conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
conscientes <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> País e <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des <strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>ção<br />
democrática não conseguiram concretizar a mesma solução antes<br />
<strong>da</strong> realização de eleições intercalares.<br />
Vozes <strong>do</strong> CDS e de Deputa<strong>do</strong>s independentes ex-PSD: — Muito<br />
bem!<br />
O Sr Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>: — Nestes termos, e se não se verificar<br />
qualquer <strong>do</strong>s casos que constitucionalmente conduzem à<br />
dissolução <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, reservarei a decisão de<br />
realizar eleições legislativas intercalares e só a tomarei se e quan<strong>do</strong><br />
entender que ela corresponde, sem qualquer dúvi<strong>da</strong>, ao interesse<br />
nacional.<br />
Vozes <strong>do</strong> CDS e de Deputa<strong>do</strong>s independentes ex-PSD: — Muito<br />
bem!<br />
O Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>: — É evidente que a ocorrência<br />
de novos factos políticos significativos e a vontade maioritária<br />
desta <strong>Assembleia</strong> serão factores de decisão.<br />
Outra solução entretanto possível — e, na perspectiva democrática,<br />
mais desejável — consistirá na concretização de alguma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de<br />
de acor<strong>do</strong> que assegure à governação, a conveniente base<br />
parlamentar maioritária estável e coerente.<br />
É uma solução que nunca deixou de estar posta à consideração<br />
<strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s.<br />
Continuo a pensar que será possível encontrar, em função <strong>do</strong><br />
interesse nacional, um consenso mínimo <strong>da</strong>s forças políticas e<br />
sociais em torno de questões basilares como as seguintes:<br />
Desenvolvimento prioritário <strong>da</strong>s activi<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s à produção<br />
e distribuição de bens alimentares, que elevem o nível<br />
<strong>da</strong> nossa alimentação e tornem disponíveis meios financeiros<br />
para investir em sectores de imediata reprodutivi<strong>da</strong>de;<br />
Vitalização <strong>do</strong> sector exporta<strong>do</strong>r, tornan<strong>do</strong>-o competitivo a<br />
nível europeu, de maneira a contribuir para o equilíbrio <strong>da</strong><br />
balança comercial e para a redução <strong>do</strong> desemprego;<br />
Definição e implementação de uma política económica que<br />
permita, a médio prazo, o lançamento de activi<strong>da</strong>des que<br />
melhor correspon<strong>da</strong>m ao <strong>integral</strong> aproveitamento <strong>do</strong>s recursos<br />
disponíveis, quer humanos, quer financeiros, quer naturais;<br />
Utilização, a exemplo de outros países, <strong>do</strong> ocidente europeu,<br />
e sem preconceitos ideológicos, <strong>da</strong>s técnicas de planeamento<br />
económico e financeiro como instrumentos que, além <strong>do</strong><br />
mais, possibilitem a fun<strong>da</strong>mentação de uma política de redistribuição<br />
de rendimento e o incremento simultâneo <strong>do</strong> sector<br />
público e <strong>da</strong> iniciativa e activi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> sector priva<strong>do</strong>;<br />
Definição, no quadro <strong>do</strong>s objectivos referi<strong>do</strong>s, de mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des<br />
e acor<strong>do</strong> entre os representantes <strong>da</strong>s forças económicas e <strong>do</strong><br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1979<br />
Ramalho Eanes<br />
Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />
98<br />
Executivo, de mo<strong>do</strong> que se possa estruturar em bases seguras<br />
a política económica de estabilização e recuperação e, em<br />
particular, as decisões empresariais;<br />
Descentralizar a vi<strong>da</strong> política, com vista a interessar a generali<strong>da</strong>de<br />
<strong>do</strong>s portugueses na resolução <strong>do</strong>s seus próprios problemas,<br />
para uma responsável e crescente participação<br />
democrática na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> Nação.<br />
Sr. Presidente, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: Os tempos de confusão e de perplexi<strong>da</strong>de<br />
que vivemos não decorrem de alterações <strong>da</strong> opinião política<br />
<strong>do</strong> povo português em relação aos valores essenciais que escolheu.<br />
Melhor <strong>do</strong> que ninguém o sabem os inimigos <strong>da</strong> democracia, que,<br />
no nosso país como, aliás, em to<strong>da</strong> a parte, aproveitam as liber<strong>da</strong>des<br />
que o regime democrático lhes concede para explorar as<br />
dificul<strong>da</strong>des de entendimento entre formações democráticas com<br />
projectos políticos largamente coincidentes.<br />
Não falta quem utilize, para fun<strong>da</strong>mentar o afastamento, razões<br />
que bem melhor justificariam a aproximação.<br />
Os democratas terão de estar atentos a este fenómeno, porque, se<br />
aquela situação se pode aceitar como normal em regimes políticos<br />
estáveis e clarifica<strong>do</strong>s por longos anos de prática democrática, não<br />
deixa de ser justificável que apenas gere confusão e perplexi<strong>da</strong>de<br />
num povo que durante dezenas de anos acumulou esperanças<br />
legitimas e fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s na democracia.<br />
As discussões ideológicas inconsequentes prolongam-se, apesar<br />
de a crise continuar sem que se lhe oponha uma resposta organiza<strong>da</strong>,<br />
socialmente mobiliza<strong>do</strong>ra e politicamente apoia<strong>da</strong>, mas<br />
também tecnicamente fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>.<br />
De facto em to<strong>do</strong>s os países democráticos, crises bem menos<br />
graves <strong>do</strong> que a que vivemos têm justifica<strong>do</strong> a colaboração entre<br />
técnicos de diferentes filiações partidárias, que to<strong>da</strong>via se encontram<br />
uni<strong>do</strong>s por uma idêntica concepção global <strong>do</strong>s interesses nacionais.<br />
Uma preocupação excessiva com as questões políticas tem leva<strong>do</strong><br />
a esquecer que Portugal, devi<strong>do</strong> à limitação <strong>do</strong>s seus recursos<br />
materiais e técnicos, não poderá, sob pena de colapso, dispensar<br />
a colaboração aberta e motiva<strong>da</strong> de to<strong>do</strong>s aqueles que podem<br />
gerar alternativas fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s e concretizações produtivas.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, temos de retomar o esforço para procurar unir,<br />
onde forem úteis e onde se julgar prioritário, os homens capazes<br />
de responder aos grandes problemas concretos que se mantêm e<br />
agravam na socie<strong>da</strong>de portuguesa, de mo<strong>do</strong> que a população portuguesa<br />
possa ficar informa<strong>da</strong> <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des reais que o<br />
futuro lhe oferece.<br />
Sr. Presidente, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: — Ten<strong>do</strong> presente a minha responsabili<strong>da</strong>de<br />
de garante <strong>da</strong> legali<strong>da</strong>de constitucional e <strong>da</strong>s regras<br />
democráticas, não posso ignorar que o desencanto e o desânimo<br />
atingem já homens íntegros, que sempre se bateram pela liber<strong>da</strong>de,<br />
pela democracia e pela justiça social.