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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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O Sr. Presidente: — Pelo Grupo Parlamentar<br />

<strong>do</strong> PCP, tem a palavra o Sr. Deputa<strong>do</strong><br />

Veiga de Oliveira.<br />

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): — Sr. Presidente<br />

<strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>,<br />

Srs. Conselheiros <strong>da</strong> Revolução, Sr. Primeiro-Ministro e Membros<br />

<strong>do</strong> Governo, Sr. Presidente <strong>do</strong> Supremo Tribunal de Justiça, Srs.<br />

Deputa<strong>do</strong>s, Senhoras e Senhores: Em 25 de Abril de 1974, faz<br />

hoje precisamente 8 anos, o movimento <strong>do</strong>s capitães desencadeou<br />

um levantamento militar que havia de culminar, triunfante, com<br />

o derrubamento <strong>da</strong> ditadura, a instauração <strong>da</strong> democracia e, em<br />

convergência, historicamente rara, com os movimentos de libertação<br />

<strong>do</strong>s povos <strong>da</strong>s colónias, levaria à liqui<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio<br />

colonial português, ao restabelecimento <strong>da</strong> paz e à independência<br />

nacional.<br />

O levantamento popular que imediatamente se seguiu e se fundiu<br />

com o militar, o apoio, a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e a participação forte e<br />

entusiástica manifesta<strong>do</strong>s em to<strong>do</strong> o País, desde a primeira hora,<br />

pelos trabalha<strong>do</strong>res, pelas cama<strong>da</strong>s laboriosas <strong>da</strong> população, por<br />

to<strong>do</strong>s os democratas, homens e mulheres, velhos e jovens, garantiram<br />

não só o triunfo e a rápi<strong>da</strong> liqui<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> resistência fascista<br />

como permitiram evitar o derramamento de sangue e transformar<br />

o movimento revolucionário de Abril na revolução <strong>do</strong>s Cravos,<br />

imprimin<strong>do</strong> ao regime democrático as suas marcantes originali<strong>da</strong>des,<br />

o seu carácter de profun<strong>da</strong> justiça social, popular e<br />

patriótico.<br />

Vozes <strong>do</strong> PCP: — Muito bem!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — Oito anos vão passa<strong>do</strong>s sobre o esplen<strong>do</strong>roso amanhecer<br />

<strong>do</strong> 25 de Abril.<br />

Nessa jorna<strong>da</strong> memorável, maior entre as maiores <strong>da</strong> nossa história<br />

pátria, ombro com ombro com os militares, o povo subiu nas ruas,<br />

o povo encheu as praças, manifestan<strong>do</strong>, de forma nunca antes<br />

alcança<strong>da</strong>, a sua uni<strong>da</strong>de, o seu querer colectivo, a sua vontade de<br />

triunfar <strong>da</strong> opressão, de vencer para sempre a ditadura e o obscurantismo,<br />

de instaurar definitivamente a democracia em Portugal.<br />

Vozes <strong>do</strong> PCP: — Muito bem!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — Hoje, 8 anos passa<strong>do</strong>s, importa reconsiderarmos os<br />

caminhos desde então percorri<strong>do</strong>s, importa discernir entre<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1982<br />

Veiga de Oliveira<br />

PCP<br />

195<br />

vitórias e derrotas, entre acertos e desacertos, entre progresso e<br />

regresso. Reconsiderar, não com olhar crítico e frio <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r,<br />

que o distanciamento é demasia<strong>do</strong> curto, menos ain<strong>da</strong>, a título de<br />

balanço ou inventário para liqui<strong>da</strong>ção por sal<strong>do</strong>, mas antes para<br />

<strong>da</strong>rmos re<strong>do</strong>bra<strong>do</strong> vigor e capaci<strong>da</strong>de à nossa luta, cujo objectivo<br />

central continua a ser a defesa e a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> democracia<br />

portuguesa, nasci<strong>da</strong> há precisamente 8 anos.<br />

Aplausos <strong>do</strong> PCP, <strong>do</strong> MDP/CDE e de alguns Deputa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> PS.<br />

As forças <strong>da</strong> direita, <strong>do</strong> regresso, <strong>da</strong> recuperação e <strong>da</strong> restauração<br />

prosseguem, desde há 8 anos, a sua ofensiva generaliza<strong>da</strong> contra<br />

as grandes transformações económicas, sociais e políticas alcança<strong>da</strong>s<br />

pelo povo português com o 25 de Abril.<br />

Durante os últimos anos assistimos à intensificação <strong>da</strong> exploração<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e, em geral, à degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong>s classes e cama<strong>da</strong>s laboriosas, com o aumento <strong>do</strong> desemprego,<br />

a diminuição <strong>do</strong>s salários reais, o aumento <strong>do</strong> custo de vi<strong>da</strong> e <strong>do</strong>s<br />

produtos essenciais, <strong>do</strong>s quais o recente aumento <strong>do</strong> pão é exemplo<br />

marcante, o agravamento dramático <strong>da</strong>s carências habitacionais,<br />

a insuficiência e o encarecimento <strong>do</strong>s serviços de saúde, com o<br />

estabelecimento de taxas imorais e incomportáveis, a elitização e<br />

o rebaixamento <strong>do</strong> ensino, a manipulação <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong> informação.<br />

Repetiram-se e acentuaram-se as tentativas de destruição<br />

<strong>do</strong> sector público e <strong>da</strong>s nacionalizações, visan<strong>do</strong> reconstituir os<br />

monopólios. Desenvolveu-se uma ofensiva de destruição <strong>da</strong><br />

Reforma Agrária que, dia a dia, reconstitui o latifúndio, com o seu<br />

cortejo de consequências desastrosas para a produção, o emprego,<br />

as condições de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e, em geral, para a economia<br />

nacional. Multiplicaram-se e acentuaram-se os ataques e atropelos<br />

aos direitos <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e <strong>da</strong>s suas organizações representativas,<br />

contra o direito ao trabalho e à estabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> emprego,<br />

contra o exercício <strong>do</strong>s direitos sindicais, contra o controle de<br />

gestão, contra o direito à greve.<br />

Nos <strong>do</strong>is últimos anos, a acção governativa <strong>do</strong>s sucessivos governos<br />

contra o 25 de Abril, contra os interesses <strong>do</strong> povo português,<br />

empurra o País para o desastre económico, ameaça de total<br />

destruição as grandes conquistas democráticas <strong>do</strong> povo, apela<br />

crescentemente para a repressão e desrespeito <strong>do</strong>s direitos, liber<strong>da</strong>des<br />

e garantias <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos, consagra<strong>do</strong>s na Constituição e na<br />

lei, põe em risco a democracia portuguesa e subordina a<br />

digni<strong>da</strong>de e a independência nacionais às imposições e aos<br />

desígnios agressivos <strong>do</strong> imperialismo.<br />

À medi<strong>da</strong> que foram passan<strong>do</strong> os anos, os ataques <strong>da</strong>s forças <strong>da</strong><br />

direita reaccionária às conquistas <strong>do</strong> 25 de Abril generalizaram-se<br />

e aprofun<strong>da</strong>ram-se, mas enfrentam a resistência crescente, corajosa,<br />

ca<strong>da</strong> vez mais uni<strong>da</strong> e combativa, <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e <strong>do</strong>s<br />

democratas portugueses.

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