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O que ela queria era se impor na alta roda, partilhar de jantares, de festas, de reuniões que tanto podiam ser culturais como fúteis,<br />
queria ter amigas, pessoas com quem pudesse passar<br />
horas conversando, comentando sobre compras, sobre decoração, sobre seus amantes...<br />
Mas, nada disso lhe era possível.<br />
Jeanne não tinha o acesso que gostaria de ter junto a essas pessoas, era sempre considerada como uma intrusa, como uma penetra<br />
nas festas em que ia mesmo que convidada, e muitas vezes, em rodas de conversa, ela era ostensivamente posta de lado, as outras<br />
mulheres falando bem depressa pois sabiam que, dessa maneira, não seriam compreendidas por Jeanne, ainda com muita dificuldade<br />
para o idioma.<br />
Restava para ela passar horas e horas fazendo compras, andando pelas lojas, realizando ao menos essa parte de seus sonhos.<br />
Mas era muito pouco...<br />
Jeanne queria mais, muito mais!<br />
Evidentemente, uma mulher jovem e bonita, dona de um corpo escultural, com cabelos cor de fogo e olhos muito azuis, chamava a<br />
atenção dos homens.<br />
Estes sim, faziam de tudo para agradá-la, moviam céus e terra para conseguir-lhe os favores de uma noite, para terem o direito de<br />
levá-la a restaurantes finos, a lugares onde seus pares os pudessem invejar.<br />
Isso, contudo, não satisfazia a francesa.<br />
Em primeiro lugar, por que ela sabia muito bem quais eram as verdadeiras intenções desses cavalheiros e, quando chegava a hora em<br />
que Jeanne deveria retribuir todo aquele interesse e generosidade, as coisas se complicavam.<br />
Ela tinha que fingir o prazer...<br />
Tinha de mostrar para seu parceiro e amante de poucas horas, que ele era um verdadeiro super-homem, que a satisfizera plena e<br />
absolutamente, que não poderia mais viver sem ter outra vez seus carinhos...<br />
E, no entanto, não havia chegado a nada, não sentira nada e, ao ficar novamente sozinha, sentia raiva de si mesma, sentia pior do<br />
que jamais a frustração de não lhe ser possível sentir prazer.<br />
É claro que esse obstáculo não chegava a ser um empecilho.<br />
Jeanne estava consciente de que aquela era a única maneira de conseguir ao menos ter uma vaga idéia da boa vida que lhe fora<br />
mostrada em sonhos. E sabia que deveria aceitar os presentes que lhe ofereciam esses cavalheiros, mesmo que isso lhe cheirasse a<br />
prostituição, um pouco menos sórdida do que se recebesse dinheiro como fizera no navio mas...<br />
Jamais deixaria de ser prostituição.<br />
O que a fazia viver permanentemente preocupada.<br />
Ela era desejada e chegava a ser disputada pelos homens mas, isso não seria assim para sempre.<br />
Os anos passariam para ela como passavam para qualquer outra mulher. Ela envelheceria e os homens deixariam de procurá-la,<br />
deixariam de lhe dar presentes e, consequentemente, de sustentá-la.<br />
Assim, Jeanne precisava encontrar a estabilidade com alguém que a fizesse ficar tranquila com relação ao futuro.<br />
Evidentemente, seria ótimo se conseguisse encontrar um marido, um homem que tivesse meios materiais de mantê-la em um bom<br />
nível econômico e social e que pudesse, além disso, satisfazê-la na cama de maneira a não sentir a necessidade de continuar aquela<br />
busca do prazer, de cama em cama, achando que o próximo poderia ser aquele que a transportaria aos píncaros do êxtase, que a faria<br />
viver as delícias da verdadeira materialização do amor, que a levaria a se sentir realizada como mulher.<br />
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