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— Por isso, vamos começar pelo mais elementar: como arrumar as coisas de maneira a facilitar o nosso trabalho.<br />
Puxando Jeanne pela mão, a velha levou-a até a sala e, mostrando-lhe a mesa que ficava à esquerda da lareira, disse:<br />
— A mesa, ou seja, o local onde vamos atender a pessoa que nos procura, é muito importante. É necessário que os objetos de que<br />
vamos precisar estejam perfeitamente arrumados, colocados em seus devidos lugares e sempre muito limpos.<br />
Riu e, mostrando uma bola de cristal, falou:<br />
— Você pode imaginar como seria fazer qualquer tipo de adivinhação usando uma bola de cristal embaçada...<br />
Jeanne olhou incrédula para Gabrielle e falou:<br />
— Sempre pensei que essa história de bola de cristal fosse mentira... Sempre achei que fosse um imenso charlatanismo!<br />
— Há os que praticam o charlatanismo, Jeanne — explicou Gabrielle — Mas há também os que fazem as coisas seriamente.<br />
— Mas o que é que você vê na bola de cristal? — quis saber a moça — Não é possível que uma fumacinha apareça aí dentro e que<br />
através dessa neblina você consiga enxergar o futuro... Acho que será preciso muito para me fazer acreditar em algo assim!<br />
— E você nem deve acreditar, minha querida! — riu Gabrielle — Não se lê, ou melhor, não se adivinha coisa nenhuma em fumacinhas<br />
de bolas de cristal!<br />
Apanhando com delicadeza a bola, uma esfera transparente de cerca de quinze centímetros de diâmetro e pesando quase três quilos,<br />
Gabrielle mostrou-a para Jeanne, dizendo:<br />
— Você vai ver imagens aqui dentro. Imagens que são produzidas pelo reflexo da luz que incide sobre a superfície da bola de cristal.<br />
Será a interpretação dessas imagens que você vai dizer para as pessoas que a procurarem.<br />
Jeanne podia ser jovem e inexperiente porém, era dona de uma rapidez de raciocínio e de um senso de crítica fora do comum.<br />
Assim, ao ouvir as palavras da velha, ela protestou:<br />
— Mas isso não quer dizer nada! Essas imagens refletidas vão depender da posição de quem as vê! É como se fosse um espelho<br />
curvo, nada mais do que isso!<br />
Gabrielle fez um sinal afirmativo com a cabeça e disse:<br />
— Você tem toda a razão, Jeanne... Na verdade, a bola de cristal é perfeitamente dispensável. Pelo menos para nós, as feiticeiras...<br />
Nós fazemos as adivinhações graças às nossas capacidades extra-sensoriais, graças a um poder perceptivo que as outras pessoas não<br />
possuem.<br />
Tomando fôlego, ela continuou:<br />
— E é justamente por isso, por que essas pessoas que vêm nos procurar não dispõem desse poder de percepção, é que nós usamos<br />
a bola de cristal e mais uma porção de outros truques que servem apenas para fazer com que elas vejam, sintam, imaginem que nós<br />
sejamos diferentes, que temos um conhecimento diferente e maior do que elas mesmas.<br />
Sorriu, apontou para fora através da janela e disse:<br />
— Mas vamos continuar nossa conversa mais tarde... Já está chegando o primeiro cliente... E, pelo que posso sentir, ele vem trazendo<br />
um problema terrível...<br />
*******<br />
Jeanne, a pedido de Gabrielle, foi ficar na cozinha, escondida atrás da cortina que servia de divisão com a sala, numa posição em que<br />
poderia assistir tudo o que estava se passando sem que a sua presença fosse percebida.<br />
— Esse homem está com um problema muito sério — falou Gabrielle — É melhor que, para ele, você não apareça.<br />
A jovem não discutiu.<br />
De seu esconderijo, ela viu o indivíduo entrar na sala e, muito nervoso, foi sentar à mesa, diante de Gabrielle.<br />
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