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Fechou os olhos e procurou adormecer.<br />

Não conseguiu.<br />

Seus ouvidos latejavam, ela podia escutar o som do sangue sendo impulsionado com força em sua cabeça e, lembrando-se de uma<br />

conversa, muitos anos atrás, com um médico seu conhecido, achou que estava com a pressão arterial um pouco elevada.<br />

— Não gosto disso — murmurou — Essa história de pressão alta... Posso passar mal de um momento para o outro...<br />

Procurou se concentrar e, com o poder da mente, afastar de si o fantasma de uma doença.<br />

— Não posso ficar doente agora... — falou — Logo agora, que estou tão perto de conseguir cumprir a minha parte no pacto com Satã!<br />

Sorriu consigo mesma, dizendo:<br />

— Depois... Quando tudo estiver resolvido... Aí sim, vou recuperar a minha juventude e a minha saúde...<br />

Com dificuldade por causa das dores nas juntas, ela se ajeitou melhor na cama e murmurou:<br />

— Satã não poderá reclamar. Terei cumprido toda a minha obrigação e restará apenas que ele faça a sua parte.<br />

Foi nesse momento que um cheiro horrível invadiu o quarto.<br />

Era a primeira vez que Jeanne sentia aquele odor, um odor que lembrava amoníaco em altas concentrações.<br />

Sim...<br />

Ela sabia que era o Príncipe das Trevas chegando. Mas estranhava aquele cheiro tão forte e tão diferente.<br />

Aos poucos, uma nuvem de fumaça foi se formando diante de seus olhos e Satã apareceu.<br />

Ele tinha a expressão furiosa, os olhos mais esbugalhados e proeminentes do que nunca e pareciam dois pedaços de carvão metidos<br />

em buracos incandescentes.<br />

— Você está perdendo — disse ele — Está perdendo tudo!<br />

Jeanne quis responder, quis protestar e dizer para o Demônio que não, que ela estava fazendo tudo o que era possível fazer e que<br />

dentro de poucas horas estaria com Simone...<br />

Mas não pode...<br />

O Príncipe das Trevas, em meio a um ruído que lhe pareceu o arrastar pesado de um portão meio emperrado, já tinha desaparecido.<br />

Jeanne sentiu um calafrio e começou a transpirar.<br />

Não era preciso ser médico para saber que ela estava ardendo em febre e, sem forças ou coragem para fazer nada, a francesa<br />

simplesmente fechou os olhos, procurando dormir.<br />

— Isso passa — disse ela para si mesma — Foi por causa da viagem. E essa aparição de Satã, não foi real... Foi apenas conseqüência<br />

da febre...<br />

Sorriu consigo mesma e, sentindo-se menos tensa, menos angustiada, adormeceu.<br />

*******<br />

Durante todo o dia, pelo telefone, andando de táxi para baixo e para cima, perguntando às pessoas, revirando o Rio de Janeiro, Jorge<br />

e Simone tentaram encontrar Mãe Antônia.<br />

Porém, parecia impossível.<br />

Mãe Antônia não era conhecida por ninguém, até mesmo em alguns terreiros de Umbanda e Candomblé que eles foram, não lhes<br />

souberam informar.<br />

— Já ouvi falar — diziam alguns.<br />

— Esse nome não me é estranho — diziam outros.<br />

Mas, com precisão, com segurança, ninguém sabia dizer nada.<br />

— Isso não vai bem — falou Jorge já à noitinha, quando regressaram ao hotel — Não fizemos progresso nenhum!<br />

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