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E, com uma expressão maldosa, acrescentou:<br />

— Mas é a última vez que você faz o papel de rato de navio...<br />

Serafina olhou para Jeanne sem entender o que ela estava querendo dizer e esta explicou:<br />

— Os ratos é que se comportam como você, Serafina. Abandonam o navio quando este vai afundar...<br />

Serafina riu, foi para a cozinha começar a cuidar de seus afazeres, atrasados de um dia inteiro pois a patroa não tivera ânimo nem<br />

mesmo para lavar o coador de café.<br />

Balançando a cabeça aprovadoramente, Jeanne pensou:<br />

— De fato... O Príncipe das Trevas está trabalhando a meu favor... Serafina de volta... Daqui a pouco as coisas vão melhorar, vão<br />

entrar nos eixos e tudo voltará a ser como antes!<br />

Em voz alta, entrando em seu quarto, ela exclamou:<br />

— Como antes, não! Serão muito melhores!<br />

De frente para o grande espelho em que passava horas a se arrumar, Jeanne deixou cair no chão a toalha que lhe envolvia o corpo.<br />

Sorriu, satisfeita, para a imagem que o espelho lhe devolvia.<br />

Sim...<br />

Ela era muito bonita, muito desejável.<br />

Na verdade, a gravidez não fizera mais do que amadurecer seu corpo e transformá-lo num autêntico monumento ao Belo.<br />

— Ninguém poderá me resistir — disse ela passando as mãos pela curva dos quadris — Nem mesmo um padre, por mais santo que<br />

seja e...<br />

Riu, acrescentando:<br />

— Sei muito bem que o Padre Rafael não é propriamente um santo... Já notei muito bem como ele olha para mim, de vez em quando!<br />

*******<br />

Vestida, perfumada e fresca como uma alface recém-colhida, Jeanne saiu de casa.<br />

Com passos apressados, atravessou a Rua das Palmeiras e entrou na Igreja de Santa Cecília onde, com certeza, encontraria o padre.<br />

Caminhou pela nave central do templo, olhando para as imagens de santos que havia nos altares laterais e, como sempre acontecia,<br />

sentiu um calafrio.<br />

Não gostava de igrejas, não conseguia olhar por muito tempo para um crucifixo ou mesmo para uma imagem de um santo qualquer.<br />

Era engraçado...<br />

Quando ainda na Rue de la Huchette, muitas e muitas vezes, ela fora à Catedral de Notre Dame apenas para ficar lá, sentada num dos<br />

muitos bancos, gozando da paz que reinava no interior da igreja.<br />

E, no entanto, não podia mais permanecer no interior de um templo mais do que o estritamente necessário. Muitas vezes, em<br />

casamentos e em outras ocasiões em que era imperativo comparecer a uma Missa, Jeanne tinha de fazer um esforço de abstração muito<br />

grande para se imaginar longe dali, em qualquer outro lugar e cercada por outra espécie de pessoas. Se não fizesse isso, sentia que<br />

poderia passar mal, que poderia até desmaiar<br />

Jeanne deu a volta ao altar-mor da igreja sentindo mais forte do que nunca o calafrio, chegando a escutar um desagradável zumbido<br />

nos ouvidos e com a impressão de que, se se descuidasse, poderia até cair no chão.<br />

Alcançou a porta da sacristia e, sem bater, entrou.<br />

Padre Rafael ali estava, sentado a uma escrivaninha, passando a limpo algumas anotações.<br />

Ergueu os olhos do trabalho quando percebeu que alguém entrara e, ao ver Jeanne, sorriu.<br />

—Como vai, Jeanne? — perguntou — Veio se confessar?<br />

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