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Um pouco sem jeito, o pedreiro olhou para o entalhe na madeira e, depois, sacudiu a cabeça, dizendo:<br />
— Não senhora... Não há ninguém aqui que se pareça com uma mulher tão bonita!<br />
Jeanne ia discutir, porém, achou melhor ficar quieta, fingir que tinha brincado. Afinal, a reação de Tomás quando vira a figura, tinha<br />
sido exatamente a mesma... Ele não a achara entre as dezenas de pessoas entalhadas na madeira e, mesmo quando Jeanne apontara<br />
com<br />
o dedo a sua imagem, ele rira, dizendo que se ela fosse aquele índio, com certeza, não estaria ali em sua companhia.<br />
— Vai ver, só eu é que me vejo... Eu e Satã e é isso o que interessa — pensou ela.<br />
*******<br />
Mudaram-se para o apartamento novo e, menos de um mês depois, quando Tomás chegou do trabalho, Jeanne notou que alguma<br />
coisa não ia bem.<br />
— Você está preocupado — disse ela ajudando-o a tirar o paletó como sempre fazia — Quer que eu lhe prepare uma bebida?<br />
— Sim — respondeu Tomás — Acho que preciso de uma boa dose para poder pensar melhor...<br />
Observando Jeanne pegar os copos e a garrafa, Tomás falou:<br />
— Heitor veio me propor um negócio. E eu não sei o que fazer...<br />
Jeanne teve um breve e quase imperceptível estremecimento e, curiosa, ergueu os olhos para ele, indagando:<br />
— Heitor? O seu sócio?<br />
— Ele mesmo — respondeu Tomás — Somos amigos há muito tempo, desde que eu me formei no ginásio. Heitor é quase um pai para<br />
mim e eu acho que não devo aceitar a proposta...<br />
Sorrindo, sentando-se ao lado de Tomás, Jeanne murmurou:<br />
— Bem, querido... Se você me contar de que se trata e se achar que minha opinião vale alguma coisa, talvez eu possa ajudá-lo...<br />
Tomás beijou os lábios de Jeanne e disse:<br />
— É claro que sua opinião tem valor, Jeanne... E é justamente por achar isso que eu estou comentando com você.<br />
Tomou um gole de bebida e continuou:<br />
— Heitor é viúvo, como sabe. Já comentei isso com você inúmeras vezes. E tem um filho que adora a vida no campo. Augusto é filho<br />
único e está acostumado a ter todas as suas<br />
vontades satisfeitas pelo pai. E sua última idéia é uma fazenda. Quer porque quer que o pai lhe compre uma fazenda na região de<br />
Bauru.<br />
Deu uma risadinha e falou:<br />
— Heitor não sabe dizer não ao filho e autorizou-o a fechar um determinado negócio. Só que Augusto, muito mais ambicioso do que<br />
cauteloso, comprou uma fazenda cerca de três vezes maior e, portanto, mais cara do que o dinheiro de que Heitor poderia dispor<br />
agora...<br />
Jeanne o interrompeu, adivinhando:<br />
— E ele quer que você empreste...<br />
— Isso mesmo! — exclamou Tomás — Ele veio me pedir uma verdadeira fortuna emprestado!<br />
— Acha que ele poderá pagar? — quis saber Jeanne.<br />
— Sem dúvida. Heitor é um homem honesto e jamais deixaria de saldar um seu compromisso.<br />
Jeanne ergueu os ombros com fingida indiferença e murmurou:<br />
— Se tem confiança nele, empreste...<br />
Sorriu, beijou Tomás e acrescentou: