conteúdo integral do livro - Assembleia da República
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O Sr. Presidente: — Para uma intervenção,<br />
como representante <strong>do</strong> Grupo Parlamentar<br />
<strong>do</strong> PCP, tem a palavra o Sr. Deputa<strong>do</strong><br />
Carlos Carvalhas.<br />
O Sr. Carlos Carvalhas (PCP): — Sr. Presidente<br />
<strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr.<br />
Primeiro-Ministro, Srs. Presidentes <strong>do</strong> Supremo Tribunal de<br />
Justiça e <strong>do</strong> Tribunal Constitucional, Srs. Deputa<strong>do</strong>s, Sr.as e Srs.<br />
Convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s: No vigésimo aniversário <strong>do</strong> 25 de Abril, as nossas<br />
primeiras palavras são de sau<strong>da</strong>ção para os heróicos capitães de<br />
Abril, a quem prestamos senti<strong>da</strong> homenagem, que, naquela<br />
inesquecível madruga<strong>da</strong>, abriram decisivamente o caminho <strong>da</strong><br />
liber<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> democracia e que mereci<strong>da</strong>mente ganharam um<br />
lugar no coração <strong>do</strong>s portugueses e <strong>da</strong>s portuguesas amantes <strong>da</strong> paz<br />
e <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de.<br />
Passa<strong>do</strong>s 20 anos, renovamos também aqui a nossa senti<strong>da</strong> homenagem<br />
e profun<strong>da</strong> gratidão a to<strong>do</strong>s os patriotas, a to<strong>do</strong>s os<br />
democratas, a to<strong>do</strong>s os anti-fascistas, a to<strong>do</strong>s os homens e mulheres<br />
que, ao longo de déca<strong>da</strong>s de um combate incerto e difícil, empenharam<br />
as suas forças e energias, muitos sacrifican<strong>do</strong> até as suas<br />
próprias vi<strong>da</strong>s, para que fosse posto fim a um ciclo negro e repressivo<br />
<strong>da</strong> nossa História.<br />
Evocamos hoje o levantamento militar de 25 de Abril e o imediato<br />
e poderoso levantamento popular que tornou pequenas as praças e<br />
as ruas <strong>do</strong> nosso País e que encheu aquele Maio <strong>do</strong>s Maios, o 1.° de<br />
Maio em liber<strong>da</strong>de, em que o povo mostrou que queria tomar nas<br />
mãos o seu destino, partin<strong>do</strong> depois <strong>da</strong> sua iniciativa as grandes<br />
conquistas democráticas.<br />
Volta<strong>do</strong>s para o futuro e, dirigin<strong>do</strong>-nos à juventude, lembramos<br />
— pois há quem queira ter memória curta — que a PIDE existiu,<br />
que esta tenebrosa polícia política perseguiu, prendeu, torturou e<br />
matou ao serviço de uma ditadura fascista que alguns pudicamente<br />
apeli<strong>da</strong>m de «antigo regime» ou de «regime derruba<strong>do</strong>».<br />
É preciso que isto se lembre quan<strong>do</strong> assistimos no nosso país à<br />
mistificação histórica <strong>do</strong> que foi quer o antes quer o depois <strong>do</strong> 25<br />
de Abril e, na Europa, ao ressurgimento <strong>do</strong>s nacionalismos, <strong>do</strong><br />
fascismo, <strong>do</strong> racismo e <strong>da</strong> xenofobia.<br />
É preciso que se diga, não só a pensar nas novas gerações, mas<br />
também na nossa responsabili<strong>da</strong>de de tu<strong>do</strong> fazer e para que a<br />
mentira não passe por ver<strong>da</strong>de, que a paz e o fim <strong>da</strong> guerra colonial,<br />
porque de guerra colonial se tratou, se inscrevem entre as<br />
mais justas, necessárias e importantes realizações <strong>da</strong> Revolução<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1994<br />
Carlos Carvalhas<br />
PCP<br />
401<br />
de Abril, que a recusa ou o adiamento <strong>da</strong> concretização <strong>do</strong> direito à<br />
independência significaria a continuação <strong>da</strong> guerra, <strong>do</strong> sacrifício<br />
<strong>da</strong> juventude, <strong>do</strong> povo português e <strong>do</strong>s povos <strong>da</strong>s colónias e que as<br />
principais responsabili<strong>da</strong>des pelos dramas e sofrimentos posteriores<br />
às independências têm de ser assaca<strong>do</strong>s ao regime fascista e à<br />
guerra que foi movi<strong>da</strong> contra os novos Esta<strong>do</strong>s independentes e as<br />
suas opções soberanas.<br />
Com to<strong>da</strong> a firmeza combateremos as tentativas de reescrever a<br />
História e as campanhas de palavras e imagens que procuram<br />
resumir o 25 de Abril a um alucinante ven<strong>da</strong>val de conflitos, agitação<br />
e confrontos e insistiremos em que a Revolução de Abril foi<br />
sobretu<strong>do</strong> um tempo de participação popular, de liber<strong>da</strong>de e de<br />
democracia conquista<strong>da</strong>s e exerci<strong>da</strong>s, de dignificação humana, de<br />
generosi<strong>da</strong>de, de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, de grandeza e beleza nas pequenas<br />
e grandes transformações <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, de pujante afirmação de eleva<strong>do</strong>s<br />
valores éticos e cívicos.<br />
Salientaremos que os confrontos e conflitos verifica<strong>do</strong>s tiveram<br />
causas e que a maior foi a resistência e a oposição violenta aos<br />
rumos emancipa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> 25 de Abril.<br />
A Revolução foi sonho e esperança, foi festa e liber<strong>da</strong>de, grandes<br />
transformações políticas, económicas, sociais e culturais, foi a<br />
institucionalização <strong>do</strong> poder local democrático e a consagração<br />
de importantes direitos <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos.<br />
Mas, mais <strong>do</strong> que uma discussão sobre o passa<strong>do</strong>, o 25 de Abril é<br />
sobretu<strong>do</strong> uma afirmação <strong>do</strong> presente e uma referência essencial na<br />
luta para um futuro melhor. Por isso, comemorar Abril nos dias de<br />
hoje é combater o autoritarismo, a governamentalização <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />
e a sua desresponsabilização em áreas fun<strong>da</strong>mentais como a saúde,<br />
o ensino e a habitação, é combater a degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> democracia, a<br />
concentração <strong>da</strong> riqueza e a reconstituição <strong>da</strong>s oligarquias financeiras,<br />
as exclusões sociais e a pobreza, é garantir às mulheres uma<br />
efectiva participação em igual<strong>da</strong>de e à juventude um emprego e<br />
uma escola de quali<strong>da</strong>de e democrática, é apoiar os deficientes<br />
e melhorar a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s reforma<strong>do</strong>s, pensionistas e i<strong>do</strong>sos.<br />
Comemorar Abril, nos dias de hoje, é não esquecer os povos<br />
irmãos <strong>da</strong>s ex-colónias, manifestar a nossa soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de activa<br />
com o povo maubere e lutar por um Portugal de progresso e de<br />
justiça numa Europa de paz e de cooperação.<br />
E, numa época de regressão social, de desemprego crescente, de<br />
liqui<strong>da</strong>ção de direitos <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, de ruína <strong>da</strong> nossa agricultura<br />
e <strong>da</strong>s nossas pescas e de ameaças à soberania nacional, é<br />
ain<strong>da</strong> nos valores e ideais de Abril que se pode encontrar um<br />
renova<strong>do</strong> impulso na luta por uma nova política e por um novo<br />
rumo na integração europeia.<br />
Por isso, reafirmamos que, 20 anos depois, a passagem <strong>do</strong> tempo<br />
deve trazer não a desvalorização <strong>da</strong> Revolução de Abril mas a<br />
condenação <strong>da</strong> ofensiva <strong>da</strong> política de direita que liqui<strong>do</strong>u muitas<br />
<strong>da</strong>s suas conquistas e destruiu boa parte <strong>da</strong>s suas realizações.