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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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O ímpeto revolucionário <strong>do</strong> Movimento <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s fez<br />

destruir as muralhas <strong>da</strong> prisão que era Portugal. Abriu as portas<br />

<strong>do</strong>s cárceres aos opositores <strong>do</strong> regime, permitiu a inapreciável<br />

conquista <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de política, <strong>da</strong>s liber<strong>da</strong>des democráticas<br />

essenciais.<br />

E se mais não houvera, só por isso, os au<strong>da</strong>zes capitães de Abril<br />

são merece<strong>do</strong>res <strong>da</strong> admiração, <strong>do</strong> respeito, <strong>da</strong> gratidão ilimita<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong>s seus compatriotas.<br />

Aplausos <strong>do</strong> PCP, <strong>do</strong> MDP/CDE e <strong>do</strong> Sr. Deputa<strong>do</strong> Independente<br />

António Gonzalez.<br />

A Revolução de Abril não podia limitar-se — e não se limitou de<br />

facto — a subtituir um governo e um regime (ain<strong>da</strong> que fascistas)<br />

por outro governo e outro regime (ain<strong>da</strong> que democráticos).<br />

A experiência <strong>do</strong>s primeiros meses encarregou-se de demonstrar<br />

a insuficiência destas metas.<br />

É que o 25 de Abril acabou com o regime fascista, mas, compreensivelmente,<br />

não extirpou o fascismo em Portugal; extinguiu<br />

o regime de exploração colonial, mas não dissipou os sonhos<br />

revivalistas <strong>do</strong> colonialismo português.<br />

Logo no dia seguinte <strong>da</strong> vitória tornou-se claro que as forças<br />

desapossa<strong>da</strong>s <strong>do</strong> poder político — mas não <strong>do</strong> poder económico,<br />

que manejaram de imediato contra as novas reali<strong>da</strong>des saí<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

Revolução — não se conformariam com a derrota, iriam lançar-se,<br />

na via <strong>da</strong> restauração subversiva <strong>da</strong>s antigas posições.<br />

A defesa a to<strong>do</strong> o custo <strong>da</strong>s conquistas alcança<strong>da</strong>s tornou-se uma<br />

questão vital para a democracia portuguesa.<br />

Desde logo se tornou claro que o programa de democratização <strong>do</strong><br />

País não poderia avançar na realização plena <strong>do</strong>s seus grandes<br />

objectivos sem alterações profun<strong>da</strong>s no nosso ordenamento político,<br />

económico e social.<br />

É nossa convicção que a nacionalização <strong>do</strong>s sectores básicos <strong>da</strong><br />

economia abriu possibili<strong>da</strong>des novas e excepcionais de desenvolver,<br />

na linha <strong>do</strong>s interesses exclusivos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de nacional, as<br />

activi<strong>da</strong>des económicas principais <strong>do</strong> País, assim como a Reforma<br />

Agrária — nova e promissora forma de exploração agrícola surgi<strong>da</strong><br />

nas zonas <strong>do</strong> latifúndio — abriu possibili<strong>da</strong>des insuspeita<strong>da</strong>s de<br />

incremento <strong>da</strong> nossa produção agro-pecuária, com a resolução, no<br />

plano social, <strong>do</strong> agu<strong>do</strong> problema <strong>da</strong> fome e <strong>do</strong> desemprego nos<br />

vastos campos <strong>do</strong> Alentejo e <strong>do</strong> Ribatejo.<br />

Leis como as <strong>do</strong> arren<strong>da</strong>mento rural, <strong>do</strong>s baldios, <strong>da</strong> extinção <strong>do</strong>s<br />

foros e colónias, <strong>da</strong> extinção <strong>da</strong>s couta<strong>da</strong>s, completaram um<br />

quadro jurídico que poderia, com o apoio atento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

democrático, garantir a elevação <strong>do</strong> teor de vi<strong>da</strong> nos campos e a<br />

repartição mais justa <strong>do</strong> produto <strong>da</strong> terra.<br />

Para os trabalha<strong>do</strong>res, reformas sociais correspondentes a aspirações<br />

profun<strong>da</strong>s, afirma<strong>da</strong>s em anos de dura luta, o processo <strong>da</strong><br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1984<br />

Dias Lourenço<br />

PCP<br />

234<br />

Revolução de Abril trouxe direitos e liber<strong>da</strong>des que são hoje um<br />

património inalienável <strong>da</strong>s classes trabalha<strong>do</strong>ras.<br />

A institucionalização destas profun<strong>da</strong>s reformas políticas,<br />

económicas e sociais foi um passo de importância decisiva no<br />

desenvolvimento e consoli<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> nosso processo democrático.<br />

A promulgação <strong>da</strong> Constituição <strong>da</strong> <strong>República</strong>, em 1976, coroou<br />

o edifício de um Esta<strong>do</strong> democrático, onde se combinam a<br />

democracia política, económica, social e cultural, por isso<br />

mesmo susceptível de garantir aos Portugueses um futuro<br />

promissor e livre.<br />

Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>República</strong>, Srs. Deputa<strong>do</strong>s, Minhas Senhoras e Meus Senhores:<br />

Referi no início motivos de preocupação no momento actual.<br />

O povo português vê com apreensão o recrudescimento <strong>do</strong>s<br />

ataques <strong>da</strong>s velhas forças <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, acoberta<strong>da</strong>s sob novas<br />

capas, vê como levantam cabeça e como nos horizontes <strong>da</strong> nossa<br />

Pátria se perfilam de novo ameaças que representam um perigo<br />

para o 25 de Abril.<br />

Quan<strong>do</strong> ouvimos empregar palavras como «desmantelar», para<br />

significar a destruição de muito <strong>do</strong> que mais significativo Abril<br />

criou, quan<strong>do</strong> vemos dirigentes sindicais prestigia<strong>do</strong>s serem meti<strong>do</strong>s<br />

em enxovias só por pretenderem dialogar com o poder; quan<strong>do</strong><br />

assistimos a violentas cargas policiais contra pacíficos trabalha<strong>do</strong>res<br />

sem justificação em quaisquer violações <strong>da</strong> legali<strong>da</strong>de<br />

democrática ou alterações <strong>da</strong> ordem pública; quan<strong>do</strong> vemos<br />

renascer instrumentos repressivos que pensávamos enterra<strong>do</strong>s<br />

para sempre; quan<strong>do</strong> vemos proliferar a corrupção e o nepotismo;<br />

quan<strong>do</strong> verificamos novas manifestações concretas de desestabilização<br />

institucional; quan<strong>do</strong> observamos que se aprofun<strong>da</strong>m e<br />

agravam as desigual<strong>da</strong>des e injustiças sociais — como a <strong>do</strong>s salários<br />

em atraso —, quan<strong>do</strong> vemos de novo a fome e a miséria de braço<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong> com o desemprego invadirem os lares <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res;<br />

quan<strong>do</strong> ouvimos, vemos e observamos tu<strong>do</strong> isto não podemos<br />

deixar de ser toma<strong>do</strong>s por sentimentos <strong>da</strong> maior preocupação.<br />

Referimos ain<strong>da</strong> motivos de reflexão. De facto, em nosso entender<br />

é imperioso reflectir, mas para agir.<br />

Na hora actual a uni<strong>da</strong>de de to<strong>do</strong>s os democratas, de to<strong>do</strong>s os patriotas<br />

e antifascistas é um imperativo categórico. Nunca foi tão<br />

necessário secun<strong>da</strong>rizar o que nos divide e privilegiar o que nos une!<br />

Não somos sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s de uma causa venci<strong>da</strong>!<br />

Para a imensa maioria <strong>do</strong>s portugueses, que há 10 anos vibraram<br />

com o renascer <strong>da</strong> democracia e <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, há poderosos<br />

motivos de confiança.<br />

Confiança na força, na vontade in<strong>do</strong>mável <strong>do</strong> nosso povo, na<br />

determinação <strong>do</strong> movimento operário, popular e democrático.<br />

Confiança nos destinos de Abril. Estamos aqui a comemorar<br />

solenemente o 10.º aniversário <strong>do</strong> Dia <strong>da</strong> Liber<strong>da</strong>de. Isso dignifica<br />

este Órgão de Soberania.

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