conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
eais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de portuguesa». Nestas claras palavras ficou, pois,<br />
bem expressa a ligação <strong>do</strong> general Ramalho Eanes ao seu eleitora<strong>do</strong>.<br />
Assim qualquer atitude posterior de desvinculação não se<br />
afigura consentânea com tão impressivos conceitos delinea<strong>do</strong>s há<br />
um ano somente.<br />
Vozes <strong>do</strong> PSD: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — É certo que um Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, uma vez<br />
eleito, é o presidente de to<strong>do</strong>s os portugueses, mas não pode, não<br />
deve, voltar as costas ao seu eleitora<strong>do</strong>.<br />
Vozes <strong>do</strong> PSD: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Quem assim procede está a criar condições para uma<br />
eventual renúncia ao exercício <strong>da</strong>s suas funções, mas, o certo é que<br />
nenhuma <strong>da</strong>s forças políticas que apoiaram a candi<strong>da</strong>tura <strong>do</strong><br />
general Ramalho Eanes em 1976 manifestou, até agora, esse desejo.<br />
No que diz respeito ao PSD, até se foi mais longe, pois em uma<br />
<strong>da</strong>s reuniões <strong>do</strong> seu conselho nacional deliberou considerar<br />
desestabiliza<strong>do</strong>r para o processo democrático uma renúncia antecipa<strong>da</strong><br />
<strong>do</strong> Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong> ao exercício <strong>do</strong> seu man<strong>da</strong>to.<br />
Só que a evolução <strong>do</strong> processo democrático em Portugal pode vir<br />
a aconselhar tomar outras posições firmes, frontais e claras quanto<br />
a este aspecto, mas também sempre em defesa <strong>da</strong> democracia<br />
pluralista e <strong>da</strong> construção de um Esta<strong>do</strong> de direito democrático.<br />
Em 22 de Setembro de 1978, já depois de ter si<strong>do</strong> aqui derruba<strong>do</strong> o<br />
III Governo Constitucional, o Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong> foi<br />
muito claro ao propor aos parti<strong>do</strong>s várias soluções para a crise<br />
então desencadea<strong>da</strong>. Creio não adulterar o senti<strong>do</strong> dessas propostas<br />
se as resumir nestes termos: ou os parti<strong>do</strong>s com assento<br />
parlamentar concluíam um acor<strong>do</strong> que assegurasse ao Governo<br />
base parlamentar majoritária, estável e coerente e fosse julga<strong>do</strong><br />
adequa<strong>do</strong> à situação política existente pelo Presidente <strong>da</strong><br />
<strong>República</strong>, ou esse acor<strong>do</strong> interpartidário, com vali<strong>da</strong>de até 1980,<br />
seria concretiza<strong>do</strong>, não de imediato, mas dentro de um prazo em<br />
que a realização de eleições antecipa<strong>da</strong>s, que completassem a<br />
actual legislatura, ain<strong>da</strong> tivessem significa<strong>do</strong> político.<br />
Como se sabe, a hipótese <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> interpartidário não se tornou<br />
possível na altura <strong>da</strong> crise subsequente ao derrube <strong>do</strong> III Governo e<br />
<strong>da</strong>í a formação <strong>do</strong> IV Governo Constitucional, que não se baseou<br />
em qualquer consenso nem tão-pouco evoluiu nesse senti<strong>do</strong>.<br />
Pelo contrário: certas atitudes ou desejos políticos <strong>do</strong> actual<br />
Primeiro-Ministro inutilizaram, na nossa óptica, qualquer<br />
hipótese de evolução para um acor<strong>do</strong> interpartidário. As críticas<br />
ao actual espectro partidário, os aplausos à necessi<strong>da</strong>de de<br />
formação de um novo agrupamento político foram tão repeti<strong>da</strong>mente<br />
insisti<strong>da</strong>s que tu<strong>do</strong> indica desejar o Sr. Primeiro-Ministro,<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1979<br />
Menéres Pimentel<br />
PSD<br />
86<br />
um realinhamento partidário. Mas como tal modificação, no<br />
quadro desta <strong>Assembleia</strong>, só é possível constitucionalmente<br />
através de eleições legislativas, afigura-se lícito concluir que o<br />
primeiro responsável pelo IV Governo terá aderi<strong>do</strong> ao segun<strong>do</strong><br />
termo <strong>da</strong> alternativa formula<strong>da</strong> pelo Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />
em 22 de Setembro passa<strong>do</strong>, ou seja a dissolução desta<br />
<strong>Assembleia</strong>.<br />
Assim to<strong>do</strong>s parecem a<strong>do</strong>ptar ou pelo menos admitir a necessi<strong>da</strong>de<br />
de um acto eleitoral antes <strong>do</strong> prazo normal, ou seja antes de<br />
Outubro de 1980. E para que seja útil esta consulta popular,<br />
parece evidente a sua urgência.<br />
Interessará agora viabilizar as eleições, ou melhor, torná-las<br />
mobiliza<strong>do</strong>ras para os Portugueses. Sempre me pareceu que, nova<br />
campanha eleitoral, sobretu<strong>do</strong> em momentos de crise social,<br />
política e económica muito profun<strong>da</strong>, só será aceitável se uma<br />
larga maioria <strong>do</strong>s portugueses, através <strong>do</strong>s seus enquadramentos<br />
partidários, conseguir, anteriormente ao acto eleitoral, oferecer<br />
um conjunto de soluções correctas e coerentes para ser inicia<strong>da</strong> a<br />
resolução <strong>do</strong>s grandes problemas deste país.<br />
Vozes <strong>do</strong> PSD: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Se se conseguir formar rapi<strong>da</strong>mente este bloco de<br />
ideias e projectos concretos, justos e <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de pragmatismo, as<br />
futuras eleições serão mais de escolha <strong>do</strong> que de preferência.<br />
Vozes <strong>do</strong> PSD: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Escolha de certo modelo bem defini<strong>do</strong> qualitativa e<br />
quantitativamente. Escolha por um Esta<strong>do</strong> ao serviço <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de e não o inverso. Escolha pela libertação e criativi<strong>da</strong>de.<br />
A preferência partidária far-se-ia, então em função <strong>da</strong> ideologia<br />
de ca<strong>da</strong> eleitor, tornan<strong>do</strong> o voto mais consciente e não meramente<br />
estratégico ou útil.<br />
O Sr. Bento Gonçalves (PSD): — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Mas se isto é possível conseguir em curto espaço de<br />
tempo, por que não a celebração de um acor<strong>do</strong> interpartidário<br />
antes de novo acto eleitoral?<br />
A resposta é bem simples: o actual xadrez parlamentar resultou<br />
de uma campanha eleitoral processa<strong>da</strong> em termos de insegurança<br />
e de total desacor<strong>do</strong> partidário. Mais: os parti<strong>do</strong>s não assumiram<br />
o compromisso prévio ao acto eleitoral de só participarem em<br />
governo com apoio parlamentar majoritário. Daí que as actuais<br />
opções políticas <strong>do</strong>s Portugueses não tenham correspondência