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CAPÍTULO 24<br />
— Não gosto disso — murmurou Sylvia — Não acho que seja bom brigar por causa de dinheiro...<br />
— Não se trata apenas de dinheiro, querida — falou Tomás — Não acho justo o que Jeanne fez para mim e acho menos justo ainda<br />
que ela se aposse de tudo o que eu levei a vida inteira para construir, lesando, em última análise, você e Simone!<br />
— Nós não precisamos de mais, Tomás — replicou Sylvia — Temos tudo o que queremos, você tem um bom rendimento todos os<br />
meses... Não há necessidade de ambicionar mais além disso tudo que já possuímos!<br />
Tomás sorriu, acariciou os cabelos de Sylvia e disse:<br />
— É uma questão de direito, Sylvia. Jeanne viveu comigo, melhor dizendo, às custas de meu dinheiro, durante todos estes anos.<br />
Conseguiu montar, que eu sei, um respeitável patrimônio particular ao qual eu nem sequer desejo ter acesso muito embora eu saiba que<br />
ele foi construído graças a desvios de dinheiro que ela, muito habilmente sempre fez.<br />
Apertando um pouco os olhos, como se aquele assunto lhe desse raiva, Tomás explicou:<br />
— Ela pensava que podia me enganar, imaginava que eu não estava percebendo o que fazia. Mas eu não sou tão ingênuo assim! Não<br />
foi com ingenuidade que eu construí toda a minha<br />
fortuna, Sylvia! E eu percebia muito bem que Jeanne pegava dinheiro de minhas mãos dizendo que era para obras de caridade, que<br />
era para ajudar uma amiga em dificuldades e mais uma porção de outras desculpas esfarrapadas que de maneira nenhuma me<br />
convenciam.<br />
— Se você sabia — argumentou Sylvia — porque não impediu?<br />
— Simplesmente porque eu nunca quis briga com Jeanne — respondeu Tomás — E, também, porque eu achava justo que ela se<br />
defendesse... Afinal de contas, de uma maneira ou de outra, alguma coisa eu lhe devia, não é verdade?<br />
Sylvia preferiu não responder. Se o tivesse feito seria para dizer que as colegas de<br />
profissão de Jeanne costumam cobrar bem menos por uma noitada... Se fosse para dizer alguma coisa quanto a esse assunto, ela<br />
teria falado que Jeanne fora a prostituta mais cara que já havia passado pela vida de Tomás ou de qualquer outro homem.<br />
Tomás continuou:<br />
— Eu vou lutar, Sylvia... Vou lutar para recuperar tudo quanto Jeanne tirou de mim. É um volume de dinheiro bem considerável e eu<br />
acho que Simone e você merecem que eu deixe,<br />
quando me for para o outro mundo, alguma coisa que de fato garanta a sua sobrevivência e o seu progresso!<br />
Sylvia olhou zangada para ele e resmungou:<br />
— Detesto quando você começa a falar essas bobagens...<br />
— Não é bobagem — protestou Tomás — É uma realidade. Uma certeza e, diga-se de passagem. é a única certeza que podemos ter<br />
na vida. Todos nós morreremos, um dia ou outro! E eu quero que, quando chegar a minha vez, aqueles que ficarem não tenham o<br />
menor motivo de queixa!<br />
Os dois calaram-se por alguns instantes e Tomás, olhando para o vazio à sua frente, disse:<br />
— As coisas estão indo bem. Meus advogados já fizeram o contrato que Jeanne deverá assinar ainda hoje e, depois que tudo estiver<br />
resolvido, nós dois iremos viajar.<br />
Voltando a fitar Sylvia, murmurou:<br />
— Aliás... Acho que o melhor a fazer é deixar tudo isso nas mãos dos meus advogados. Não há nenhuma razão para eu me aborrecer!<br />
Iremos para o Rio de Janeiro, nós três, ficaremos por lá até que as coisas com Jeanne se acalmem um pouco e, depois, quando a poeira<br />
toda baixar, poderei voltar e trabalhar em paz. Por enquanto está muito difícil fazer qualquer coisa com Jeanne por trás, com seu espírito<br />
de vingança contra mim...<br />
Deu um sorriso e acrescentou:<br />
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