conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Constituição? Já estão cria<strong>da</strong>s as condições para o exercício<br />
democrático <strong>do</strong> poder pelas classes trabalha<strong>do</strong>ras, como man<strong>da</strong> a<br />
Constituição? Estaremos a chegar à socie<strong>da</strong>de sem classes, como<br />
man<strong>da</strong> a Constituição?<br />
Basta olhar para o ar esplen<strong>do</strong>roso <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s senta<strong>do</strong>s neste<br />
hemiciclo e depois irmos <strong>da</strong>r uma espreitadela aqui perto, ao<br />
Bairro <strong>da</strong> Liber<strong>da</strong>de ou à Musgueira.<br />
Boa transição esta a que assistimos desde o 25 de Novembro.<br />
Sr. Presidente, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: A crise de que to<strong>do</strong>s se queixam<br />
apenas é suporta<strong>da</strong> pelo povo. Os ricos não sentem crise nenhuma,<br />
pois estão ca<strong>da</strong> vez mais ricos e luzidios.<br />
O programa <strong>do</strong> Governo é o programa <strong>da</strong> CIP e <strong>da</strong> CAP.<br />
Uma voz <strong>do</strong> PSD: — Não apoia<strong>do</strong>!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Para debelar a crise e encontrar uma alternativa de<br />
acor<strong>do</strong> com os interesses populares é necessário, em primeiro<br />
lugar, derrubar este governo. É essa a tarefa prioritária e essencial<br />
para os operários e camponeses, para o povo em geral.<br />
Para derrubar o Governo, há que enfraquecê-lo ain<strong>da</strong> mais e não<br />
lhe abrir caminho para guinar mais à direita, acossa<strong>do</strong> como está<br />
pela crise e pela luta <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />
Para isso temos de impedi-lo de levar por diante o seu programa<br />
antipopular e antinacional. Não aceitar cumprir a legislação reaccionária,<br />
resistir, acumular forças, lutar com firmeza e uni<strong>da</strong>de.<br />
Não há que esperar pela revisão <strong>da</strong> Constituição, há que impedi-la<br />
na prática. Não há que esperar pelas eleições autarquicas, há que<br />
não permitir que o Governo chegue às autárquicas, não há que<br />
esperar pela entra<strong>da</strong> na CEE, há que impedi-la. Não há que<br />
aguar<strong>da</strong>r que Eanes ou os parti<strong>do</strong>s democráticos arranjem alternativa,<br />
com me<strong>do</strong> que o Poder caia na rua. Há que dizer que na<br />
rua estão os trabalha<strong>do</strong>res, que já mostraram em 1974/1975 que<br />
são mais capazes de cui<strong>da</strong>r <strong>do</strong>s seus interesses <strong>do</strong> que os banqueiros,<br />
os <strong>do</strong>utores, os tecnocratas ou os generais.<br />
E essas alternativas já as conhecemos a to<strong>da</strong>s.<br />
Precisamos é de pôr em prática a nossa, a <strong>do</strong> povo.<br />
E essa começa na situação actual, por tomar em mãos a continuação<br />
<strong>da</strong> luta. Fazer ouvir a voz <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e não esperar que<br />
outros falem por eles. Construir a uni<strong>da</strong>de na base e nas organizações<br />
operárias e populares, não fican<strong>do</strong> dependentes de<br />
negociações partidárias nem <strong>da</strong> acção parlamentar.<br />
O Governo dirá que isso não é democrático, pela simples razão de<br />
que dentro <strong>do</strong> Parlamento faz o que lhe apetece e fora <strong>do</strong><br />
Parlamento perde a maioria e perde o pé. Mais uma razão para<br />
lhe não <strong>da</strong>rmos ouvi<strong>do</strong>s.<br />
À fome e à repressão os trabalha<strong>do</strong>res responderão com greves e<br />
manifestações, com uma nova greve geral. Exigin<strong>do</strong> melhores<br />
salários, o fim <strong>do</strong>s contratos a prazo e <strong>do</strong>s despedimentos, o con-<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1982<br />
Mário Tomé<br />
UDP<br />
179<br />
gelamento <strong>do</strong>s preços e o fim <strong>do</strong> pacote laboral e <strong>da</strong> repressão nas<br />
empresas.<br />
Mas a exploração <strong>da</strong> classe operária acentuar-se-á e o seu nível<br />
de vi<strong>da</strong> degra<strong>da</strong>r-se-á sempre, enquanto a política for determina<strong>da</strong><br />
pelos interesses <strong>do</strong> capital. Por isso, a sua luta deve ser sempre<br />
perspectiva<strong>da</strong> no senti<strong>do</strong> de impor a sua política própria.<br />
Os camponeses devem pôr em acção a sua enorme força revolucionária<br />
e lutar, la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>, com os operários pelo pão, pela<br />
educação e pela saúde, e não confiar mais nos caciques, nem nos<br />
senhores, antes devem levantar-se contra eles e contra o seu governo,<br />
impon<strong>do</strong> condições justas que acabem com a miséria e a<br />
submissão de quem trabalha a terra.<br />
Assim, to<strong>do</strong>s os trabalha<strong>do</strong>res, as mulheres, os jovens e os reforma<strong>do</strong>s,<br />
encontrar-se-ão numa uni<strong>da</strong>de de ferro, porque alicerça<strong>da</strong><br />
na defesa de interesses comuns, e saberão impor, pela sua luta<br />
dura e firme, um governo de uni<strong>da</strong>de popular, esse sim reatan<strong>do</strong><br />
os caminhos <strong>do</strong> 25 de Abril.<br />
Então o bem estar será possível porque a terra será de quem a<br />
trabalha, a produção planifica<strong>da</strong>, controla<strong>da</strong> e dirigi<strong>da</strong> pelas organizações<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, com os técnicos e intelectuais progressistas<br />
<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o seu valioso contributo. Produzir-se-á para satisfazer as<br />
necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> povo e não a sede de lucro <strong>do</strong>s capitalistas.<br />
O povo controlará a economia e pô-la-á ao seu serviço por forma<br />
a garantir a alimentação, a saúde, a educação, a habitação e o<br />
emprego para to<strong>do</strong>s, pois só aos explora<strong>do</strong>res interessa fazer<br />
lucros à custa <strong>da</strong>s, necessi<strong>da</strong>des, <strong>do</strong> povo.<br />
A liber<strong>da</strong>de para o povo será garanti<strong>da</strong> pela sua própria organização<br />
e pela repressão <strong>do</strong>s fascistas.<br />
Hoje assistimos exactamente ao contrário: reprime-se o povo,<br />
prendem-se os antifascistas, como Isabel <strong>do</strong> Carmo e Carlos<br />
Antunes, enquanto os pides e os bombistas an<strong>da</strong>m à solta e os<br />
fascistas se organizam impunemente.<br />
A independência nacional será garanti<strong>da</strong> pon<strong>do</strong> fim à nossa<br />
dependência <strong>do</strong>s estrangeiros; democratizan<strong>do</strong> as forças arma<strong>da</strong>s<br />
e pon<strong>do</strong>-as sob controle <strong>do</strong> povo; sain<strong>do</strong> <strong>da</strong> NATO e acaban<strong>do</strong><br />
com a ocupação <strong>da</strong>s nossas bases pelas tropas americanas e<br />
alemãs; impedin<strong>do</strong> a instalação ou permanência <strong>da</strong>s armas<br />
nucleares no nosso território, a fim de contribuirmos para garantir a<br />
paz; exploran<strong>do</strong> racionalmente as nossas riquezas naturais; não<br />
entran<strong>do</strong> para a CEE, onde o desemprego alastra de forma devasta<strong>do</strong>ra,<br />
o que apenas favoreceria as multinacionais europeias e<br />
os grandes capitalistas nacionais, nem aceitan<strong>do</strong> negociar com o<br />
FMI, que apenas pretende pôr a nossa economia e a nossa política<br />
ao serviço <strong>do</strong>s grandes interesses financeiros <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
<strong>da</strong> América.<br />
Teremos as melhores relações com os povos <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, económicas<br />
e culturais, dentro <strong>do</strong> maior respeito mútuo e <strong>da</strong> reciproci<strong>da</strong>de<br />
de interesses.