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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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contra a autonomia <strong>do</strong> poder local e aos anuncia<strong>do</strong>s diplomas que<br />

diminuem os direitos <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res ou atentam contra a<br />

Reforma Agrária, e a anuncia<strong>da</strong> revisão <strong>da</strong> Lei Eleitoral.<br />

Diremos mesmo que o essencial de tais medi<strong>da</strong>s legislativas<br />

representa uma antecipa<strong>da</strong> revisão <strong>da</strong> Constituição realiza<strong>da</strong> de<br />

forma ilegal e enviesa<strong>da</strong>.<br />

E chegou-se mesmo ao ponto de se discutir e calen<strong>da</strong>rizar a eliminação<br />

<strong>da</strong> organização económica, consagra<strong>da</strong> na Constituição,<br />

através de uma revisão constitucional a tal destina<strong>da</strong>, como se se<br />

tratasse de um normal procedimento democrático aquilo que se<br />

consubstância num atenta<strong>do</strong> à Constituição e ao regime<br />

democrático nela mol<strong>da</strong><strong>do</strong>.<br />

E até se tem invoca<strong>do</strong>, à guisa de justificação para tal revisão, a<br />

adesão à CEE, argumento, aliás, repudia<strong>do</strong> pelos próprios constitucionalistas.<br />

E em tu<strong>do</strong> isto tornaram-se patentes não só as contradições<br />

e os choques entre os <strong>do</strong>is parti<strong>do</strong>s que integram o<br />

Governo e a sua maioria, como agudiza a sua falta de transparência<br />

o próprio facto de, em muitas páginas <strong>do</strong> Diário <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>República</strong>, em anos próximos, se deparar com a crítica frontal,<br />

por parte <strong>do</strong>s mais qualifica<strong>do</strong>s dirigentes <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> maioritário<br />

no Poder, às medi<strong>da</strong>s legais que agora se apresentam a defender.<br />

E até em matérias de Esta<strong>do</strong>, <strong>da</strong> maior gravi<strong>da</strong>de, como as<br />

Grandes Opções <strong>do</strong> Plano e o Orçamento, ou a adesão à<br />

Comuni<strong>da</strong>de Económica Europeia, o Governo e a sua maioria<br />

tem actua<strong>do</strong> de forma a agravar a sua falta de senti<strong>do</strong> nacional de<br />

responsabili<strong>da</strong>de e a consequente per<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua credibili<strong>da</strong>de.<br />

Sem uma actuação previamente programa<strong>da</strong>, dissocian<strong>do</strong> as<br />

grandes opções <strong>do</strong> Plano e o Orçamento, e apresentan<strong>do</strong>-os cerca<br />

de 3 meses depois <strong>do</strong> prazo legal e sem a necessária credibili<strong>da</strong>de,<br />

de forma a merecer até as críticas mais contundentes de deputa<strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong> própria maioria, de que até alguns se ausentaram <strong>do</strong> hemiciclo<br />

para não serem compeli<strong>do</strong>s a votar em senti<strong>do</strong> contrário, o<br />

Governo e a maioria defrau<strong>da</strong>ram, mesmo em matéria de tal<br />

vulto, os imperativos de Esta<strong>do</strong> que as Grandes Opções <strong>do</strong> Plano<br />

e <strong>do</strong> Orçamento necessariamente impõem.<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong>, a adesão à CEE, que afectará profun<strong>da</strong> e<br />

dura<strong>do</strong>uramente a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s Portugueses, tem si<strong>do</strong> negocia<strong>da</strong> pelo<br />

Governo sem um amplo debate nacional sobre as suas consequências<br />

políticas, económicas, sociais e culturais, e sem a necessária<br />

informação à população sobre a natureza <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de e as<br />

condições <strong>da</strong> adesão <strong>do</strong> nosso País, não obstante tal adesão, ten<strong>do</strong><br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1985<br />

Raúl Castro<br />

MDP/CDE<br />

256<br />

em conta a natureza actual <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des europeias e a crise<br />

económica e política institucional em que se encontram mergulha<strong>da</strong>s,<br />

inviabilizar qualquer projecto autónomo de desenvolvimento<br />

nacional e pôr em causa o relacionamento autónomo e independente<br />

de Portugal com to<strong>do</strong>s os países, de tal forma que o País,<br />

mais ce<strong>do</strong> ou mais tarde, virá a julgar severamente os autores<br />

deste processo e quem complacentemente lhes dê cobertura.<br />

A adesão à CEE é transforma<strong>da</strong> pelo Governo e pela sua maioria<br />

num álibi para a subversão <strong>do</strong> regime constitucional, numa mera<br />

operação ao serviço de interesses pessoais e partidários, como<br />

demonstrou o recente debate parlamentar que o Governo e a<br />

maioria viriam a considerar meramente político em vez de, embora<br />

tardiamente, se destinar à análise e debate <strong>da</strong>s negocia<strong>da</strong>s<br />

condições de adesão.<br />

Deve até dizer-se que tal adesão tem si<strong>do</strong> de tal forma reduzi<strong>da</strong> à<br />

dimensão <strong>do</strong>s gabinetes governamentais que não só o nosso povo a<br />

desconhece, como os próprios deputa<strong>do</strong>s portugueses dela sabem<br />

menos que os parlamentares <strong>do</strong>s outros países <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de<br />

Europeia.<br />

De tu<strong>do</strong> o que vem de referir-se, resulta que o País vive numa<br />

situação de alheamento em relação ao Governo e à actuação concor<strong>da</strong>nte<br />

desta <strong>Assembleia</strong>, assumi<strong>da</strong> pela sua maioria, que fez<br />

desaparecer o relacionamento ver<strong>da</strong>deiramente democrático<br />

entre os órgãos <strong>do</strong> Poder e os ci<strong>da</strong>dãos.<br />

Substituí<strong>do</strong>s os valores que devem caracterizar uma gestão política<br />

transparente por uma mera luta pelo Poder, em que sobrelevam os<br />

interesses partidários e os choques entre as duas forças políticas<br />

coliga<strong>da</strong>s, tornou-se evidente o divórcio entre o Poder e a população,<br />

que deixou de acreditar naqueles que governam.<br />

Por isso, o MDP/CDE entende que constitui um imperativo<br />

nacional pôr fim à subsistência destes <strong>do</strong>is Órgãos de Soberania,<br />

Governo e <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, em ordem não só a salvaguar<strong>da</strong>r<br />

o regular funcionamento <strong>da</strong>s instituições democráticas,<br />

mas o próprio prestígio <strong>da</strong> democracia portuguesa.<br />

Se o povo é quem mais ordena, neste 25 de Abril, dê-se a palavra<br />

ao povo, restituam-se ao nosso povo fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s razões para uma<br />

esperança que não morre numa vi<strong>da</strong> mais livre, mais justa e mais<br />

fraterna, que volte a florir a nossa terra de cravos vermelhos de<br />

confiança no presente e de fé no futuro.<br />

Aplausos <strong>do</strong> MDP/CDE e <strong>do</strong> PCP.

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