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No instante seguinte, Jeanne estava outra vez sozinha, só que na outra sala, olhando para a grande porta de madeira em que havia<br />
o entalhe da cena de feitiçaria.<br />
Alguma coisa chamou sua atenção e ela observou com mais cuidado o desenho. Não notara antes mas, no fundo do quadro entalhado<br />
na madeira, havia uma figura de mulher. Era uma figura lindíssima e o seu rosto aparecia muito nitidamente.<br />
E era exatamente isso.<br />
Era o seu rosto! O rosto de Jeanne, maravilhosamente bem entalhado!<br />
Saindo para a rua, já entrando no automóvel de Tomás que, solícito, segurava a porta para que ela entrasse, ela precisou fechar os<br />
olhos por alguns instantes, procurando se acalmar.<br />
Tudo aquilo era tão fantástico que Jeanne ainda não conseguira se acostumar direito. Para ela, às vezes, tudo parecia um sonho e<br />
tinha a impressão de que acordaria de um instante para o outro, ainda no bangalô de Gabrielle em Auvergne ou, o que seria ainda pior,<br />
no quarto sórdido que ocupara na casa de seus pais, na Rue de la Huchette...<br />
— E então? — perguntou Tomás — Como foi a visita?<br />
Jeanne respirou fundo antes de responder:<br />
— Muito bem... Matilde ficou felicíssima com a notícia de que nós dois vamos nos casar...<br />
Tomás segurou a mão da mulher e, puxando-a mais para perto de si, falou:<br />
— Sim, querida... Nós vamos nos casar muito antes do que está imaginando. Mesmo porque não há a necessidade de um pedaço de<br />
papel para que nos sintamos efetivamente casados!<br />
E, sem conseguir esconder uma certa decepção, finalizou:<br />
— Engraçado... Beatriz aceitou com tanta naturalidade a notícia de nossa separação que chego até a pensar que era isso, justamente,<br />
o que ela estava querendo!<br />
*******<br />
No dia seguinte, depois de contar para Tomás uma história comprida a respeito de casas em demolição, Jeanne conseguiu convencêlo<br />
de que uma certa porta era muitíssimo bonita e ela gostaria de tê-la ali no apartamento, fazendo a divisão entre a sala de jantar e o<br />
living.<br />
Tomás concordou mas, com um sorriso, disse:<br />
— Não vale a pena fazer reformas em um apartamento alugado, querida. Você faria bem se fosse escolher um outro, para comprar...<br />
Quando tiver tomado a decisão, basta me telefonar e eu depositarei o dinheiro em sua conta. Depois, nós dois faremos a decoração,<br />
está bem assim?<br />
Antes que Jeanne pudesse protestar, ele acrescentou:<br />
— E é claro que você fará a compra em seu nome. Será o meu presente de... noivado!<br />
Jeanne abriu um imenso sorriso.<br />
Beijou Tomás com paixão e disse, ao seu ouvido:<br />
— Você é maravilhoso, querido... Maravilhoso em todos os sentidos! E a cada momento que passo ao seu lado, mais e mais tenho<br />
certeza de que sou a mulher mais feliz deste mundo!<br />
Na semana seguinte Jeanne estava pessoalmente vendo dois pedreiros colocarem a porta entalhada entre a sala de estar e a<br />
biblioteca de um imenso apartamento que ela comprara — pagando à vista com o dinheiro de Tomás — na rua Veiga Filho.<br />
— A senhora vai se assustar todos os dias com essas figuras... — comentou um dos pedreiros quando terminou o serviço — São<br />
diabólicas!<br />
— Você está me ofendendo! — exclamou Jeanne — Não vê que eu estou aí?<br />
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