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Naquela época, as opiniões na França a respeito de Hitler, eram as mais diversas. Havia os que afirmassem categoricamente que<br />
Hitler queria a paz com os franceses, havia os que diziam que ele não passava de uma raposa traiçoeira e que, com a implantação dessa<br />
dúvida não estava fazendo mais que minar a união entre os franceses para, depois, mais facilmente dominar o país.<br />
Com o alarma de março de 1939, alarma este que forçara a mobilização de toda a França para logo em seguida se espalhar a notícia<br />
de que mais uma vez a guerra fora evitada — a primeira vez fora em setembro de 1938 — o sentimento de alerta começou a arrefecer<br />
e a confiança dos militares aumentou muitíssimo. Dizia-se, nos quartéis e nas guarnições, que Hitler jamais atacaria a França simplesmente<br />
por temer o seu potencial bélico.<br />
Mas os alemães não estavam com medo de nada. Muito menos do exército francês.<br />
No dia 14 de junho de 1940, Paris caiu sob as botas e os tanques germânicos.<br />
O desespero foi geral.<br />
Não era apenas o desespero causado por um estado de guerra, por uma derrota militar. Era o desespero provocado pela frustração<br />
e pela perplexidade de ver que, afinal de contas, Paris não era baluarte nenhum, não era a cidadela inexpugnável que certos marechais<br />
faziam questão de considerar.<br />
Muito pelo contrário, a cidade se mostrou frágil, seu povo provou estar debilitado e, psicologicamente, instável.<br />
Os alemães marcharam pelos Champs Elysées, pelo Bois de Boulogne, pela L’Etoile, aos lados da Notre Dame e pelo bairro de St.<br />
Michel.<br />
Tanques germânicos percorreram a Rue de la Huchette a caminho do velho mercado, andaram pela St. Séverin e pela Rue des Deux<br />
Ponts.<br />
Os nazistas estavam ali, em frente às suas casas, dentro de seus cafés, sentados em seus restaurantes, conversando entre si ou com<br />
os próprios parisienses...Estavam em todos os lugares, vigiando, perseguindo, humilhando, dominando...<br />
Para Jacob, essa situação era aterrorizante e insuportável.<br />
Ele sabia perfeitamente do risco que estava correndo pelo simples fato de ser judeu e sabia que estava obrigando Jeanne a um risco<br />
idêntico, ainda mais que ela, semanas antes da queda de Paris, anunciara que estava grávida.<br />
E, carregar no ventre o filho de um judeu, era o pior que poderia acontecer para uma francesa em regime de ocupação germânica.<br />
— Precisamos fugir, Jeanne — disse Jacob — Não podemos continuar em Paris! Precisamos ir para algum lugar onde você possa estar<br />
em segurança!<br />
Jeanne não discutiu. Desde que fora entregue a Jacob por seu pai, ela decidira<br />
que sua vida seria orientada por aquele homem e que não mediria qualquer esforço ou sacrifício para satisfazê-lo. Se ele estava<br />
querendo sair de Paris, sua obrigação era, evidentemente, acompanhá-lo. Ainda mais sabendo que ele assim agia em seu próprio<br />
benefício.<br />
— Arrume nossas coisas — ordenou Jacob — Eu irei até a loja para apanhar o que nos resta de jóias e dinheiro. Assim que regressar,<br />
viajaremos.<br />
Jeanne ficou observando Jacob enquanto ele se afastava pela rua em passos apressados e, de repente, teve um arrepio.<br />
Uma estranha sensação de angústia a invadiu e ela teve a impressão de ser aquela a última vez que o via.<br />
Teve um inexplicável pressentimento de que alguma coisa trágica estava para acontecer e, por muito pouco não saiu correndo atrás<br />
dele para lhe dizer que não a abandonasse, que não a deixasse sozinha.<br />
Sacudiu com energia a cabeça, tentando afastar de sua mente esses pensamentos, dizendo para si mesma que não havia nenhum<br />
motivo para ter essas idéias.<br />
— Sei que estou fazendo Jacob feliz — murmurou — E sei que ele está mais do que orgulhoso com o fato de eu estar grávida! Ele<br />
jamais me abandonaria, ainda mais num momento como este!<br />
E fazendo força para se convencer, acrescentou, em voz alta:<br />
— Jamais!<br />
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