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Na semana seguinte, Lucille morreu e quando Jeanne foi à cidade fazer algumas compras, ficou sabendo que Marcel, de fato, já<br />
estava vivendo com Anne Marie.<br />
Assim, Gabrielle acertara.<br />
E, para Jeanne, apenas confirmara suas teorias de que a velha estava mentindo e era perfeitamente capaz de prever o futuro.<br />
Isso fez com que crescesse dentro de si a ansiedade por aprender o mais possível com a feiticeira e fez com que Jeanne tomasse a<br />
decisão de forçar Gabrielle a lhe ensinar os truques necessários para se tornar uma autêntica pitonisa.<br />
Jeanne sofrera muito com a miséria, passara necessidades terríveis quando pequena, enquanto morava na Rue de la Huchette. E não<br />
estava querendo que essa situação de penúria se prolongasse pelo resto de seus dias. Ela estava grávida, iria ter um menino<br />
dentro de mais alguns meses e desejava uma vida melhor, que não fosse isolada numa cabana no meio da floresta, atendendo<br />
pessoas que viessem procurá-la com problemas os mais variados, os mais idiotas do mundo.<br />
Não... Ela não desejava esse tipo de vida!<br />
Mesmo porque era muito moça ainda, tinha a vida inteira pela frente, tinha suas ambições e seus desejos... Sonhos de voltar a ser<br />
plenamente feliz no meio de outras pessoas, numa cidade grande, onde houvesse... vida!<br />
Naquele dia, encontrou Gabrielle com uma profunda expressão de tristeza.<br />
Imediatamente ela soube — adivinhou — o que estava acontecendo. Gabrielle pressentira à distância seus pensamentos.<br />
Sua suspeita se confirmou quando a velha lhe disse:<br />
— Não pense assim, Jeanne. Uma feiticeira branca não pode usar seus dons extra-sensoriais para auferir lucros. Isso seria a pior<br />
coisa que você poderia fazer pois estaria indo contra todos os princípios da verdadeira feitiçaria e contra todos os seus objetivos.<br />
Jeanne não teve o que responder. Gabrielle acertara em cheio e a jovem, só pela expressão de desagrado da velha, já podia adivinhar<br />
que ela jamais lhe ensinaria o que estava querendo aprender.<br />
Um pouco mais tarde, menos aborrecida, Gabrielle veio lhe dizer:<br />
— Quando falei que você ficaria em meu lugar, estava apenas contando um sonho que tive, Jeanne. Não posso afirmar que isso seja<br />
uma profecia. Sonhei que você estava chegando, que se chamava Jeanne e que estava enfrentando sérias dificuldades mesmo porque<br />
estava grávida. Se quiser considerar isso como uma espécie de clarividência, pode considerar. Não discutirei. Mas não foi uma profecia.<br />
Para começar, aconteceu enquanto eu estava dormindo e as profecias são feitas com a vidente em plena e perfeita consciência. Por isso,<br />
não pense que eu estou escondendo coisas de você. Isso não é verdade.<br />
Erguendo os olhos para Jeanne, acrescentou:<br />
— Além disso, você ficará no meu lugar... Isso pode querer significar tão somente que você ficará aqui, em minha casa, quando eu me<br />
for... Não é obrigatório que você se transforme numa feiticeira, como eu!<br />
Essa frase de Gabrielle assustou ainda mais a jovem.<br />
Ficar naquela casa, isolada do mundo... Sem nenhum outro objetivo na vida a não ser esperar o tempo passar...<br />
Não! Jamais!<br />
Jeanne não deixaria que acontecesse! Ficaria ali até ter seu filho e, depois...<br />
Bem...<br />
Depois, ela veria o que poderia fazer.<br />
De uma coisa, porém, ela tinha certeza...<br />
Não ficaria naquele bangalô mais do que o estritamente necessário.<br />
Com um olhar cheio de carinho, Gabrielle murmurou:<br />
— Lembre-se, minha querida... A felicidade é diretamente proporcional àquela que podemos transmitir para os outros...<br />
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