conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
avultam alguns <strong>do</strong>s grupos que foram o sustentáculo <strong>do</strong> regime<br />
fascista e, simultaneamente, abrin<strong>do</strong> o progressivo <strong>do</strong>mínio de<br />
importantes sectores <strong>da</strong> economia portuguesa a empresas<br />
estrangeiras e multinacionais.<br />
De igual mo<strong>do</strong>, não faz parte <strong>do</strong>s desígnios nacionais a aceitação<br />
<strong>da</strong> imposição a Portugal pela União Europeia de acor<strong>do</strong>s comerciais<br />
com terceiros países que conduzem ao enfraquecimento<br />
impie<strong>do</strong>so de um sector industrial tão importante para o nosso<br />
País como o conserveiro e, simultaneamente, ao enfraquecimento<br />
<strong>do</strong> sector pesqueiro que serve essa indústria.<br />
Os portugueses <strong>do</strong> Portugal de Abril não podem aceitar de braços<br />
cruza<strong>do</strong>s a quebra de um compromisso como o <strong>da</strong> fixação <strong>do</strong><br />
horário máximo <strong>da</strong>s 40 horas, histórica aspiração <strong>do</strong> movimento<br />
sindical e <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res portugueses, hoje a ser frustra<strong>da</strong> por<br />
um capcioso manobrismo na aplicação <strong>da</strong> lei pelas autori<strong>da</strong>des <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> e pela aceitação de uma espécie de diktat neocorporativo<br />
feito por um patronato retrógra<strong>do</strong> e por quem se mol<strong>da</strong> aos seus<br />
interesses. Desta tribuna aproveito para sau<strong>da</strong>r os trabalha<strong>do</strong>res<br />
que há 20 semanas consecutivas lutam pelas 40 horas, usan<strong>do</strong> os<br />
direitos que Abril consagrou!<br />
Os portugueses não entendem também que um projecto nacional<br />
como o <strong>da</strong> regionalização, cujo edifício legislativo devia estar agora<br />
em conclusão, ten<strong>do</strong> em vista as eleições <strong>do</strong>s órgãos respectivos já<br />
na <strong>da</strong>ta <strong>da</strong>s próximas eleições municipais, tenha si<strong>do</strong> mais uma<br />
vez adia<strong>do</strong> e meti<strong>do</strong> numa monumental embrulha<strong>da</strong> cheia de<br />
alçapões que o podem comprometer.<br />
De igual mo<strong>do</strong>, também os jovens não podem aceitar que, perante<br />
um quadro de degra<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> sistema de ensino e de crescentes<br />
dificul<strong>da</strong>des no acesso ao posto de trabalho, que só conseguem em<br />
inaceitáveis condições de precarie<strong>da</strong>de, em vez de se travar com eles<br />
a batalha pela educação e pelo emprego, se afunile to<strong>da</strong> a política<br />
para a juventude na aplicação <strong>da</strong>s injustas e inaceitáveis propinas.<br />
Não é desígnio nacional que se compatibilize com os ideais de<br />
progresso e independência nacional <strong>do</strong> 25 de Abril sujeitar o<br />
desenvolvimento <strong>do</strong> País e o bem-estar <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos aos ditames<br />
espartilhantes <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> de Maastricht e a uma moe<strong>da</strong> única que<br />
não só vai retirar a Portugal instrumentos decisivos de política<br />
económica como vai subordinar o País às orientações e interesses<br />
<strong>do</strong>s poderosos países <strong>do</strong> centro <strong>da</strong> Europa.<br />
Por que querem a to<strong>do</strong> o custo impedir que o País discuta com<br />
profundi<strong>da</strong>de esta opção decisiva para o seu futuro? Por que<br />
impedem o debate aprofun<strong>da</strong><strong>do</strong> e a decisão soberana que só o<br />
referen<strong>do</strong> sobre a moe<strong>da</strong> única podem propiciar? A resposta é<br />
simples: porque sabem que o debate iria provar que a moe<strong>da</strong><br />
única é uma opção contra o desenvolvimento <strong>do</strong> País, contra os<br />
interesses <strong>do</strong> nosso povo e contra a independência e soberania<br />
nacionais. Porque o debate iria provar que a moe<strong>da</strong> única pode<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1997<br />
João Amaral<br />
PCP<br />
462<br />
ser um desígnio <strong>do</strong>s grandes grupos transnacionais e <strong>do</strong>s países<br />
poderosos, mas não é, a título algum, um desígnio nacional.<br />
Como o não é desfazer de supetão a ligação profun<strong>da</strong> que com o<br />
serviço militar unia o povo português e as suas Forças Arma<strong>da</strong>s<br />
na defesa militar <strong>da</strong> <strong>República</strong>.<br />
Como não o é fazer acor<strong>do</strong>s partidários para descaracterizar a<br />
Constituição <strong>da</strong> <strong>República</strong>, em princípios tão essenciais como o <strong>da</strong><br />
uni<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e o <strong>da</strong> representação proporcional na constituição<br />
<strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong> e <strong>do</strong>s órgãos de poder local.<br />
Vozes <strong>do</strong> PCP: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — É por tu<strong>do</strong> isto que esta comemoração <strong>do</strong> 25 de<br />
Abril não é nem pode ser a jorna<strong>da</strong> <strong>do</strong> conformismo. Não vamos,<br />
nem vão os portugueses que hoje comemoram o 25 de Abril, ficar<br />
a carpir o que não foi feito e as promessas não cumpri<strong>da</strong>s, nem<br />
vamos ficar amarra<strong>do</strong>s à tristeza profun<strong>da</strong> pelo que já foi destruí<strong>do</strong>.<br />
O exemplo <strong>do</strong> 25 de Abril é o de espírito anticonformista, de<br />
rebeldia e de responsabili<strong>da</strong>de. Estamos aqui, PCP, a proclamar<br />
que vamos continuar a luta pelos ideais de democracia, progresso,<br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e independência nacional <strong>do</strong> 25 de Abril.<br />
Estamos aqui a formular propostas: uma nova política de desenvolvimento,<br />
sem espartilhos; a promoção <strong>do</strong>s direitos de quem<br />
trabalha; a regionalização; políticas de ensino, saúde, segurança<br />
social e habitação, em que o Esta<strong>do</strong> assuma as suas responsabili<strong>da</strong>des;<br />
<strong>da</strong>r à juventude as oportuni<strong>da</strong>des e as garantias que o<br />
nosso futuro colectivo reclama; proteger a terceira i<strong>da</strong>de, com a<br />
digni<strong>da</strong>de que ela merece; defender a independência nacional.<br />
Estamos aqui, em suma, a dignificar a política, pon<strong>do</strong>-a onde<br />
deve estar, ou seja, ao serviço <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos.<br />
Não somos <strong>do</strong>s que viram nos acontecimentos <strong>da</strong> última déca<strong>da</strong> a<br />
vitória sem retorno <strong>do</strong> capitalismo selvagem e <strong>da</strong>s injustiças, nem<br />
somos <strong>do</strong>s que interpretam a mundialização <strong>da</strong>s economias como<br />
o decretar <strong>da</strong> desregulamentação neoliberal e <strong>da</strong> liqui<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s<br />
conquistas <strong>do</strong> movimento <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />
Por nossa parte, mantemos viva to<strong>da</strong> a esperança que o 25 de<br />
Abril trouxe a Portugal.<br />
Apelamos a to<strong>do</strong>s, homens e mulheres que connosco mantêm viva<br />
essa esperança, para que se afirme uma clara rejeição <strong>da</strong> resignação,<br />
uma renova<strong>da</strong> vontade de intervenção e uma firme determinação<br />
de fazer ouvir a sua voz. Afirmamos com clareza: é preciso uma<br />
viragem à esquer<strong>da</strong>, uma viragem para o la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s ideais <strong>da</strong><br />
Revolução que hoje comemoramos.<br />
Viva o 25 de Abril.<br />
Aplausos <strong>do</strong> PCP e de Os Verdes.