16.04.2013 Views

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr.<br />

Deputa<strong>do</strong> Acácio Barreiros, representante<br />

<strong>da</strong> União Democrática Popular.<br />

O Sr. Acácio Barreiros (UDP): — Sr. Presidente<br />

<strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>,<br />

Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros <strong>do</strong> Conselho <strong>da</strong> Revolução,<br />

Srs. Convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: Na passagem <strong>do</strong> 4º aniversário<br />

<strong>do</strong> 25 de Abril nós queremos recor<strong>da</strong>r com entusiasmo e emoção<br />

os heróis <strong>da</strong> resistência antifascista e deixar aqui expresso um<br />

testemunho de gratidão, uma sau<strong>da</strong>ção muito calorosa aos<br />

capitães <strong>do</strong> 25 de Abril de 1974.<br />

São passa<strong>do</strong>s quatro anos depois de Abril: quatro anos de grandes<br />

jorna<strong>da</strong>s de luta, de inesquecíveis lágrimas de alegria, de muitas<br />

horas de sacrifícios e trabalho devota<strong>do</strong>.<br />

Talvez que nas primeiras horas de Abril poucos tivessem consciência<br />

clara <strong>do</strong> descalabro económico, político e cultural a que o<br />

fascismo tinha conduzi<strong>do</strong> o nosso queri<strong>do</strong> Portugal. Mas a dura<br />

reali<strong>da</strong>de é que quarenta e oito anos de ditadura nos legaram um<br />

Portugal incapaz de produzir o seu próprio pão, uma economia<br />

feita à medi<strong>da</strong> de meia dúzia de tubarões capitalistas e em grande<br />

parte reduzi<strong>do</strong> a uma couta<strong>da</strong> onde os estrangeiros faziam lei e<br />

enriqueciam a seu bel-prazer.<br />

Aliás, a reacção, encolhen<strong>do</strong>-se diante <strong>do</strong> primeiro ímpeto popular,<br />

esperava que, passa<strong>do</strong> este, o povo desanimasse diante <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des<br />

e, rendi<strong>do</strong>, baixasse as bandeiras de Abril. Esperava, mas<br />

enganou-se. Com coragem, com determinação e até com raiva,<br />

to<strong>do</strong> o povo se lançou no esforço grandioso de fazer um Portugal<br />

diferente. O Alentejo cobria-se com o verde de searas em terras<br />

onde o mato chegou a ser arranca<strong>do</strong> com as próprias mãos; numerosas<br />

empresas sabota<strong>da</strong>s foram manti<strong>da</strong>s em laboração graças ao<br />

esforço <strong>do</strong>s seus trabalha<strong>do</strong>res, que chegaram a passar meses a fio<br />

sem receber salários; a banca foi nacionaliza<strong>da</strong>, permitin<strong>do</strong><br />

impedir que se continuasse a sangrar o País com a fuga de milhões<br />

de contos; vários sectores são nacionaliza<strong>do</strong>s; os trabalha<strong>do</strong>res<br />

alargam constantemente o contrôle operário para melhorar a produção<br />

e impedir as sabotagens. Entretanto defendia-se o novo<br />

Portugal nas barrica<strong>da</strong>s <strong>do</strong> 28 de Setembro e <strong>do</strong> 11 de Março e<br />

em S. Bento arrancava-se uma Constituição que, consagran<strong>do</strong><br />

muito desse esforço generoso <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, apontava como<br />

meta dessa obra grandiosa o socialismo. Em tão pouco tempo<br />

construiu-se tanta coisa que dificilmente encontraremos na nossa<br />

história tamanhos exemplos de grandeza.<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1978<br />

Acácio Barreiros<br />

UDP<br />

47<br />

Por isso hoje, quatro anos depois de Abril, o povo não pode deixar<br />

de se sentir feri<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> os nossos governantes vêm dizer-nos<br />

que tu<strong>do</strong> está mal feito, que Portugal está ca<strong>da</strong> vez mais próximo<br />

de um abismo, que as finanças estão na miséria, que os preços<br />

têm forçosamente de continuar a subir, que só a boa vontade <strong>do</strong>s<br />

estrangeiros nos pode salvar com os seus empréstimos milagrosos.<br />

Mas, francamente, meus senhores, havemos de concor<strong>da</strong>r que é<br />

difícil de explicar essa on<strong>da</strong> de pessimismo que espalhais? Afinal,<br />

não será ver<strong>da</strong>de, que hoje as condições são melhores que há<br />

quatro anos? Não será ver<strong>da</strong>de que hoje temos um Alentejo produtivo<br />

em vez de couta<strong>da</strong>s e <strong>da</strong> miséria de há quatro anos? Não<br />

será ver<strong>da</strong>de que hoje temos uma banca nacionaliza<strong>da</strong>, capaz de<br />

pôr em ordem a economia, em vez <strong>do</strong>s bancos de meia dúzia de<br />

tubarões de há quatro anos?<br />

O Sr. Cunha Simões (CDS): — Não, não é ver<strong>da</strong>de!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — Não será ver<strong>da</strong>de que hoje um governo neste país<br />

pode marcar níveis e orientar a produção apoian<strong>do</strong>-se no contrôle<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, enquanto há quatro anos o governo só podia<br />

fazer votos pie<strong>do</strong>sos que os capitalistas só cumpriam se lhes<br />

apetecesse? E, finalmente, não será ver<strong>da</strong>de que hoje temos uma<br />

Constituição maioritariamente aprova<strong>da</strong> e que aponta metas<br />

claras a atingir?<br />

Sen<strong>do</strong> assim, então porque. é que tu<strong>do</strong> está pior? Afinal porquê<br />

as sucessivas lamentações de sucessivos Ministros? Centenas de<br />

milhares de trabalha<strong>do</strong>res seriam capazes de responder a esta<br />

questão. O que está mal é que, em vez de se apoiar a Reforma<br />

Agrária, ataca-se, cortan<strong>do</strong> créditos, entregan<strong>do</strong> reservas, comprometen<strong>do</strong>,<br />

assim, o esforço <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res. O que está mal é<br />

que, em vez de se criarem circuitos comerciais, sobem-se os<br />

preços para engor<strong>da</strong>r os intermediários. O que está mal é que a<br />

banca nacionaliza<strong>da</strong> an<strong>da</strong> a encher os seus cofres de dinheiro,<br />

recusan<strong>do</strong> créditos, para amanhã ir pôr esse dinheiro nos bolsos<br />

<strong>do</strong>s grandes monopolistas sob a forma de indemnizações. O que<br />

está mal é que estamos a importar <strong>do</strong> estrangeiro muita coisa,<br />

sobretu<strong>do</strong> bens alimentares, que se podiam produzir cá, e<br />

fazemos isso só para que o imperialismo não se aborreça. O que<br />

está mal é an<strong>da</strong>rem a pedir sacrifícios ao povo, e o povo a ver os<br />

ricos ca<strong>da</strong> vez mais ricos, e os bancos a prepararem dinheiro para<br />

pagar as indemnizações aos grandes monopolistas. O que está mal,<br />

é preciso dizê-lo com to<strong>da</strong> a firmeza, é que sobretu<strong>do</strong> depois <strong>do</strong> 25<br />

de Novembro se tem acentua<strong>do</strong> neste país a política de fazer <strong>do</strong><br />

Portugal de Abril um Portugal onde caibam os inimigos de Abril.<br />

Pretende-se fazer <strong>da</strong> Reforma Agrária uma reforma agrária onde<br />

caibam os latifundiários e os seus milhões de contos de indemnizações;<br />

<strong>da</strong>s nacionalizações umas nacionalizações que agradem aos<br />

Melos, aos Champalimauds e demais tubarões capitalistas; <strong>da</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!