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CAPÍTULO 8<br />
A noite insone, o nervosismo, a angústia de não se ter visto grávida em seu estranho sonho, o fato de nem sequer ter pensado no<br />
filho naquele instante e o desejo quase irracional de poder voltar àquela loja, de poder reprisar os acontecimentos no interior da bola de<br />
cristal, misturavam-se na mente de Jeanne e faziam com que ela ficasse ainda mais nervosa e cheia de ansiedade.<br />
Seriam nove horas da manhã quando ela decidiu voltar a ler o livro — o tal livro que surgira misteriosamente sobre a mesa, sem que<br />
ela o tivesse apanhado — deixando bem à sua frente a bola de cristal.<br />
Se tivesse sorte, tudo aconteceria novamente só que, desta feita, estaria preparada e daria um jeito de aproveitar e de sentir prazer<br />
com a viagem e não medo como na véspera.<br />
Respirou fundo, criou coragem e começou a folhear o livro.<br />
Exatamente como acontecera antes, ela percebeu que era capaz de selecionar o que a pudesse interessar mesmo muito antes de<br />
começar a ler. Ela ia diretamente aos parágrafos importantes como se já conhecesse aquela obra a fundo, como se já tivesse lido e relido<br />
o livro mais de mil vezes.<br />
Ouviu as trovoadas, chegou, uma vez ou outra a sentir o vento e o mau cheiro que ele trazia mas, esforçando-se para não se deixar<br />
impressionar, ela continuou a ler.<br />
Mais ou menos na metade do livro, encontrou o que estava procurando.<br />
Com toda a atenção, leu que era possível, com a ajuda do Príncipe das Trevas, praticar o transporte da alma para outros corpos e até<br />
mesmo para outros lugares. Era, porém, necessário que o Demônio assim o quisesse e, para forçá-lo a auxiliar a pessoa interessada<br />
nesse fenômeno, era preciso conjurar as forças do mal.<br />
E isso, Jeanne não sabia e nem sequer estava muito disposta<br />
a fazer...<br />
O medo ainda era maior do que o desejo.<br />
Havia ali um parágrafo que a ensinava como fazer para chamar Satã em sua ajuda e os olhos da moça pareciam terrivelmente<br />
atraídos para aquele texto. Mas, Jeanne lutou consigo mesma, afastou o olhar do livro e, involuntariamente, voltou-se para a bola de<br />
cristal.<br />
A princípio, pensou que ela estivesse empoeirada mas, prestando um pouco mais de atenção, viu que não, a bola não estava suja mas<br />
sim embaçada.<br />
Instintivamente, com a ponta do xale que trazia sobre os ombros, Jeanne tentou limpá-la e, ao contrário do que esperava, a bola<br />
ficou ainda mais opaca, mostrando apenas um discreto brilho na parte do meio.<br />
Fixou o olhar naquele ponto e viu, maravilhada, que seu rosto se formava como que refletido em um espelho.<br />
Só que seus cabelos estavam penteados, seus olhos estavam bem maquiados e seus lábios, muito finos por natureza, estavam<br />
pintados de uma maneira a aumentá-los, a torná-los mais sensuais.<br />
Jeanne parecia muito feliz ali dentro...<br />
— Quero ir para lá! — exclamou, em voz alta — Quero sentir de perto essa felicidade!<br />
Seria a repetição do que acontecera na véspera, algo que ocorrera naturalmente, sem que Jeanne tivesse desejado, sem que ela<br />
tivesse pedido que sucedesse.<br />
Mas, naquele momento, ela apenas podia ver o seu rosto sorridente, sua expressão de felicidade e realização.<br />
Não conseguia voltar para o interior da bola, não conseguia se transportar para aquele mundo maravilhoso que parecia existir ali<br />
dentro.<br />
Aos poucos, a bola foi ficando mais embaçada e a imagem em seu interior foi se desvanecendo em uma espécie de fumaça acinzentada<br />
e, em seu lugar, foi se formando uma outra figura.