conteúdo integral do livro - Assembleia da República
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O Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>República</strong> Oliveira Dias:<br />
— Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Exmos<br />
Convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s, Sr. Primeiro-Ministro e Srs. Ministros, Srs.<br />
Deputa<strong>do</strong>s: Desde há 8 anos que o 25 de Abril é dia grande em<br />
Portugal. É o Dia <strong>da</strong> Liber<strong>da</strong>de; é o dia <strong>da</strong> alegria <strong>da</strong> libertação<br />
que se exprimiu e se exprime por to<strong>da</strong> a parte e que, nesta<br />
Câmara, se assume e manifesta também, até porque vai mal um<br />
povo em que a alegria se afaste <strong>do</strong> pensamento, <strong>do</strong> sentir e <strong>do</strong> falar<br />
<strong>do</strong>s políticos e <strong>da</strong>s assembleias políticas. Na ver<strong>da</strong>de, é essa alegria<br />
de ser livre e de viver em liber<strong>da</strong>de que, em primeiro lugar, nos<br />
reúne aqui. E com ela são também motivos directos desta sessão<br />
festiva sentimentos de homenagem e de agradecimento.<br />
Agradecimento e homenagem que englobam naturalmente tu<strong>do</strong> e<br />
to<strong>do</strong>s quantos contribuíram para essa libertação que vivemos há<br />
oito anos. Agradecimento e homenagem que se dirigem, em<br />
primeiro lugar, àqueles que, de alma limpa, nesse dia ousaram<br />
jogar o seu destino pela liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Pátria e de to<strong>do</strong>s os<br />
Portugueses — e que souberam vencer.<br />
Aplausos <strong>do</strong> PSD, <strong>do</strong> CDS, <strong>do</strong> PPM e <strong>da</strong> ASDI.<br />
Mas homenagem e agradecimento também a to<strong>do</strong>s quantos, ao<br />
longo destes oito anos e sobretu<strong>do</strong> nos meses e nos dias decisivos<br />
de 1975, pelo meio <strong>do</strong>s enganos, <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des e <strong>da</strong>s ameaças,<br />
foi na liber<strong>da</strong>de de to<strong>do</strong> o povo que apostaram, que se empenharam<br />
e que, também eles, souberam vencer.<br />
Aplausos <strong>do</strong> PSD e <strong>do</strong> Deputa<strong>do</strong> Jorge Miran<strong>da</strong>, <strong>da</strong> ASDI.<br />
De facto, a seguir ao primeiro triunfo <strong>do</strong>s militares, foram civis e<br />
militares que fizeram vencer a liber<strong>da</strong>de, corresponden<strong>do</strong>, ca<strong>da</strong><br />
qual à sua maneira própria, à afirmação mais profun<strong>da</strong>mente<br />
significativa <strong>do</strong> programa <strong>do</strong> movimento — aquela em que os<br />
militares se recusaram a tornar-se <strong>do</strong>nos ou tutores <strong>do</strong> Poder que<br />
pelas armas assumiam, para se limitarem, nobremente, a tomá-lo<br />
aos que de facto o detinham, para o devolverem ao povo, a fim de<br />
que o povo pudesse passar a escolher livremente, como sempre<br />
foi e é seu direito, os seus caminhos e os seus objectivos, segun<strong>do</strong><br />
a vontade <strong>da</strong> maioria, no respeito por to<strong>do</strong>s, na plurali<strong>da</strong>de<br />
natural, legítima e desejável <strong>da</strong>s propostas, segun<strong>do</strong> os méto<strong>do</strong>s<br />
correctos <strong>da</strong> sua afirmação e apuramento num regime democrático,<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1982<br />
Oliveira Dias<br />
Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />
211<br />
e aceitan<strong>do</strong> com naturali<strong>da</strong>de e sem rancores o resulta<strong>do</strong> de<br />
sucessivas eleições. Com a liber<strong>da</strong>de, foi a revolução de Abril de<br />
1974 que tornou possível a democracia representativa em<br />
Portugal e foi em 25 de Abril de 1975 que se realizaram as<br />
primeiras eleições livres em Portugal, depois de 50 anos em que<br />
elas estiveram suprimi<strong>da</strong>s.<br />
Estamos aqui porque houve muitos que, antes <strong>do</strong> dia 25 de Abril<br />
de 1974, nesse dia, e desde então para cá, pela liber<strong>da</strong>de e pela<br />
democracia se bateram, como militares quan<strong>do</strong> foi preciso, como<br />
civis e como ci<strong>da</strong>dãos, no dia-a-dia de uma esperança que não<br />
morreu, mesmo perante fracturas muito fun<strong>da</strong>s entre portugueses e<br />
ameaças à sua própria identi<strong>da</strong>de colectiva. Estamos aqui porque<br />
houve muitos que por amor à liber<strong>da</strong>de — à liber<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s outros<br />
que a sua própria, pessoal, bem entendi<strong>da</strong>, começa por reclamar-se<br />
dispuseram a lutar, a sofrer e a morrer. Porque houve muitos que<br />
sofreram; porque houve bastantes que morreram.<br />
Aplausos <strong>do</strong> PSD, <strong>do</strong> PS, <strong>do</strong> CDS, <strong>do</strong> PPM, <strong>da</strong> ASDI e <strong>da</strong> UEDS.<br />
Na alegria de nos afirmarmos ci<strong>da</strong>dãos livres de uma pátria livre,<br />
homenagem, pois, a to<strong>do</strong>s, militares e civis, que tornaram possível<br />
a liber<strong>da</strong>de em Portugal. Honra e glória aos que sofreram e aos<br />
que morreram.<br />
Aos que estamos livres, a to<strong>do</strong>s os portugueses que somos livres,<br />
para além <strong>da</strong> alegria e <strong>da</strong> esperança, a responsabili<strong>da</strong>de de termos<br />
nas nossas mãos, o destino <strong>da</strong> Pátria e <strong>do</strong> povo, uma parcela<br />
importante <strong>do</strong> destino <strong>da</strong> Europa e <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> — multiplican<strong>do</strong><br />
pelos milhões que somos, to<strong>da</strong> a imensa responsabili<strong>da</strong>de que a<br />
vi<strong>da</strong> de um só homem representa. A responsabili<strong>da</strong>de de confirmar<br />
a liber<strong>da</strong>de como expressão maior <strong>do</strong> sistema democrático,<br />
através <strong>do</strong> qual, além <strong>da</strong> sua permanente garantia para to<strong>do</strong>s, se<br />
assegura a justiça e não a discriminação, o progresso e não a<br />
estagnação ou os complexos de inferiori<strong>da</strong>de, a paz e não a conflituali<strong>da</strong>de<br />
e os antagonismos, como sistema, ou como objectivo.<br />
É que não basta florir as ruas, as salas, ou mesmo os sentimentos,<br />
não basta agradecer a quem é devi<strong>da</strong> gratidão, para corresponder à<br />
<strong>da</strong>ta que hoje celebramos. Sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> a comemoramos aqui,<br />
nesta <strong>Assembleia</strong>, com a honrosa presença <strong>do</strong> Sr. Presidente <strong>da</strong><br />
<strong>República</strong>, ele e também nós, deputa<strong>do</strong>s, eleitos para as responsabili<strong>da</strong>des<br />
específicas de um e de outro <strong>do</strong>s órgãos de soberania, e<br />
ten<strong>do</strong> presente o Governo, não basta festejar a liber<strong>da</strong>de, não basta<br />
homenagear quantos contribuíram para a libertação, não basta a<br />
esperança vaga <strong>do</strong>s idealistas ou <strong>do</strong>s sonha<strong>do</strong>res.<br />
O 25 de Abril tem de ser um dia em que se sentem e se afirmam<br />
responsabili<strong>da</strong>des muito profun<strong>da</strong>s, e em que sobre elas é obrigatório<br />
reflectir.<br />
Ao contrário <strong>do</strong> que parece nos dias mais decisivos ou quan<strong>do</strong><br />
eles se evocam, a liber<strong>da</strong>de e o regime democrático não se