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Jeanne olhou para suas roupas, olhou para o maço de notas que tinha na mão.<br />
Era aquele mesmo dinheiro diferente que já vira tantas e tantas vezes em seus sonhos. Era a mesma loja, uma loja grande e luxuosa,<br />
numa cidade quente e cheia de luz...<br />
Ao seu lado, aquele mesmo homem...<br />
E a mesma impossibilidade de ver seu rosto!<br />
Escutou uma risada... Uma risada horrível, arrepiante, assustadora.<br />
Tudo começou a girar ao seu redor, as prateleiras e mercadorias da loja misturando-se com a decoração da sala do bangalô.<br />
Jeanne, rodando junto com tudo o mais, passou por perto de um balcão de bijuterias. Viu um anel e, involuntariamente, o apanhou.<br />
Tudo rodou mais depressa, as imagens perdendo paulatinamente a nitidez e Jeanne, de súbito, viu-se outra vez na sala da casa de<br />
Gabrielle, sentada numa poltrona.<br />
Atônita, notou que estava segurando na mão o anel que apanhara na loja.<br />
Olhou para o objeto, meteu-o no dedo surpresa ao ver que ele servia perfeitamente, parecia ter sido feito sob medida para ela.<br />
Escutou, então um ruído, algo como se um pássaro muito grande estivesse batendo suas asas.<br />
Olhou pela janela, viu que já anoitecera, estava escuro lá fora.<br />
Ela não acendera as lamparinas da sala e, no entanto, havia luz, uma luz avermelhada que Jeanne logo descobriu vir da lareira onde<br />
as labaredas parecia ter surgido do nada...<br />
Labaredas que estavam transformando em cinzas um grosso maço de dinheiro...<br />
*******<br />
Jeanne passou aquela noite em claro, com medo de dormir.<br />
Se aquilo tinha acontecido com ela acordada, não seria difícil que, se adormecesse, viesse a ser arrastada para o interior da bola de<br />
cristal para nunca mais voltar.<br />
Olhava para o anel em seu dedo, tinha muita vontade de tirá-lo, de jogá-lo para longe mas, alguma coisa a impedia de fazê-lo,<br />
parecia que alguém estava lhe dizendo que não se desfizesse daquela bijuteria pois ela seria uma espécie de vinculação com forças de<br />
ordem muito superior.<br />
Pensou, também em jogar fora, em espatifar a bola de cristal mas...<br />
Jeanne não podia negar que gostara de estar naquela loja...<br />
Mesmo que em uma alucinação. Se quebrasse a bola, possivelmente estaria quebrando a porta de entrada para um mundo fantástico<br />
onde ela era a rainha...<br />
Ou, talvez, estivesse mesmo fechando em definitivo uma saída daquele mundo, daquele bangalô que passara a odiar com tanta<br />
força.<br />
Sua alma estava dividida.<br />
Ao mesmo tempo em que queria voltar a viver aquela experiência, tinha medo.<br />
Medo do desconhecido.<br />
De repente, em meio a esses pensamentos, lembrou-se que, quando estivera lá, naquele mundo que não saberia dizer se era<br />
imaginário ou não, ela não estava grávida.<br />
E, então, veio-lhe a certeza de que aquilo ainda aconteceria... Depois que seu filho viesse ao mundo.<br />
— Mas ele não estava comigo! — exclamou — Ele não estava lá, comigo! Nem sequer pensei em sua existência!<br />
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