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— Gostou... Certamente gostou! Na certa essa francesa está apresentando homens para você!<br />
E, antes que Leila pudesse reclamar, ele arrematou:<br />
— Ou será que você não sabe como foi que Jeanne conseguiu chegar à posição que ocupa hoje?<br />
Leila sabia e, como toda mulher criada sob o jugo dos pais e depois, o do marido, ela tinha uma certa inveja de Jeanne, da liberdade<br />
que ela pudera usufruir até se casar com Tomás Camargo.<br />
Evidentemente, Leila não teria gostado de se prostituir, não teria achado graça nenhuma em ter de dormir com homens para poder<br />
comer. Mas, a própria Jeanne lhe contara, nem sempre tinha sido assim... Muitas e muitas vezes, ela fora para a cama por amor,<br />
simplesmente por prazer e, nessas ocasiões, era ela quem escolhia o parceiro...<br />
Leila teria gostado dessa liberdade, teria gostado de não se ver obrigada a casar com Norberto por imposição de seus pais. Para eles,<br />
Norberto era o homem feito para a filha, herdeiro de uma imensa fortuna em café e em terras, educado, trabalhador e, o que era mais<br />
importante, com conceitos rígidos de moral e de religião.<br />
Foi justamente por causa desses conceitos que Norberto, ao perceber que de nada adiantava conversar com a esposa, resolveu falar<br />
com Jeanne, pedir-lhe para não procurar mais por Leila.<br />
Foi sincero. Ingenuamente sincero. Disse para a francesa que ele não aprovava o seu<br />
comportamento no passado e que achava estar ela influenciando de maneira perniciosa sua jovem e incauta esposa.<br />
Não tenho nada com sua vida — disse ele — Tampouco sou dos que dependem de alguma maneira da posição de Tomás. Por isso, eu<br />
me sinto perfeitamente à vontade para lhe pedir esse favor. Deixe de procurar Leila. Será melhor que faça o que estou pedindo para<br />
evitar dissabores maiores e para que eu não precise simplesmente proibir Leila de sair de casa.<br />
Jeanne sorriu.<br />
Por dentro, ela estava furiosa e, talvez se Norberto não fosse tão grande de corpo, ela tivesse lhe dado uma bofetada. Mas Norberto<br />
era um autêntico cavalão e, além do mais, Leila já lhe falara diversas vezes a respeito de seu gênio explosivo e da facilidade com que<br />
ele decidia distribuir sopapos.<br />
Sopapos que deveriam ter a mesma força e o mesmo efeito de um coice de mula...<br />
— Não se preocupe, doutor Norberto — falou Jeanne — O senhor nunca mais vai precisar ficar preocupado com Leila.<br />
Norberto voltou para casa satisfeito, achando até que tinha sido fácil demais e que Jeanne, afinal de contas, não era a pessoa dura<br />
e má que lhe tinham falado.<br />
Com um sorriso, convidou Leila para jantar fora e arrematou:<br />
— Conversei com Jeanne... E ela não mais será motivo de briga entre nós dois...<br />
120<br />
*******<br />
Assim que Norberto deixou o apartamento, Jeanne começou a trabalhar.<br />
Sentiu logo no início da cerimônia do círculo que sua força não seria suficiente para derrubar aquele homem. Ele era dono de uma<br />
personalidade muito firme, tinha a proteção de alguns santos e, o que era muito importante, ela estava com raiva e ódio demais para<br />
poder se concentrar convenientemente.<br />
Assim, desistiu e, conjurando Satã, Jeanne pediu:<br />
— Faça com que ele nunca mais me aborreça!<br />
Satã deu uma risada e, no meio de uma nuvem de fumaça amarelada e horrivelmente mal-cheirosa, desapareceu.<br />
Jeanne ficou sem saber o que pensar. Normalmente, o Príncipe das Trevas manifestava de alguma forma que iria ajudá-la. Mas, desta<br />
vez, ele simplesmente desaparecera, apenas rira...<br />
Cheia de raiva, Jeanne estava se dispondo a conjurá-lo novamente, quando sentiu uma espécie de tontura.