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E era essa faceta de Gabrielle que Jeanne queria conhecer melhor, que queria aprender.<br />
— Como é que você faz para ler os pensamentos dos outros? — quis saber.<br />
Gabrielle suspirou e respondeu:<br />
— Uma pessoa como eu é chamada de feiticeira porque é capaz de realizar coisas e de provocar fenômenos que as mentes das<br />
pessoas comuns não conseguem explicar e, por isso, dizem ser sobrenaturais. No entanto, isso não é bem verdade. No fundo, uma<br />
feiticeira não é mais do que uma pessoa sensitiva, capaz de perceber energias invisíveis e insensíveis para as outras.<br />
Impedindo, com um gesto, que Jeanne a interrompesse, Gabrielle prosseguiu:<br />
— No meu caso, por exemplo, sou capaz de perceber, sentir e ver a aura das pessoas. Assim, posso definir-lhes o caráter apenas pela<br />
cor e pelo brilho da mesma. É como um invólucro luminoso que contorna a silhueta de uma pessoa quando a observo num lugar menos<br />
iluminado ou, então, quando ela se encontra contra a luz. Dessa maneira, uma aura azulada significa uma pessoa de bom caráter<br />
enquanto uma outra, com a cor tendendo ao<br />
esverdeado, mostra egoísmo e inveja; já uma aura arroxeada indica uma pessoa de profundos princípios religiosos... As auras que<br />
apresentam tons do lilás, são típicas dos que estão apaixonados e que são correspondidos nessa paixão. O que, em resumo, traduz<br />
pessoas felizes.<br />
— Mas essa sua explicação não tem nada a ver com a capacidade de adivinhar os pensamentos — protestou Jeanne.<br />
— Como Não?! — fez Gabrielle — A telepatia está diretamente ligada à aura! Principalmente quando existe uma proximidade. Faço<br />
com que minha aura interaja com a da outra pessoa e, assim, posso até mesmo dizer que me encontro no interior de seus pensamentos!<br />
— Mas nem sempre há essa proximidade — ponderou Jeanne.<br />
— De fato — admitiu a velha — Quando a pessoa está distante, a telepatia se torna mais fácil se a feiticeira puder dispor de algum<br />
objeto que ela use ou tenha usado com muita frequência, ou então de um pedaço de seu corpo.<br />
Jeanne arregalou os olhos, horrorizada, quase gritando:<br />
— Um pedaço do corpo?!<br />
— Sim — confirmou Gabrielle — Uma lasca de unha, uma mecha de cabelos, um dente que lhe tenha sido arrancado...<br />
Jeanne respirou aliviada vendo que a feiticeira não mencionara um braço, uma mão ou, quem sabe, outra parte ainda mais<br />
impressionante do corpo humano...<br />
— É por isso que, em muitos encantamentos praticados por nós, principalmente os encantamentos de amor, é necessário que se<br />
traga alguma coisa de quem vai ser encantado. Nesses casos, uma concentração psíquica direcionada enquanto estamos segurando um<br />
objeto pertencente a essa pessoa, praticamente faz com que ela escute uma ordem dada por nós. Para ser mais precisa, faz com que<br />
seja induzida a agir exatamente como queremos.<br />
Gabrielle sorriu e completou:<br />
— Mas não podemos usar esse dom para tirar proveitos próprios... Não podemos, por exemplo, tentar um encantamento que nos<br />
traga dinheiro, que faça alguém aparecer aqui com uma mala de ouro e deixá-la em nossa porta. Se isso fosse possível, a vida das<br />
feiticeiras seria muito fácil!<br />
*******<br />
Depois de quatro meses em companhia de Gabrielle, a moça já conseguia fazer muitas coisas que, aos olhos dos leigos, passariam<br />
perfeitamente por atos de feitiçaria.<br />
Assim, ela já sabia como efetuar uma porção de curas ditas milagrosas, sabia ler na bola de cristal, sabia distinguir entre problemas<br />
físicos e meramente psíquicos e, o que era muito<br />
importante segundo Gabrielle, Jeanne sabia preparar muito bem certos filtros de amor e de progresso material.<br />
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