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Apertando muito os olhos, ele finalizou:<br />
— Tive vontade de matá-la... De apertar seu pescoço com as mãos até ver seus olhos saltarem para fora das órbitas!<br />
Os dois homens ficaram em silêncio por alguns instantes e Jacob, já bastante embriagado, serviu mais conhaque em ambos os copos,<br />
dizendo:<br />
— Eu seria capaz de dar uma mala de dinheiro por uma mulher... Mas por uma mulher que se decidisse a ficar comigo, que fosse só<br />
minha...<br />
— Você está querendo dizer por uma esposa? — indagou Berthelot, mal acreditando no que ouvia, achando que estava sonhando pois<br />
o que aquele judeu estava querendo era justamente o que ele estava querendo arrumar para sua filha — Se é assim, porque não se casa<br />
com alguém de sua religião?<br />
Jacob olhou torvamente para seu interlocutor e respondeu:<br />
— Não quero uma judia... Na realidade, eu não me considero muito judeu, não sou um homem religioso e não conseguiria suportar<br />
um casamento em que tudo é feito com base em fundamentos bíblicos, em ordens e determinações dos rabinos... Quero uma mulher<br />
comum, que não esteja interessada em papéis, em normas litúrgicas, em coisas desse gênero. Quero alguém que não sinta a necessidade<br />
de se fundamentar num deus para sentir a felicidade.<br />
Soltou uma gargalhada e encerrou:<br />
— O meu deus é o dinheiro, amigo... Preciso de uma mulher que também pense assim e que saiba prestar a esse deus a sua merecida<br />
devoção... Que saiba amá-lo ao invés de gastá-lo!<br />
Berthelot ficou calado, pensativo...<br />
Talvez as coisas começassem a melhorar...<br />
Aquele judeu era simpático, parecia ser saudável e, o que era melhor, parecia estar nadando em dinheiro...<br />
E havia sua filha...<br />
Uma moça bonita e que, se continuasse ali, naquela casa e com aquela mãe, muito provavelmente acabaria indo parar no bordel de<br />
Mariette...<br />
Não... Ele não queria isso para a filha. Afinal, aquela menina tinha crescido ao seu lado e, no início, enquanto ela ainda era bem<br />
pequena, tinha sido ele quem trocara suas fraldas<br />
enquanto Judith perambulava pelas ruas à caça de... clientes. Berthelot não gostaria que ela viesse a sofrer ainda mais e, além disso,<br />
se a filha se ajeitasse na vida, com certeza, haveria<br />
de ter uma ou outra sobra que ele poderia abocanhar...<br />
Fitando Jacob com intensidade, ele murmurou:<br />
— Acho que tenho a mulher adequada para você, Jacob... E, se é verdade o que me falou a respeito do dinheiro...<br />
Jacob ergueu do copo os olhos baços e, com a voz já bastante embotada pelo álcool, disse:<br />
— É verdade... Poderei lhe dar o dinheiro necessário para você comprar uma casa...<br />
Com um sorriso canalha, acrescentou:<br />
— Mas, é claro que eu precisarei gostar da mulher...<br />
Berthelot olhou o relógio e, vendo que ainda não era meia-noite, falou:<br />
— Se nós nos apressarmos, poderei levar-lhe uma pessoa que, aposto, você jamais trocará por outra enquanto for vivo...<br />
Jacob balançou pesadamente a cabeça e resmungou:<br />
— Está certo... Vou lhe dar meu endereço... Esteja lá antes de duas horas da madrugada... Estarei com o dinheiro à sua espera.<br />
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