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Tinha a certeza de vencer, era impossível que num lugar assim ela não conseguisse alcançar, uma por uma, todas as suas metas.<br />
Principalmente porque estava chegando com algum dinheiro.<br />
Recebera, ainda na Inglaterra uma substancial importância por ter ajudado a Resistência e, no navio que a trouxera ao porto de<br />
Santos, Jeanne descobrira que a melhor, mais simples e mais rápida maneira de fazer fortuna não era outra senão exercendo a mais<br />
velha das profissões...<br />
A mesma profissão exercida por sua mãe, por Mariette e suas meninas, por uma porção de conhecidas suas na Rue de la Huchette.<br />
Só que ela, mais esperta, sempre seria capaz de agir melhor do que todas as outras, sempre seria capaz de auferir os maiores lucros<br />
e, o que era muitíssimo importante, de selecionar muito bem os seus... clientes.<br />
Foi exatamente isso o que aconteceu a bordo, quando aquele simpático rapaz começou a olhar demais para ela.<br />
Era um homem com cerca de trinta anos de idade, vigoroso, bonitão, viajante da primeira classe, o que significava ser possuidor de<br />
comodidade financeira.<br />
Com certeza, um homem que não mediria despesas para realizar um desejo e que não se deixaria vencer por barreiras materiais para<br />
alcançar o prazer.<br />
Jeanne estava na segunda classe mas, por ser jovem, por ser bonita e comunicativa, não teve qualquer problema em freqüentar a<br />
primeira e foi justamente isso que possibilitou o encontro.<br />
Tomás Camargo viu-a, interessou-se por ela e, depois de algumas trocas de olhares bastante significativos, aproximou-se.<br />
Muito educado, falando um francês fluente e perfeito, ele a convidou para sua mesa e, depois do jantar, ficaram conversando no<br />
convés.<br />
Tomás contou que tinha ido à Inglaterra para resolver um negócio muito importante e que significava um ganho de dinheiro simplesmente<br />
extraordinário.<br />
— O mundo pode estar em guerra — disse ele — Mas o mundo dos negócios internacionais continua em atividade. Pode ser que haja<br />
uma diminuição de valores e de número de transações mas, isso não significa uma paralisação total. Mesmo em guerra, os países<br />
continuam a precisar de matéria s primas para suas indústrias e, em determinados casos, a necessidade aumenta de modo assustador.<br />
Sorriu e acrescentou:<br />
— No meu caso, por exemplo, as coisas melhoraram muito depois que a guerra começou.<br />
Jeanne percebeu que poderia tirar um bom proveito de todo aquele otimismo e de toda aquela demonstração de poder econômico.<br />
Começou contando uma história triste, que tinha enviuvado e que resolvera tentar a sorte no Brasil.<br />
— Estou disposta a qualquer coisa — falou ela — Tenho a impressão que uma moça cheia de boa vontade e de desejo de progredir,<br />
terá sua chance no Brasil. Pelo menos, é um país novo, onde há possibilidade de trabalho mesmo para quem tenha, como eu, alguma<br />
dificuldade com a língua.<br />
— Isso não será dificuldade — replicou Tomás — Muito pelo contrário, você vai ver que é uma imensa vantagem.<br />
Com um sorriso carregado de malícia, explicou:<br />
— As francesas, principalmente as francesas jovens e bonitas, são muito requisitadas para determinada espécie de trabalho...<br />
Jeanne compreendeu muito bem o que ele estava querendo dizer mas, fazendo-se de desentendida, indagou:<br />
— De que trabalho está falando?<br />
Olhando para Tomás com intensa brejeirice, acrescentou:<br />
— Preciso saber de que se trata pois pode ser que eu não tenha a menor aptidão para ele...<br />
Tomás riu.<br />
Segurando o queixo de Jeanne entre o polegar e o indicador, aproximando-se do rosto dela, disse:<br />
— Não se preocupe... Tenho certeza que você é muito mais do que capaz! E tenho certeza que conseguirá vencer com muita<br />
facilidade, bastando para isso que olhe para seus futuros...<br />
consumidores... da mesma maneira que está me olhando agora!<br />
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