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Jeanne passava o dia inteiro dando voltas à cabeça na tentativa de encontrar uma solução. E, quando chegava a noite, ela estava<br />

desesperada, angustiada, sem ter conseguido nem ao menos vislumbrar uma resposta para seu problema.<br />

Que, basicamente, estava reduzido à total impossibilidade de se mexer para onde quer que fosse.<br />

Para cúmulo, ao adormecer, voltava a sonhar...<br />

Nesses momentos, ela se sentia feliz e realizada, sempre cheia de dinheiro, sempre desejada por todos os homens e, o que era<br />

melhor do que qualquer outra coisa, sempre com uma imensa facilidade de se locomover, uma deliciosa liberdade para fazer o que bem<br />

quisesse.<br />

De manhã, ao despertar, a desilusão.<br />

Continuava no bangalô, continuava rodeada de árvores e de solidão...<br />

Passou a odiar aquele local.<br />

Não cuidava mais da casa, não tinha mais o menor interesse pelo jardim, pelos canteiros de cravínias, de rosas, de margaridas e de<br />

gladíolos que tinham sido o orgulho de Gabrielle<br />

e que davam ao bangalô uma aparência de casa de bonecas. O mato cresceu tomando conta do gramado e as ervas daninhas<br />

dominaram as flores, cobrindo os canteiros e misturando-se num autêntico caos.<br />

Bertrand e Louis, percebendo a pouca hospitalidade de Jeanne, espaçaram mais suas visitas, limitando-se a ir até lá de vez em<br />

quando, por uma questão de caridade, para levar-lhe alguns mantimentos e para saber se, por causa da gravidez já bem avançada,<br />

Jeanne não estaria precisando de alguma coisa.<br />

Numa de suas últimas idas ao bangalô, Bertrand chegou a comentar a respeito do estado do jardim.<br />

— Não posso mais me abaixar — desculpou-se Jeanne.<br />

Bertrand, solícito, ofereceu-se para limpar tudo aquilo mas Jeanne, com um gesto de enfado, falou:<br />

— Não vale a pena... De qualquer maneira, não pretendo ficar aqui por muito tempo mais. Vou apenas esperar meu filho nascer.<br />

Depois...<br />

Bertrand deu de ombros.<br />

Na verdade, para ele era excelente que Jeanne tivesse recusado seu oferecimento. Bertrand não conseguia explicar por que, mas ele<br />

não se sentia bem ao lado daquela moça que,<br />

embora com aparência tão meiga, irradiava alguma coisa que o deixava arrepiado.<br />

Com Louis acontecia a mesma coisa. O motorista não conseguia ficar perto de Jeanne mais do que cinco minutos e, uma manhã,<br />

quando lá chegara para levar-lhe um pouco de carne de coelho, notou que não havia um só passarinho nas árvores ao redor do bangalô.<br />

— Estranho — pensou — Quando Gabrielle era viva, este jardim estava sempre cheio de passarinhos e eles até mesmo entravam<br />

dentro da casa!<br />

Esse fato não passou despercebido por Jeanne.<br />

Ela gostava dos passarinhos, ficava às vezes horas a fio olhando para eles, vendo-os fazer seus ninhos e caçar insetos no gramado.<br />

Por isso, quando começou a notar a ausência das aves, ficou triste, imaginando logo que até mesmo os animais e as plantas estavam<br />

querendo deixá-la sozinha.<br />

— Tenho apenas meu filho — disse ela, com as lágrimas a lavar-lhe o rosto — E ele ainda nem nasceu...<br />

Se o jardim estava abandonado, o interior do bangalô não estava diferente.<br />

Jeanne, desanimada, não mais se incomodava nem mesmo com a limpeza da casa e, dessa maneira, a poeira e a fuligem acumulavamse<br />

sobre os móveis, no chão e nas cortinas deixando tudo com um aspecto feio, com uma cor acinzentada e triste. Teias de aranha<br />

multiplicavam-se pelos cantos e formavam desenhos os mais variados, mostrando o desleixo da moça. Batalhões de formigas iam e<br />

vinham pelo chão da cozinha, subiam<br />

pelas paredes e caminhavam por sobre os móveis em busca de restos de comida, refestelando-se na sujeira que ali reinava.<br />

Até consigo mesma, Jeanne relaxara.<br />

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