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Tomás, num gesto instintivo, involuntário, apanhou Simone das mãos da mãe.<br />

Simone ampliou o sorriso, estendeu as mãozinhas para tocar o rosto dele...<br />

Era incrível...<br />

Mas, de repente, Tomás achou que sua menor obrigação era reconhecer aquela criança como sendo sua filha.<br />

— Você não vai criar mais casos no futuro? — indagou ele para Sylvia sabendo muito bem que era uma pergunta inútil.<br />

— Você tem a minha palavra — falou ela — Não quero mais nada além de você assumir a paternidade.<br />

Tomás, ainda segurando a criança nos braços, murmurou:<br />

— É uma garantia muito frágil, não acha?<br />

Sylvia sorriu.<br />

Pegando de volta Simone, ela falou, com determinação:<br />

— Tem razão. É frágil e abstrata. Apenas uma promessa minha, será sempre ancorada somente por minha palavra. Mas, você tem a<br />

garantia sólida e concreta de que eu vou lutar para conseguir provar que você é o pai, se isso for necessário.<br />

Devolvendo Simone para Tomás pois esta se agitava querendo<br />

ir para o colo do pai, acrescentou:<br />

— Eu poderia tê-lo procurado logo que soube da gravidez. Poderia ter feito um escândalo dos maiores e poderia ter vindo falar com<br />

você logo que Simone nasceu. Mas não. Quis esperar pois achei que o tempo seria um bom conselheiro tanto para mim quanto para<br />

você.<br />

A menina estava brincando com o queixo de Tomás, emitindo alguns sons ininteligíveis e sorrindo muito.<br />

— Você foi muito esperta — disse ele, rindo — Sabia que eu não conseguiria resistir a esse rostinho...<br />

Sylvia permaneceu em silêncio, sentindo o coração bater mais depressa.<br />

— Está certo — disse Tomás — Vou reconhecer Simone. Ela levará meu sobrenome mas...<br />

Sylvia ergueu os olhos para ele e Tomás arrematou:<br />

— Mas você terá de aceitar uma ajuda de custos pois eu não quero que minha filha passe por dificuldades. Além disso, terá de manter<br />

segredo. A existência de Simone só deverá ser posta à tona no momento que eu decidir.<br />

Sylvia concordou. Ela não tinha muita escolha e a proposta de uma ajuda de custos não era nada ruim pois Sylvia estava desempregada<br />

desde o início da gravidez, vivendo de pequenos serviço s e enfrentando enormes necessidades.<br />

Ela tinha ido a São Paulo apenas com a intenção de convencer Tomás a reconhecer a filha. Mas, se ele estava disposto a outras coisas<br />

além disso, ela só tinha que agradecer aos bons espíritos que lhe estavam proporcionando essa chance.<br />

Emotiva, Sylvia sentiu as lágrimas escorrerem por suas faces enquanto, em sua memória, aparecia a cena que vivera dezesseis<br />

meses atrás, num terreiro de Umbanda...<br />

112<br />

*******<br />

A Mãe-de-Santo, uma negra enorme, usando um vestido branco e rendado, com um colar de conchas e de contas no pescoço,<br />

inclinou-se para a frente e soprou no rosto de Sylvia a fumaça fétida do charuto que estava fumando.<br />

A moça, já nervosa, tensa e sensível, sentindo a cada vinte minutos os enjôos da gravidez de dois meses, surpreendeu-se por não<br />

vomitar com aquele cheiro.<br />

— Você está grávida — disse a Mãe-de-Santo — E vai ter essa criança.<br />

Sylvia queria dizer que não era isso que estava pretendendo, que, muito pelo contrário, queria dar um jeito de tirá-la, mesmo<br />

sabendo que correria um enorme risco de vida.<br />

Porém, não o conseguiu. Sua voz estava presa na garganta, parecia-lhe não ter forças<br />

para soltá-la ou, ainda, parecia não ter condições materiais e físicas de pronunciar uma só palavra.

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