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Cautelosa, apertou bem os lábios para impedir-lhes qualquer movimento traiçoeiro e pensou:<br />
— Até mesmo Satã há de se curvar perante mim!<br />
Sorriu interiormente enquanto imaginava o Príncipe das Trevas humilde e submisso a seus pés, implorando-lhe que o atendesse...<br />
— Será diferente — pensou ela — Ele há de vir me pedir para ter uma noite... Será o contrário do que está acontecendo agora quando<br />
eu é que tenho que ficar pedindo as coisas!<br />
Respirou fundo e voltou ao livro.<br />
Olhou com mais atenção uma página...<br />
Ali estava o que buscava.<br />
Um encantamento de morte, um feitiço para ser feito sem a ajuda de Satã e que, sem dúvida, poderia até mesmo fazê-lo ver toda a<br />
sua capacidade e poder...<br />
142<br />
*******<br />
Jeanne olhou o relógio.<br />
Na realidade, ela nem mesmo precisaria ver as horas pois, desde que começara aquele ritual, ela sentia o tempo como se este fosse<br />
algo concreto e que pudesse ser tocado e avaliado em suas dimensões da mesma maneira que um açougueiro experiente é capaz<br />
de dizer o peso de uma peça de carne que apanhe para cortar.<br />
Mas, por força do hábito, Jeanne olhou o relógio e constatou que faltavam apenas alguns minutos para a meia-noite.<br />
Olhou para o céu, onde a lua parecia um prato brilhante no<br />
firmamento.<br />
Era o segundo dia depois da lua cheia e, de acordo com o que dizia o livro, era esse o melhor dia para aquele tipo de feitiço.<br />
Baixando a cabeça, Jeanne viu que tudo quanto iria precisar ali se encontrava, corretamente disposto sobre a lápide.<br />
Sorriu.<br />
Não pode deixar de sorrir ao pensar no que diriam seus conhecidos se a vissem ali, vestida inteiramente de negro, com todos aqueles<br />
apetrechos sobre a lápide de uma tumba no cemitério do Araçá...<br />
Escolhera o Cemitério do Araçá por que ouvira, certa vez, alguns estudantes de medicina dizerem que iam lá à noite para roubar<br />
ossos do ossário quando precisavam repor os que perdiam do laboratório de Anatomia Descritiva. Isso levou-a a pensar que ali não<br />
deveria haver uma fiscalização muito rigorosa e, assim, não correria o risco de ser apanhada pela Polícia ou de ser vista por alguém. De<br />
mais a mais, o Araçá é suficientemente grande para<br />
esconder uma pessoa lá dentro, mesmo que essa pessoa esteja cercada por uma centena de velas...<br />
Olhou novamente para o céu e, como ela mesma previra, uma nuvem estava começando a cobrir a lua.<br />
Chegara o momento...<br />
Rapidamente, dispôs as velas cobrindo todo o perímetro da lápide e, ajoelhando-se no centro, acendeu-as.<br />
Em seguida, erguendo os dois braços para o alto, ela disse:<br />
— Lua, rainha da Noite! Leva o alfanje da morte para Tomás, Sylvia e Simone!<br />
Ao seu lado, os três ratos brancos que ela tinha levado para lá numa pequena gaiola de arame, mexeram-se, nervosos, pressentindo<br />
que alguma coisa ruim estava para acontecer.<br />
Jeanne abriu a gaiola e pegou o rato maior entre os dedos.<br />
Olhou para ele e disse:<br />
—Morra, Tomás! Vá fazer companhia para seus antepassados!<br />
Assim dizendo, mordeu com violência a cabeça do pobre animal, literalmente decepando-a com os dentes.