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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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seu percurso, de maneira conserta<strong>da</strong> por uns, e irresponsável, por<br />

outros, amplia<strong>do</strong> e desvirtua<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> a transformá-la de<br />

instrumento <strong>do</strong> reencontro <strong>do</strong> País consigo mesmo e as suas ver<strong>da</strong>des<br />

profun<strong>da</strong>s na tentativa de destruição <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de nacional<br />

e de sabotagem <strong>do</strong>s seus fun<strong>da</strong>mentos morais e espirituais.<br />

De maneira concerta<strong>da</strong> por aqueles a cuja estratégia interessava a<br />

criação <strong>do</strong> caos que conduziu à dissolução <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e à destruição<br />

sistemática de muitos <strong>do</strong>s entrepostos <strong>da</strong> defesa civil.<br />

De maneira irresponsável por outros, produtos exemplares dessa<br />

ignorância histórica <strong>da</strong> democracia que constitui herança trágica<br />

<strong>do</strong> antigo regime, os quais, no atrevimento <strong>da</strong> sua mediocri<strong>da</strong>de,<br />

pensaram poder utilizar as armas confia<strong>da</strong>s ao Exército pelo<br />

povo, como se de um património pessoal se tratasse.<br />

Importa apontar aqui esses desvios que perverteram a Revolução,<br />

não porque nos anime um qualquer espirito de vingança, que<br />

recusamos, por não acreditarmos que, seja possível construir<br />

qualquer coisa digna e útil sobre uma moral de ressentimento e de<br />

vindicta, mas porque pensamos que a profun<strong>da</strong> angústia que hoje<br />

envolve a socie<strong>da</strong>de portuguesa, que alimenta a amargura <strong>da</strong>s vítimas<br />

<strong>da</strong> descolonização e que perturba as forças arma<strong>da</strong>s nos exige, a<br />

to<strong>do</strong>s, que exorcizemos, quan<strong>do</strong> celebramos <strong>da</strong> Revolução o seu<br />

espírito liberta<strong>do</strong>r, o que nela existiu de frustrante e negativo;<br />

para que, de maneira conscientemente assumi<strong>da</strong>, possamos enterrar<br />

os ódios, esquecer os agravos, curar as feri<strong>da</strong>s.<br />

O Sr. Amaro <strong>da</strong> Costa (CDS): — Muito bem!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — E em torno <strong>do</strong> espírito autêntico <strong>do</strong> 25 <strong>do</strong> Abril, que<br />

é também o <strong>do</strong> 25 de Novembro, congreguemos esforços na salvação<br />

<strong>do</strong> presente e na construção <strong>do</strong> futuro. Um futuro livre,<br />

democrático e justo.<br />

Sr. Presidente, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: A reflexão crítica que é lícito fazer<br />

sobre a Revolução pode ser dura. Muitos a farão certamente com<br />

amargura ou desespero. Simplesmente, e por para<strong>do</strong>xal que isso<br />

possa parecer, tal atitude demonstra objectivamente a vitória <strong>da</strong><br />

Revolução, a vitória <strong>da</strong> primeira e mais importante <strong>da</strong>s suas conquistas,<br />

aquela que, por maiores que tenham si<strong>do</strong> os seus custos e<br />

evitáveis os sofrimentos, bastaria para salvá-la e para que hoje, com<br />

esperança renova<strong>da</strong>, a possamos celebrar. Porque a democratização<br />

e a liber<strong>da</strong>de aí se revelam e exercitam. A liber<strong>da</strong>de e a democracia<br />

que a Revolução nos trouxe e que, se soubermos incorporá-las como<br />

valores <strong>do</strong> nosso quotidiano, se pudermos vivê-las como uma<br />

prática natural e concreta de to<strong>do</strong>s os dias, nos <strong>da</strong>rão o ânimo e a<br />

inspiração para tornarmos reali<strong>da</strong>de as esperanças, ain<strong>da</strong> adia<strong>da</strong>s,<br />

<strong>do</strong> povo português a uma vi<strong>da</strong> mais digna de ser vivi<strong>da</strong>.<br />

Por isso não aceitamos o ponto de vista <strong>da</strong>queles que <strong>da</strong><br />

Revolução apenas sublinham os aspectos negativos, os desvios, as<br />

injustiças. Estamos à vontade para dizê-lo. É legítimo falar em<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1977<br />

Sá Macha<strong>do</strong><br />

CDS<br />

24<br />

conquistas <strong>da</strong> Revolução e é justo recordá-las: a devolução <strong>da</strong><br />

soberania a um povo que de há muito se habituara a ver os seus<br />

destinos decidi<strong>do</strong>s sem participação e sem consulta; a elaboração de<br />

uma Constituição política por representantes legítimos <strong>do</strong> povo e<br />

que traduz o resulta<strong>do</strong> de opções livres e autónomas <strong>do</strong> eleitora<strong>do</strong>,<br />

<strong>da</strong>í retiran<strong>do</strong> a força que a to<strong>do</strong>s obriga; o reconhecimento <strong>do</strong><br />

valor e <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de essenciais <strong>da</strong> pessoa humana e a consagração<br />

<strong>do</strong>s direitos, liber<strong>da</strong>des e garantias que exprimem, salvaguar<strong>da</strong>m<br />

e defendem esse valor e essa digni<strong>da</strong>de; a consagração <strong>do</strong> princípio<br />

<strong>da</strong> subordinação <strong>do</strong> poder económico ao poder político; a eleição<br />

livre de um parlamento pluralista, perante o qual o Governo deve<br />

ser responsável; a escolha, por sufrágio universal e directo, <strong>do</strong><br />

Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, a quem, na pessoa <strong>do</strong> general Ramalho<br />

Eanes, rendemos o preito <strong>da</strong> nossa respeitosa homenagem; a<br />

abertura de profun<strong>da</strong>s perspectivas para a conquista de novas<br />

fronteiras de participação e presença <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res na vi<strong>da</strong><br />

colectiva; a criação de condições para fun<strong>da</strong>s reformas estruturais<br />

<strong>da</strong> nossa socie<strong>da</strong>de; o estabelecimento <strong>da</strong> paz e o reconhecimento<br />

pelo Esta<strong>do</strong> português <strong>do</strong> direito de to<strong>do</strong>s os povos à autodeterminação<br />

e à independência; a abertura de Portugal a to<strong>da</strong>s as<br />

nações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Estas são algumas <strong>da</strong>s conquistas efectivas <strong>da</strong><br />

Revolução. Esquecê-las ou silenciá-las seria grave injustiça para<br />

aqueles que, de boa fé e generosamente fizeram o 25 de Abril.<br />

Constituem elas um património transcendente, que nem os desencontros,<br />

os erros ou as injustiças que ocorreram durante a<br />

Revolução devem obliterar ou diminuir.<br />

Porque é falso dizer que em democracia o preço natural <strong>da</strong>s liber<strong>da</strong>des<br />

é a desordem, a criminali<strong>da</strong>de e a insegurança <strong>do</strong>s<br />

ci<strong>da</strong>dãos.<br />

O Sr. Amaro <strong>da</strong> Costa (CDS): — Muito bem!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — Porque é falso considerar-se a democracia responsável<br />

pela destruição <strong>da</strong>s empresas, pelo descalabro <strong>do</strong> sector<br />

nacionaliza<strong>do</strong> <strong>da</strong> economia, pelas deficiências <strong>do</strong> sistema de<br />

saúde, pela alta <strong>do</strong>s preços, pela lentidão com que são encara<strong>do</strong>s<br />

os problemas <strong>do</strong>s desaloja<strong>do</strong>s, pelo aumento <strong>do</strong> desemprego, pela<br />

que<strong>da</strong> <strong>do</strong> investimento, pelo progressivo endivi<strong>da</strong>mento externo,<br />

numa palavra, pelas incertezas, as injustiças e as incapaci<strong>da</strong>des<br />

que continuam a projectar-se sobre a nossa vi<strong>da</strong> colectiva.<br />

Uma voz <strong>do</strong> CDS: — Muito bem!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — Na<strong>da</strong> disso é culpa <strong>da</strong> democracia. Na<strong>da</strong> disso é<br />

culpa <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de. Na<strong>da</strong> disso resulta <strong>do</strong> respeito que queremos ver<br />

definitivamente estabeleci<strong>do</strong> pelos direitos <strong>do</strong> homem no nosso país.<br />

Neste 3º aniversário <strong>do</strong> 25 de Abril é necessário e urgente que os<br />

nossos compatriotas compreen<strong>da</strong>m, sem excepção, que não é com

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