do</strong>s principais<br />
objectivos <strong>do</strong> 25 de Abril, que nos orgulhamos <strong>do</strong> estar a cumprir<br />
— pressupõe a criação de riqueza nacional, base indispensável<br />
para corrigir desigual<strong>da</strong>des entre as regiões e os ci<strong>da</strong>dãos.<br />
Mas não há criação de riqueza sem referenciais políticos de confiança<br />
e estes só existem se houver estabili<strong>da</strong>de governativa.<br />
Esta é uma regra pacífica nos países de democracia consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />
embora tenha em Portugal a marca <strong>da</strong> excepcionali<strong>da</strong>de, que só