conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>República</strong> Victor Crespo:<br />
— Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr.<br />
Primeiro-Ministro, Srs. Membros <strong>do</strong> Governo, Sr. Presidente <strong>do</strong><br />
Tribunal de Justiça, Sr. Presidente <strong>do</strong> Tribunal Constitucional,<br />
Srs. Deputa<strong>do</strong>s, Excelências, minhas Senhoras e meus Senhores:<br />
Há 16 anos caía na Europa uma velha ditadura, renascia a liber<strong>da</strong>de<br />
perdi<strong>da</strong>, ganhava senti<strong>do</strong> a digni<strong>da</strong>de <strong>do</strong> homem e o povo detinha<br />
nas mãos o seu destino. Desabrochou o pluralismo <strong>da</strong>s opções<br />
políticas. Passámos a ser um país europeu firma<strong>do</strong> no humanismo.<br />
Um Esta<strong>do</strong> de direito crente na fraterni<strong>da</strong>de entre os homens.<br />
Celebrar, hoje, o 25 de Abril é <strong>da</strong>r-lhe uma nova força e senti<strong>do</strong><br />
de necessi<strong>da</strong>de, é aprofun<strong>da</strong>r um esta<strong>do</strong> de espírito e assumir a<br />
procura <strong>da</strong>s respostas políticas Para o mun<strong>do</strong> em mu<strong>da</strong>nça.<br />
Relembrar Abril é também continuá-lo!<br />
É, acima de tu<strong>do</strong>, olhar para o futuro, reflectir sobre as decisões<br />
que correspon<strong>da</strong>m aos desafios, <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de à esperança e aos<br />
anseios que nele colocámos, reabrir as mentes e os corações para<br />
maiores cometimentos e ligar o passa<strong>do</strong> ao futuro na consciência<br />
<strong>do</strong> presente.<br />
Ao celebrar e recor<strong>da</strong>r o 25 de Abril, importa exprimir o sentimento<br />
de viva gratidão para com aqueles que iniciaram a ruptura<br />
— os militares, a quem neste momento saú<strong>do</strong> — e assinalar o<br />
reconhecimento e gratidão a quantos por ela se bateram e aos que<br />
a continuaram e lhe foram <strong>da</strong>n<strong>do</strong> corpo e forma.<br />
É também o momento próprio para dirigir uma palavra de estímulo<br />
à juventude, a quem pertence o futuro.<br />
Outros, na Europa e no resto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, vivem, depois de<br />
Portugal, a um ritmo crescente, a alegria <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, no pluralismo<br />
e no respeito pelos valores que servimos nesta déca<strong>da</strong> e meia.<br />
Merecemos bem esta hora de esperança e os caminhos que se<br />
abrem para uma existência colectiva de paz e de justiça social.<br />
Não temos a pretensão de termos si<strong>do</strong> pioneiros no atear <strong>da</strong><br />
fogueira liberta<strong>do</strong>ra ou de constituirmos exemplo, mas não<br />
podemos ignorar que fomos os primeiros nos processos de<br />
democratização contemporâneos.<br />
Entre as democracias nascentes neste fin<strong>da</strong>r de século, somos os<br />
que adquirimos maior experiência; vivemos mais longa e intensamente<br />
a procura <strong>do</strong>s caminhos certos; ensaiámos soluções;<br />
cometemos e corrigimos erros, o que constitui um acervo que bem<br />
pode projectar-se para além de nós, já que avançámos e progredimos<br />
na consoli<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> democrático e na concretização<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1990<br />
Victor Crespo<br />
Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />
369<br />
<strong>da</strong>s suas potenciali<strong>da</strong>des de desenvolvimento material e social,<br />
isto é, no caminho para a moderni<strong>da</strong>de.<br />
Encontramo-nos no limiar <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90, que será substancialmente<br />
diferente <strong>do</strong>s tempos passa<strong>do</strong>s.<br />
Os anos 80 tiveram a primazia <strong>do</strong> discurso económico; a déca<strong>da</strong><br />
de 90 será a <strong>do</strong> discurso político; e o século XXI o <strong>do</strong> império <strong>da</strong><br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de.<br />
Temos pela frente a exigência de to<strong>da</strong> a criativi<strong>da</strong>de para conseguir<br />
processos, construir soluções para problemas novos e recomeçar,<br />
apetrecha<strong>do</strong>s com ideias que revolucionem esquemas e mo<strong>do</strong>s<br />
de agir.<br />
Estão em causa as condições de sobrevivência, necessárias para<br />
realizar o futuro. Preencher a visão <strong>do</strong> seu universo: homem, paz<br />
e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de.<br />
Nos anos 80 fizemos a integração de Portugal no quadro europeu,<br />
caracteriza<strong>do</strong> pela livre iniciativa, o merca<strong>do</strong> aberto e a coesão<br />
económica e social. Hoje, a Comuni<strong>da</strong>de Europeia vive um<br />
processo de fortalecimento e cooperação política, científica e cultural,<br />
estan<strong>do</strong> em vésperas de se ver alarga<strong>da</strong>. Hoje, a<br />
Comuni<strong>da</strong>de está mais ajusta<strong>da</strong> para se afirmar no processo de<br />
mundialização <strong>da</strong> economia.<br />
Falta ain<strong>da</strong> construir um sistema económico coerente, mas dele<br />
nos aproximamos. E o tempo trará uma economia global, de<br />
merca<strong>do</strong>, dinâmica e livre, em que o ambiente seja efectivamente<br />
preserva<strong>do</strong>, o que implica alguma cedência de autonomia por<br />
ca<strong>da</strong> país, mas ficará sempre espaço suficiente para o fortalecimento<br />
<strong>da</strong>s economias nacionais.<br />
Neste contexto, é necessário recorrer a novos esquemas e conceitos.<br />
Teremos menos Esta<strong>do</strong>, mas caber-lhe-á sempre a tarefa essencial<br />
de: ser factor de estabili<strong>da</strong>de, propicia<strong>do</strong>r de objectivos a médio e<br />
distante prazo; velar pela igual<strong>da</strong>de de oportuni<strong>da</strong>des; combater a<br />
corrupção.<br />
As gerações futuras não nos per<strong>do</strong>ariam que a Europa comunitária<br />
não gerasse as políticas capazes de um desenvolvimento<br />
enriquece<strong>do</strong>r nas relações Leste-Oeste, sem esquecer que os<br />
programas e soluções, até há pouco evidentes e carrega<strong>do</strong>s de<br />
exigência, terão de ser repensa<strong>do</strong>s.<br />
Vivemos um mun<strong>do</strong> diferente que requer mutações de sistemas e<br />
mentali<strong>da</strong>des.<br />
A defesa e a política externas sempre foram, tradicionalmente, os<br />
bastiões identifica<strong>do</strong>res <strong>da</strong> soberania nacional. Porém, na Europa<br />
de amanhã, seremos confronta<strong>do</strong>s com ajustamentos de equilíbrios<br />
e interpenetrações alarga<strong>da</strong>s.<br />
Trabalharemos para a paz que dê garantia de uma eficaz segurança<br />
e para que as tensões se vão debilitan<strong>do</strong>.<br />
O que impõe concertações nacionais e regionais, onde ca<strong>da</strong> nação<br />
sinta que lhe é conferi<strong>do</strong> o seu justo lugar, livre de opressões e onde<br />
se enterrem os restos de colonialismo que ain<strong>da</strong> permanecem.