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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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desacertos inevitáveis de uma tão complexa caminha<strong>da</strong>. Basta<br />

percorrer Portugal de lés a lés, com olhos abertos, para<br />

compreender até que ponto a face <strong>do</strong> País se transformou profun<strong>da</strong>mente<br />

com o 25 de Abril, e para melhor.<br />

Sr. Presidente, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: Vivemos, hoje, um tempo de<br />

renova<strong>da</strong>s esperanças e de estimulantes apostas. Temos razões para<br />

confiar no futuro. Contu<strong>do</strong>, a democracia, que nos rasgou os horizontes,<br />

é um regime de transparência e de ver<strong>da</strong>de. Não devemos,<br />

por isso mesmo ignorar a outra face <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de nem escamotear<br />

os problemas concretos que continuam a preocupar-nos e que precisamos<br />

de saber enfrentar e resolver, com urgência e determinação.<br />

É ver<strong>da</strong>de que subsistem, em Portugal — como to<strong>do</strong>s os responsáveis<br />

políticos reconhecem — enormes desigual<strong>da</strong>des e ain<strong>da</strong><br />

significativas manchas de pobreza. É essencial, portanto, que nos<br />

punhamos de acor<strong>do</strong> quanto a um projecto nacional para erradicar,<br />

em prazo razoável, umas e outras.<br />

Aplausos gerais.<br />

É ver<strong>da</strong>de que, tal como em muitas outras zonas <strong>do</strong> globo,<br />

conhecemos as ameaças de um desenvolvimento urbano e industrial<br />

não controla<strong>do</strong>, <strong>da</strong> perigosa degra<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> meio ambiente<br />

em que vivemos nas grandes ci<strong>da</strong>des e <strong>da</strong> exploração, por vezes<br />

irracional, de alguns <strong>do</strong>s nossos recursos vitais. Uma estratégia<br />

nacional de desenvolvimento — como tantas vezes tenho referi<strong>do</strong><br />

— deve levar em conta as exigências ecológicas e ser inspira<strong>da</strong> por<br />

uma preocupação clara de justiça social.<br />

É ver<strong>da</strong>de, também, que a economia portuguesa sofre ain<strong>da</strong> de<br />

uma grande vulnerabili<strong>da</strong>de estrutural, longe de estar venci<strong>da</strong>, e<br />

que pode pôr em causa o êxito <strong>da</strong> nossa plena integração no<br />

processo de internacionalização em curso, a nível europeu e a<br />

nível mundial. Ain<strong>da</strong> há poucos anos tivemos de impor pesa<strong>do</strong>s<br />

sacrifícios para corrigir desequilíbrios económicos insustentáveis.<br />

Será agora, nos próximos anos, que o desafio essencial <strong>da</strong> modernização<br />

económica terá de ser ganho. Importa, por isso,<br />

por-mo-nos de acor<strong>do</strong> — agentes económicos e Esta<strong>do</strong> — por<br />

forma a defender <strong>da</strong> melhor maneira os interesses portugueses,<br />

contribuin<strong>do</strong> nomea<strong>da</strong>mente para a formação de grupos<br />

económicos nacionais, sóli<strong>do</strong>s e competitivos.<br />

É ver<strong>da</strong>de, finalmente, que ain<strong>da</strong> não conseguimos vencer, apesar<br />

<strong>do</strong>s esforços desenvolvi<strong>do</strong>s, a decisiva batalha <strong>da</strong> educação, <strong>da</strong><br />

investigação científica e <strong>da</strong> cultura, lato sensu, que constitui, em<br />

to<strong>da</strong>s as socie<strong>da</strong>des democráticas modernas, o caminho privilegia<strong>do</strong><br />

de acesso à liber<strong>da</strong>de, à emancipação e à autonomia <strong>do</strong>s<br />

indivíduos e <strong>do</strong>s povos.<br />

A constatação realista de tais factos — ou de outros, menos<br />

agradáveis — não deve, porém, desencorajar-nos nem justificar<br />

atitudes de descrença, de resignação ou de pessimismo.<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1989<br />

Mário Soares<br />

Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />

352<br />

Temos hoje, em Portugal, condições, capaci<strong>da</strong>des e recursos para<br />

vencer os desafios <strong>do</strong> progresso e <strong>do</strong> desenvolvimento. A quali<strong>da</strong>de<br />

humana <strong>do</strong>s portugueses é, reconheci<strong>da</strong>mente, excelente.<br />

Somos uma Nação livre e responsável, um Esta<strong>do</strong> de Direito,<br />

<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de instituições democráticas que, quan<strong>do</strong> postas à prova,<br />

têm funciona<strong>do</strong>. A democracia é uma construção permanente e o<br />

poder político democrático é sempre, por definição, limita<strong>do</strong>.<br />

Temos, por isso, com sereni<strong>da</strong>de, de saber confiar em nós<br />

próprios e no futuro <strong>da</strong> nossa Pátria, de cuja vocação e destino<br />

nos devemos sentir orgulhosos.<br />

Para tanto, precisamos de aprofun<strong>da</strong>r a nossa vivência democrática<br />

— designa<strong>da</strong>mente através <strong>da</strong> defesa de uma comunicação social<br />

livre e responsável — e de enraizar...<br />

Aplausos gerais.<br />

... na socie<strong>da</strong>de portuguesa uma cultura de diálogo, de tolerância<br />

e de concertação, que amplie e consolide, com a flexibili<strong>da</strong>de<br />

necessária, as áreas de consenso, sempre que esteja em causa a<br />

prossecução e realização de grandes objectivos nacionais.<br />

Aplausos gerais.<br />

Assim, importa incentivar e aperfeiçoar, por to<strong>do</strong>s os meios, as<br />

condições que assegurem uma participação crescente e alarga<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos na vi<strong>da</strong> política, social e cultural, tornan<strong>do</strong>-os ca<strong>da</strong><br />

vez mais conscientes <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de exercerem um controlo<br />

democrático efectivo sobre as grandes transformações que se<br />

estão a operar, em to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>mínios <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> colectiva, à escala<br />

nacional e à escala europeia.<br />

Temos de saber retirar os maiores benefícios — e evitar, quanto possível,<br />

os aspectos negativos, que são previsíveis — <strong>do</strong> grande movimento<br />

internacional em que estamos activamente a participar no<br />

quadro <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de Europeia. Reside aqui um desafio imenso<br />

em relação ao qual é urgente consciencializar os portugueses.<br />

Sr. Presidente, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: Liber<strong>da</strong>de, igual<strong>da</strong>de, segurança,<br />

prosperi<strong>da</strong>de, concórdia nacional e bem-estar, são princípios e<br />

objectivos que só poderemos salvaguar<strong>da</strong>r e alcançar no quadro<br />

de uma democracia desenvolvi<strong>da</strong> — política, económica, social e<br />

cultural — na qual to<strong>do</strong>s se sintam ci<strong>da</strong>dãos, sujeitos e<br />

participantes, não apenas no plano nacional, consoli<strong>da</strong>n<strong>do</strong> os<br />

alicerces <strong>da</strong> <strong>República</strong> moderna em que Portugal tem por meta<br />

transformar-se, mas também à escala internacional, contribuin<strong>do</strong><br />

activa e empenha<strong>da</strong>mente para a construção <strong>da</strong> Europa<br />

Comunitária que se prepara para a grande viragem de 1993, com<br />

a aplicação efectiva <strong>do</strong> Acto Único Europeu.<br />

É uma meta que tem de ser atingi<strong>da</strong> com pleno êxito e para a qual<br />

temos, diante de nós, um curto prazo de preparação. Não devemos,

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