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— Isso não vai acontecer comigo — murmurou Jacob — Pelo menos nessa parte, sei que sou perfeitamente capaz de satisfazer<br />
qualquer mulher!<br />
Mas...<br />
Jacob não pode deixar de pensar que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde... A impotência aconteceria, a idade chegaria,<br />
tão implacável para ele quanto para qualquer outro homem e, então, Jeanne, ainda cheia de vida, cheia de energia e ardor, teria<br />
de procurar a satisfação nos braços de outro, mais jovem, ainda capaz de lhe proporcionar aquilo que ele não mais estaria<br />
conseguindo.<br />
Sacudiu a cabeça procurando afastar de si tais idéias e, com o pensamento longe, rebelde, tentou se dedicar mais uma vez às contas<br />
que estava fazendo.<br />
Logo percebeu que seria impossível. Não conseguia se concentrar no trabalho, chegando mesmo a ver diante de si a imagem de<br />
Jeanne vestida com sua camisa, os seios aparecendo, as pernas muito brancas e bem modeladas ali, ao alcance de suas mãos...<br />
Novamente, procurou pensar em outras coisas, procurou desesperadamente empurrar Jeanne para fora de sua mente, buscando<br />
uma desculpa para voltar atrás, para retornar ao seu estado de solteiro.<br />
— Nem vou me incomodar com o dinheiro que dei para seu pai — murmurou — Acho que cometi um erro e devo pagar por ele... Mas<br />
o erro será muitas vezes maior se eu insistir!<br />
Apertou os lábios, tomando uma decisão.<br />
Ainda não acontecera nada com a moça, ele não a deflorara... Seria até natural que a devolvesse, dizendo para seu pai que não<br />
raciocinara direito na véspera, que estava embriagado e que, por isso...<br />
Lembrou-se que Berthelot, no momento em que saíra para ir buscar a filha, dissera que residia na Rue de la Huchette.<br />
Não é longe daqui — pensou — Irei até lá, agora mesmo!<br />
Fechou a loja e, em passos apressados, rumou para a Rue de la Huchette, já ensaiando o que diria para Berthelot, disposto até<br />
mesmo a desembolsar mais algum dinheiro só para readquirir a liberdade que estava em vias de perder.<br />
Levou um susto quando chegou ao endereço que procurava. Havia uma verdadeira multidão à porta da casa e vários policiais se<br />
acotovelavam com as pessoas, esforçando-se para deixar livre a passagem.<br />
— O que aconteceu? — perguntou a alguém, muito embora já desconfiasse que uma desgraça tinha ocorrido — Por que esse alvoroço<br />
todo?<br />
— Foi um crime — respondeu o inquirido — Marido e mulher brigaram, ele a matou e, depois, atirou-se do cais, espetando-se numa<br />
grade...<br />
Com medo, não querendo acreditar que estava vivendo aquele momento, Jacob indagou:<br />
— E quem eram, esses infelizes?<br />
— O casal Hoche — responderam-lhe — Berthelot e Judith Hoche... E o interessante é que ninguém encontra a filha deles!<br />
Jacob sentiu uma pontada no estômago.<br />
Uma pontada que se transformou rapidamente em angústia quando alguém disse:<br />
— Pobre moça! Deve ter fugido, desesperada, quando viu o que aconteceu! E agora, ela está absolutamente sozinha, sem ninguém<br />
no mundo que a ampare!<br />
Procurando disfarçar da melhor maneira possível o que lhe ia pela alma, Jacob se misturou com as outras pessoas e voltou para casa.<br />
Teria de dar a notícia para Jeanne e teria de procurar resolver com ela aquela situação. — Não vai ser fácil — murmurou — E Jeanne<br />
vai se sentir a mais desgraçada de todas as pessoas do mundo quando eu lhe disser que não a quero em casa...<br />
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