Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Jeanne sorriu.<br />
De sua garganta brotou uma voz estranha que disse:<br />
— Finalmente, Simone... Finalmente você será minha!, como não é mais virgem, poderei me livrar desta bruxa! Ela não cumpriu a<br />
sua parte no pacto e por isso, será castigada!<br />
Era uma voz grossa, de homem, cavernosa e rascante...<br />
A própria Jeanne estremeceu, horrorizada. Reconhecera aquela voz... Seus olhos, fixos nos de Simone, de repente traduziram todo<br />
o seu pavor.<br />
Era a voz de Satã...<br />
Então, ele a havia traído! Apossara-se de seu corpo sem que ela o percebesse e a obrigara a fazer tudo aquilo!<br />
Nesse instante uma luz muito intensa brilhou entre Jeanne e Simone.<br />
De longe, Jorge viu Mãe Antônia se materializar entre as duas, a negra estendendo as mãos para a bruxa.<br />
Mãe Antônia, com voz forte e enérgica, falou:<br />
— Vá para o seu lugar, Besta Satânica! Não será minha afilhada que você vai conseguir!<br />
Agitando as mãos, pronunciou algumas palavras em Nagô, enquanto uma nuvem de fumaça parecia sair do corpo da francesa.<br />
Jeanne ficou apavorada por um breve instante e, em seguida, desmoronou.<br />
Jorge correu.<br />
Simone, por fim, conseguiu se mexer e também correu ao seu encontro.<br />
Abraçaram-se, sentiram-se, beijaram-se...<br />
— Acabou, querida — disse ele — Mãe Antônia a salvou!<br />
Simone não conseguia falar, as lágrimas rolando por suas faces, seu corpo todo tremendo como se fosse feito de gelatina.<br />
Jorge olhou para onde Jeanne estava e murmurou:<br />
Mãe Antônia a salvou e... destruiu definitivamente Jeanne...<br />
Voltou o rosto para onde vira aparecer a Mãe-de-Santo mas, ela já não estava mais ali.<br />
No lugar onde estivera, havia apenas um ramo de rosas brancas e o anel de ferro que Jeanne sempre usara.<br />
Com passos cautelosos, os dois caminharam até a velha bruxa.<br />
Ela estava respirando e Simone, em um gesto involuntário se abaixou para vê-la.<br />
— Está viva, querido — disse — Não podemos deixá-la aqui...<br />
Jorge balançou afirmativamente a cabeça e, caminhando para o portão do cemitério, falou:<br />
— Você não tem jeito, mesmo... Depois de tudo o que essa mulher lhe fez...Enfim... Tem razão... Mas o máximo que podemos fazer,<br />
será chamar uma ambulância.<br />
Passando o braço por cima dos ombros de Simone, completou:<br />
— Depois disso, não há nem por que lembrarmos do que aconteceu, Simone... Teremos a nossa vida pela frente, não é mesmo? Um<br />
futuro cheio de felicidade...<br />
Simone fez um sinal afirmativo com a cabeça e, no instante em que se afastava com Jorge, viu a sepultura sobre a qual caíra Jeanne.<br />
— Veja! — exclamou ela.<br />
Jorge olhou.<br />
Sob a cruz de ferro fundido que encimava a sepultura, havia uma inscrição...<br />
Com a voz embargada, Jorge leu:<br />
— Maria Antônia Cavalcante de Jesus... Mãe Antônia...<br />
168<br />
*******