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— Estarei esperando, doutor. Mas, se por acaso eu não estiver por aqui por ser hora do almoço ou por eu ter de fazer alguma coisa<br />
para o senhor Hennessy na rua, pode deixar o<br />
recado. Meu nome é Sylvia.<br />
Tomás sorriu, despediu-se da moça e saiu.<br />
Uma vez na rua, não pode deixar de se surpreender consigo mesmo.<br />
Ele sabia muito bem que poderia efetuar a entrega da menta da maneira como queria Hennessy. Porém, criara aquela dificuldade de<br />
graça... Unicamente para ter um pretexto para voltar ali, para rever Sylvia.<br />
Mesmo que fosse apenas para vê-la mais uma vez e daquela maneira fugaz e inócua, ele de pé e ela sentada atrás de uma<br />
escrivaninha de recepção.<br />
Distraído, tentando explicar para si mesmo a razão daquele comportamento tão pueril, Tomás entrou num café logo em frente ao<br />
edifício de Hennessy.<br />
Estava começando a levar a xícara aos lábios, quando viu Sylvia deixar o prédio e caminhar pela calçada com aquele andar sedutor,<br />
fazendo com que todos os homens olhassem para ela cheios de admiração e desejo.<br />
Sentiu ciúmes.<br />
Inexplicavelmente, inadmissivelmente, descabidamente, sentiu ciúmes.<br />
Pagou às pressas o café e, em passos apressados, seguiu Sylvia pela rua, alcançando-a quando ela já estava entrando numa<br />
farmácia.<br />
— Mas que coincidência! — disse ele, ao seu lado — Que surpresa agradável!<br />
Sylvia sorriu e, olhando para Tomás de uma maneira que deixava bem claro que ela percebera não se tratar de um acaso aquele<br />
encontro, falou:<br />
— Desci para comprar um comprimido. Estou com um pouco de dor de cabeça...<br />
E, com uma careta, acrescentou:<br />
— Não é muito fácil trabalhar com o senhor Hennessy... Ele é muito exigente e quando me pede para bater uma carta em inglês, fica<br />
furioso quando cometo algum erro, por mais insignificante que seja!<br />
Entraram na farmácia e, antes de chegar ao balcão, Sylvia disse:<br />
— Hoje à tarde, sei que minha dor de cabeça vai aumentar... Ele quer um relatório completo sobre a transação que os senhores estão<br />
fazendo... E em inglês!<br />
Tomás sorriu e falou, em tom de brincadeira:<br />
— Não quero lhe dar trabalho e muito menos dor de cabeça, Sylvia. Acho que vou voltar lá e dizer para o gringo que não farei mais<br />
o negócio...<br />
— Isso não vai adiantar nada. Aliás, só vai servir para piorar a minha situação — replicou a moça — Se o negócio não sair, ele vai<br />
querer o relatório do mesmo jeito e, o que é pior, vai montar uma explicação complicada e comprida para os seus chefes lá nos Estados<br />
Unidos... E serei eu a bater tudo isso!<br />
Comprou o remédio e, com um suspiro, finalizou:<br />
— Por isso, já sei que o meu destino, hoje, é ficar a tarde inteira em cima da máquina. Não tenho escapatória e acho que os<br />
comprimidos não vão me ajudar muito...<br />
Tomás, acompanhando-a até a porta, falou:<br />
— Bem... Se me permite, tenho uma sugestão para aliviá-la...<br />
Sylvia olhou para ele com expressão curiosa e Tomás continuou:<br />
— Poderia convidá-la para jantar em meu hotel... Ao menos serviria para relaxar um pouco e...<br />
Com um tom de súplica em sua voz, arrematou:<br />
— Eu ficaria muito feliz em poder contar com a sua companhia para o jantar... Detesto fazer minhas refeições sozinho...<br />
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