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— Eu sei como são essas coisas. Conheço muito bem a sociedade de São Paulo. Jamais admitiriam que eu me casasse sem fazer uma<br />
festa do tamanho de um edifício de vinte andares. Por outro lado, sei o que vão comentar. Vão dizer que você se casou comigo por causa<br />
do meu dinheiro e mais uma porção de outras coisas que nós dois não gostaríamos de ouvir.<br />
Inclinando-se para o lado, disse:<br />
— Prefiro assim. Nosso casamento tem de ser só nosso, Jorge. Ninguém mais tem de participar. Depois, quando voltarmos para o<br />
trabalho, aí sim, poderemos dizer a todos o que aconteceu. E poderemos rir à vontade da cara que certas pessoas vão fazer.<br />
Jorge suspirou.<br />
Por ele, anunciaria aos quatro cantos do mundo que estava se casando com Simone Camargo, faria uma festa monstruosa, faria<br />
qualquer coisa para mostrar a felicidade que estava sentindo. Mas, por outro lado, dava razão a ela. Seria impossível uma cerimônia<br />
discreta e seria impossível evitar os comentários dos invejosos, daqueles que, incompetentes para alcançar a própria felicidade, passam<br />
o tempo tentando minar a felicidade dos que a atingem.<br />
E Jorge detestava estar envolvido por uma aura de inveja...<br />
— Você está certa — murmurou — O que interessa é que nós dois estejamos felizes e realizados. O resto é apenas o resto. Não nos<br />
importa. E não poderá influir em nossa vida.<br />
Sorriu, beijou os lábios de Simone aproveitando um sinal fechado e falou:<br />
— Reservei quartos para nós dois no Copacabana Palace. Fiz isso lá de São Paulo, era mais fácil e podia dispor da infra-estrutura da<br />
empresa. Mas fique sossegada que ninguém desconfiou pois a minha reserva foi feita separadamente.<br />
Fez uma pequena pausa e prosseguiu:<br />
— Poderia ter sido em outro hotel mas, já que é para viver um sonho, achei que você gostaria de ficar lá. Justamente nesta semana<br />
chegarão alguns artistas de Hollywood e no mínimo poderemos jantar na mesma sala que eles...<br />
Deu uma risada divertida e perguntou:<br />
— Bem provinciano, não acha?<br />
Simone também riu e, acariciando com a mão esquerda a nuca de Jorge, indagou:<br />
— Você disse que reservou quartos? Foi isso o que eu entendi?<br />
Jorge olhou surpreso para ela e respondeu:<br />
— Sim... Um quarto para mim e outro para você... No mesmo andar, é claro... Quartos contíguos mas... Separados.<br />
— Não acha que é bobagem? — quis saber Simone, com um sorriso malicioso — Afinal, nós vamos casar depois de amanhã...<br />
— Você me disse que queria casar virgem — respondeu Jorge, muito sério — Por isso pedi quartos separados.<br />
Olhando intensamente para ela, acrescentou:<br />
— Acho que esse seu sonho, essa sua fantasia que sempre achei tola, não vai se realizar se nós estivermos no mesmo quarto... Seria<br />
pedir demais para qualquer um de nós!<br />
Simone riu.<br />
Beijou o rosto de Jorge e murmurou:<br />
— Aposto que você não vai se arrepender por ter esperado tanto... E pode estar certo de que eu lhe sou muito grata por ter tido essa<br />
paciência e por ter sido tão cavalheiro durante todos estes anos.<br />
— Não se trata de uma questão só de cavalheirismo, menina... — falou Jorge com um fingido rancor — Eu sempre tive medo... Já<br />
imaginou o que seria de mim se por acaso você engravidasse? Aqueles dois abutres que são seus advogados e que por um acaso o<br />
abutre maior é justamente meu pai, simplesmente haveriam de querer ver o meu couro virado pelo avesso!<br />
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