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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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No dia de hoje, é justo que nos lembremos de que este mesmo<br />

conforto só foi possível porque aconteceu Abril.<br />

Uma <strong>da</strong>s artes que cultivamos com esmero é a de cui<strong>da</strong>r <strong>do</strong><br />

acessório, descui<strong>da</strong>n<strong>do</strong> por vezes o principal. Depois de termos<br />

arre<strong>do</strong>n<strong>da</strong><strong>do</strong> o Mun<strong>do</strong>, descansámos. Ensarilhámos as armas <strong>do</strong><br />

nosso estrutural universalismo e demos em preocupar-nos com<br />

coisas mais miú<strong>da</strong>s. O nosso empenhamento na construção <strong>da</strong> União<br />

Europeia foi talvez o primeiro regresso a um senti<strong>do</strong> de grandeza.<br />

Temos, no torno, mais uma revisão <strong>da</strong> Constituição. Verifico, com<br />

satisfação, que vai marcar presença nela a preocupação de ultrapassar<br />

invetera<strong>da</strong>s rotinas. Acontece isso, nomea<strong>da</strong>mente, com<br />

aflorações de medi<strong>da</strong>s de abertura à participação cívica <strong>do</strong>s<br />

ci<strong>da</strong>dãos e a formas arroja<strong>da</strong>s de descentralização e partilha <strong>do</strong><br />

poder. Medi<strong>da</strong>s que, precisamente, dispensam a rebelião cívica<br />

difusa que tende à conquista <strong>da</strong>s correspondentes prerrogativas.<br />

Saú<strong>do</strong> o espírito prospectivo que as anima. E exorto os arquitectos<br />

<strong>do</strong> futuro a seguirem por aí, libertan<strong>do</strong>-se de fantasmas de pensamento,<br />

de comportamento e de espírito. Sempre sem esquecer,<br />

como decorre, a outra vertente <strong>do</strong>s novos pontos de equilíbrio<br />

político-social: a salvaguar<strong>da</strong> <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de necessária para que a<br />

liber<strong>da</strong>de não corra o risco de matar a liber<strong>da</strong>de. Após Abril, em<br />

plena fase de improvisação jurídico-constitucional, e de experimentalismo<br />

anarco-populista, estivemos à beira de nisso consentir.<br />

Foram tempos terrivelmente difíceis. Que as dificul<strong>da</strong>des então<br />

experimenta<strong>da</strong>s e ultrapassa<strong>da</strong>s sirvam de estágio para enfrentar<br />

as de agora, e sobretu<strong>do</strong> as que, reforça<strong>da</strong>s, nos reserva o futuro.<br />

Tu<strong>do</strong> isto para significar que, para mim, o principal é uma boa<br />

revisão <strong>da</strong> Constituição que, salvaguar<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o essencial <strong>do</strong> mais<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1996<br />

Almei<strong>da</strong> Santos<br />

Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />

449<br />

puro espírito de Abril, o compagine com as exigências indeclináveis<br />

de um Mun<strong>do</strong> novo e diferente como é o de hoje e será<br />

o de amanhã.<br />

Em face disso, tu<strong>do</strong> o mais parece acessório. Mesmo quan<strong>do</strong>, a<br />

outro nível, pode parecer principal. Uma revisão que actualize<br />

Abril — ou seja a Liber<strong>da</strong>de, a Justiça Social, a Democracia e o<br />

Esta<strong>do</strong> de Direito — há-de ter, entre outros méritos, o de salvaguar<strong>da</strong>r<br />

o respeito devi<strong>do</strong> à própria Constituição, antes e depois<br />

de revista. Antes porque ain<strong>da</strong> o não foi. Depois por tê-lo si<strong>do</strong>,<br />

reaproximan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> novo ponto em que se situa a vi<strong>da</strong>.<br />

O que não podemos é dispensar-nos de cumpri-la porque ain<strong>da</strong><br />

não foi revista, na perspectiva de que em determina<strong>do</strong> aspecto<br />

possa vir a sê-lo. Nem deixar de revê-la, onde se justificar que seja<br />

revista, fun<strong>da</strong><strong>do</strong>s no facto de termos, antes <strong>da</strong> revisão, acaba<strong>do</strong> de<br />

cumpri-la.<br />

A vi<strong>da</strong> é movimento. As constituições devem acompanhar a vi<strong>da</strong>.<br />

Mas, enquanto não mu<strong>da</strong>m, tu<strong>do</strong> se há-de passar como se a vi<strong>da</strong><br />

coubesse perfeita dentro delas.<br />

Aplausos <strong>do</strong> PS.<br />

Recordemos, pois, que Abril não foi apenas uma <strong>da</strong>ta mas o ponto<br />

de parti<strong>da</strong> de uma caminha<strong>da</strong>. «Não um rasgo de que se repouse,<br />

mas um despertar de que se não descanse». Que Abril é, não um<br />

dia, mas to<strong>do</strong>s os dias. Mais <strong>do</strong> que uma cronologia, uma vontade.<br />

A vontade de sermos livres num Mun<strong>do</strong> livre.<br />

Aplausos gerais.

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