Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Olhando com intensidade para Sylvia, ele falou:<br />
— Minha vida está sendo destruída, Sylvia... E a única chance que eu tenho é ficar aqui. Poderei lutar outra vez, acho que ainda tenho<br />
saúde para isso e, com a sua ajuda, tenho certeza de conseguir reconstruir tudo outra vez.<br />
Segurando as mãos de Sylvia, ele murmurou:<br />
— Por favor, querida... Você sabe que nós temos todas as possibilidades de sermos felizes e Simone vai adorar a idéia de ter o pai<br />
dentro de casa...<br />
Disso, Sylvia não tinha a menor dúvida. Sua filha acharia a coisa mais maravilhosa do mundo e, se por acaso ela não deixasse Tomás<br />
ficar e Simone viesse a descobrir que tinha sido por sua causa que o pai fora embora, jamais a perdoaria.<br />
— Bem... — disse ela — Acho que não tenho escolha, não é mesmo...?<br />
Tomás puxou-a para si e disse, beijando-lhe a testa:<br />
— Posso garantir que você não vai se arrepender...<br />
Sylvia sentiu o beijo, sentiu aquela mesma vibração que, dezenove anos atrás, o contato de Tomás lhe provocara. Apertou-se contra<br />
ele, ergueu o rosto, os lábios entreabertos e murmurou:<br />
— Eu sempre sonhei com esse momento, querido... Sempre sonhei e sempre tive medo... Muito medo!<br />
Tomás beijou-a nos lábios, um beijo apaixonado, um beijo que deixava transparecer uma saudade imensa, um louco desejo de se ver<br />
novamente arrebatado por aquela mulher, a única que, no correr de toda sua vida realmente demonstrara ter amor por ele.<br />
— Nós seremos felizes, Sylvia — repetiu — E você, bem como Simone, terão muito orgulho de mim...<br />
— Nós já temos... — murmurou ela — Sabemos que você tem seus defeitos, mas sabemos que tem muito valor.<br />
Sorriu e acrescentou:<br />
— E, o que é melhor, tem um bom coração, incapaz de qualquer maldade...<br />
Encostando a cabeça no peito de Tomás, Sylvia arrematou:<br />
— Basta ver o que fez por nós duas... Se fosse um outro qualquer, poderia não ter assumido a paternidade de Simone ou, se<br />
assumisse, poderia ter se limitado a nos dar uma mesada e<br />
pronto... Mas não... Você fez questão de participar da vida da menina, proporcionou-lhe estudos, ajudou-nos em todos os momentos<br />
difíceis...<br />
Afastando-se um pouco, disse:<br />
— Sim, Tomás... Tenho certeza que nós três seremos muito, mas muito felizes!<br />
— Não vou falar nada para Jeanne ou para qualquer outra pessoa, por enquanto — falou Tomás — Continuarei a trabalhar normalmente<br />
e, quando o escândalo estourar, todos nós estaremos mais preparados para suportar o baque.<br />
128<br />
*******<br />
Sylvia não contestou. Ela estava muito feliz com a decisão de Tomás porém, ao<br />
mesmo tempo, estava muito preocupada.<br />
— Vou precisar ir ao Rio de Janeiro, querido — disse ela, um pouco mais tarde, enquanto servia o prato de Tomás — E quanto antes<br />
eu puder ir, melhor...<br />
— Nesse caso — falou ele — Podemos ir amanhã. Levaremos Simone e, enquanto você faz o que tem que fazer, levarei minha filha<br />
para conhecer a cidade.<br />
— Nossa filha — corrigiu Sylvia, com um sorriso — Simone não é só sua, Tomás... É minha também.<br />
Beijou a testa de Tomás e este indagou:<br />
— Mas... O que você precisa fazer lá? Faz tanto tempo que saiu de lá e, pelo que sei, não tem família no Rio de Janeiro...