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— Com que então, você acha que tem tanto poder quanto eu? — perguntou Satã com um sorriso mau a lhe repuxar os lábios.<br />
Por um momento, Jeanne sentiu suas pernas tremerem. Ela conhecia muito bem Satã e sua fúria...<br />
Porém, ela lera naquele livro, junto ao parágrafo que dizia ser impossível ao Demônio ler os pensamentos dos seres humanos, que<br />
era preciso, quando numa confrontação, mostrar força e firmeza. Segundo o livro, Satã tinha sido, quando de sua expulsão do Céu,<br />
amaldiçoado por Deus e nele tinham sido postos todos os defeitos e más qualidades. A covardia era uma delas... Assim, Satã seria<br />
covarde e, frente a uma situação em que a força lhe fosse mostrada, ele recuaria.<br />
Claro...<br />
O livro não especificava que espécie de força era a mais adequada no caso.<br />
Jeanne resolveu jogar...<br />
Esforçando-se ao máximo, ela fitou o Príncipe das Trevas e falou:<br />
— Não sei se tenho mais poderes do que você. Mas sei que tenho todo o direito de não querer conjurá-lo! Você me abandonou, deixou<br />
que as coisas acontecessem sem me avisar, sem me prevenir! Na verdade, você está aqui por que quis aparecer! Eu não o chamei e não<br />
vou chamá-lo mais!<br />
Satã sorriu malevolamente e disse:<br />
— Você está errada, Jeanne...<br />
— Como assim, estou errada?! — explodiu Jeanne — então acha que eu tinha de ficar muito satisfeita com o surgimento dessa filha<br />
de Tomás?! Acha que eu haveria de gostar?!<br />
Tomou fôlego e continuou, os olhos muito azuis despedindo faíscas de ódio:<br />
— Você sabia... É impossível que não soubesse! E não me avisou da existência dessa menina!<br />
Baixando um pouco a voz, acrescentou:<br />
— É lógico que tudo seria mais fácil se eu soubesse desde o começo... Teria feito as coisas de maneira a Tomás obrigar Sylvia a<br />
abortar ou, se isso fosse impossível, nós dois juntos, você e eu, teríamos dado um jeito de eliminá-la!<br />
Satã balançou a cabeça negativamente e Jeanne pode notar um brilho de raiva e de frustração em seu olhar.<br />
— Nem sempre as coisas acontecem como se quer ou como se gostaria, Jeanne — disse ele — Essa menina, Simone, está fora do meu<br />
alcance... Por enquanto!<br />
Era uma confissão que Jeanne não esperava ouvir de Satã, do poderoso Príncipe das Trevas, daquele que era chamado Senhor do<br />
Mal. Para ela, no que dizia respeito a coisas ruins, o poder de Satã seria imbatível, ilimitado e terrível. No entanto, ali estava ele, diante<br />
de uma súdita, confessando que não tinha condições de atingir uma indefesa menina de pouco mais de dezoito anos de idade...<br />
— Mas não é possível... — murmurou Jeanne — Simone ainda é uma menina inexperiente e até certo ponto, indefesa! Basta, por<br />
exemplo, que dois malandros a apanhem na rua, a currem e, depois, metam-lhe uma faca nas costelas... O problema estará resolvido!<br />
— Isso jamais aconteceria através de mim ou através de você, Jeanne — replicou o Demônio — Como eu disse, Simone está fora do<br />
meu alcance, por enquanto...<br />
Foi quando ouviu Satã repetir o “por enquanto”, que Jeanne se deu conta de que havia uma possibilidade.<br />
— O que está querendo dizer com isso? — perguntou.<br />
Satã riu e Jeanne notou que ele estava recuperando o seu humor normal, ou seja, um humor sardônico, sarcástico e cáustico.<br />
— Simone está protegida. Há forças que impedem que eu me aproxime dela pois foram direcionadas especificamente contra mim e<br />
contra qualquer coisa que venha de mim. Isso quer dizer que os ensinamentos que eu lhe transmiti sobre como fazer para destruir<br />
alguém, de nada adiantam contra ela.<br />
— Mas há o livro — ponderou Jeanne — E nesse livro há métodos que você não me<br />
O Príncipe das Trevas soltou uma gargalhada bem diferente das que costumava dar.<br />
Nessa, havia um timbre de ódio profundo e o despeito transparecia como se estivesse em alto-relevo.<br />
— Não seja tola! — exclamou — Onde você acha que o autor desse livro foi encontrar esses ensinamentos?<br />
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