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94<br />

Ele estava nu e sorriu...<br />

E foi quando sorriu que Jeanne percebeu tudo.<br />

Aqueles lábios finos, os olhos maliciosos e cheios de maldade, de uma maldade que a inebriava, que a apaixonava...<br />

— Mas é você! — exclamou, abrindo os braços e adiantando-se para abraçá-lo.<br />

Sentiu o calor de seu corpo, sentiu-se imediatamente transportada para um tal estado de excitação que mal podia se controlar.<br />

— Você poderia aparecer em sua forma normal — reclamou — _Assim, levei um susto! Pensei que Tomás tivesse voltado e me tivesse<br />

visto preparando o ritual!<br />

Satã balançou a cabeça negativamente e disse:<br />

— Preciso aparecer em formas conhecidas, Jeanne. Sempre pode acontecer de surgir alguém e é melhor que você esteja com seu<br />

marido, não é verdade? Evita a necessidade de muitas explicações. Além disso, duvido muito que você goste de me ver ao natural...<br />

Com brutalidade, ele a beijou e Jeanne pode sentir toda a força de seu desejo.<br />

— Venha — disse ela em um murmúrio — Venha... Eu o quero, já não agüento mais!<br />

Ouviu uma risada, sentiu-se levada para a sala e, no instante seguinte já estava sendo arrebatada para as delícias que Satã, e<br />

somente Satã, podia lhe proporcionar.<br />

Naquela noite o Demônio parecia estar melhor do que nunca...<br />

Jeanne adormeceu depois de algumas horas de intenso êxtase e nem sequer percebeu quando o Mestre se fora.<br />

Quando despertou, o sol já entrava pelas grandes vidraças da sala e ela se surpreendeu ao se ver vestida com as mesmas roupas que<br />

usara quando Tomás se despedira e mais surpresa ficou ao constatar que, na cozinha, não havia nada fora do lugar e tudo se encontrava<br />

absolutamente limpo, como se ela não tivesse feito nada na véspera.<br />

— Será que desta vez foi apenas um sonho? — perguntou-se, já revoltada com a idéia de nada daquilo ter, de fato, acontecido.<br />

Já estava começando a ficar com raiva de si e do próprio Satã, quando seus olhos se dirigiram involuntariamente para o entalhe da<br />

porta da biblioteca.<br />

Como sempre, ela estava lá...<br />

Chegou a sorrir com a lembrança de que somente ela era capaz de ver o seu rosto, maravilhosamente esculpido na madeira, com<br />

uma fidelidade tão grande que até parecia real.<br />

Sim, Jeanne estava ali...<br />

Só que mostrava aquele sorriso de satisfação que caracteriza as mulheres bem amadas e bem possuídas e, ao seu lado, segurandoa<br />

pelos ombros, aparecia a figura de um homem nu que jamais estivera entalhada naquela porta.<br />

Jeanne não podia distinguir suas feições mas, para uma mulher como ela, não é preciso ver o rosto de um homem para reconhecer<br />

o amante.<br />

Era Satã...<br />

Era a prova de que não sonhara mas que, muito pelo contrário, o encontro tinha sido real.<br />

Jeanne acariciou o entalhe tentando sentir nas pontas dos dedos a mesma textura da pele do Príncipe das Trevas. O entalhe estava<br />

quente como o corpo dele e a mulher, instintivamente,<br />

tirou a mão, assustada.<br />

Sorriu de si mesma e voltou a acariciar a figura, dizendo:<br />

— Então aconteceu... Ele esteve aqui!<br />

Olhando-se no espelho, viu que tinha olheiras até o meio da cara e que seu aspecto mostrava claramente que ela passara as últimas<br />

horas fazendo qualquer coisa, menos dormindo...<br />

E era justamente esse aspecto que Jeanne não queria que as amigas e conhecidas vissem pois — ela sabia muito bem — as más<br />

línguas não a perdoariam e não seria nem um pouco difícil que algum comentário maldoso pusesse a perder a sua união com Tomás.<br />

O que era um risco que Jeanne não poderia correr.

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