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A mulher olhou para os lados.<br />
Evidentemente, reconhecera a voz de Satã mas não estava conseguindo enxergá-lo.<br />
— Onde está, Príncipe das Trevas? — perguntou ela, irritada — Não estou para brincadeiras, não estou com a menor vontade de<br />
brincar de esconde-esconde!<br />
A gargalhada característica de Satã se fez ouvir e, no meio de uma nuvem de fumaça, ele apareceu.<br />
*******<br />
Durante todos aqueles anos, sempre que Satã aparecera, fizera-o assumindo a forma humana. Ora ele estava com o corpo de Tomás,<br />
ora com o de um outro homem que de alguma maneira impressionara Jeanne, ora estava com o corpo de um total desconhecido... Mas<br />
sempre era a forma de um homem esbelto, elegante e atraente. Jeanne sempre pensara que Satã agia dessa maneira por ser vaidoso.<br />
Afinal, a vaidade é um pecado quando excessiva e nada mais natural que o Príncipe das Trevas acumulasse mais essa falha.<br />
Dessa vez, porém, ele surgiu aos olhos de Jeanne como costumava aparecer nos livros de histórias infantis que falavam do Diabo.<br />
Tinha o corpo nu, apenas a cintura estava envolta num pano preto, a pele era muito vermelha, de um vermelho ígneo, como se fosse<br />
uma brasa viva. Seu rosto perdera a beleza a que Jeanne estava acostumada: estava com lábios muito grossos, revirados para fora, o<br />
nariz era chato e de ventas largas, mais parecendo o nariz de um macaco e os olhos...<br />
Ah, os olhos!<br />
Eram grandes demais, rasgados no rosto largo, esbugalhados e injetados de sangue — se é que um ser desses pode ter sangue nas<br />
veias, o mais provável é que tivesse fogo — e negros como carvão.<br />
A cabeça toda era enorme, desproporcional para o tamanho dos ombros e ao invés de cabelos, tinha pelos... Pelos grossos e<br />
aglomerados como os da juba de um leão e que se separavam na altura da testa para dar lugar a um par de chifres curtos, grossos e<br />
rombos...<br />
Era horrível...<br />
Porém, em todo aquele horror, havia uma sensualidade indizível, um poder de sedução assustador, tão grande que Jeanne, imediatamente<br />
começou a se sentir arrebatada, excitada, desejando com todas as fibras de seu corpo, ser possuída por aquele monstro.<br />
— Eu a avisei — disse Satã — Você não quis me ouvir.<br />
— Tentei — defendeu-se Jeanne, a voz rouca, trêmula, manifestando o desejo que a invadia.<br />
Satã riu inclinando a cabeça para trás e falou:<br />
— Você errou e, agora, terá de pagar pelo seu erro. E como castigo, não lhe darei o que está querendo...<br />
Jeanne quis reclamar mas não conseguiu.<br />
Sua boca permaneceu fechada, a língua travada, muito embora ela fizesse todo o esforço para falar.<br />
— Você sofrerá as conseqüências de seu erro na própria pele -— avisou o Príncipe das Trevas — Simone estará mais forte do que<br />
nunca e o dinheiro que você ainda tem começará a minguar.<br />
— Não! — conseguiu dizer, finalmente, Jeanne — Não deixe que isso aconteça! Eu não suportaria!<br />
O Demônio ergueu os ombros com indiferença.<br />
— Para mim — falou ele — tanto faz que você suporte ou não. De qualquer maneira, você já não me interessa mais.<br />
Com uma risada canalha, acrescentou:<br />
— E não me interessa mais, de jeito nenhum e para nada...<br />
Jeanne entendeu muito bem o que ele estava querendo dizer.<br />
Ela não o teria mais... O Príncipe das Trevas não viria mais amá-la, não mais a possuiria.<br />
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