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— Há coisas em que não podemos interferir... Há provações que Deus quer que aconteçam e que não temos o direito e nem mesmo<br />
o poder de modificar. É a nossa missão nesta Terra, minha filha. Por vezes, não entendemos a Vontade Divina e nos revoltamos...<br />
Tentamos mudar o nosso destino mas aí, tudo fica muito pior. Por isso, reze... Apenas reze para que tudo aconteça de acordo com a<br />
Vontade de Deus.<br />
Beijou-a em ambas as faces e, despedindo-se, falou:<br />
— Estarei com Simone dentro de alguns anos. Fique tranquila em relação à sua filha. Ela está bem protegida desde o dia em que foi<br />
concebida.<br />
Sorriu aquele sorriso bondoso que a caracterizava e disse:<br />
— Ela sim, eu pude proteger...<br />
— E eu, Mãe Antônia? E Tomás? Nós não estamos protegidos?<br />
A preta balançou a cabeça em sinal de dúvida e repetiu:<br />
— Há coisas em que não podemos interferir...<br />
Sorriu, e Sylvia pode ver que havia muita tristeza nesse seu sorriso...<br />
— Mas vá sossegada, minha filha... A Vontade de Deus é soberana... E nós devemos respeitá-la!<br />
130<br />
*******<br />
Sylvia deixou o terreiro de Mãe Antônia muito impressionada com suas palavras. Pelo que pudera entender, havia alguma coisa de<br />
muito ruim e muito grave escrita em seu Livro de Destino, tão grave que nem mesmo Mãe Antônia tinha poderes para resolver.<br />
— Tenho de me fiar em São Jorge e em orações — disse ela — E não estou gostando nada disso!<br />
De fato, Sylvia não podia mesmo estar gostando do resultado daquela visita. Ela esperava que Mãe Antônia dissesse que, depois de<br />
tantos anos, já não havia mais perigo nenhum para ela, para Tomás e para Simone. Porém, não lhe tinha sido dito nada disso, muito<br />
pelo contrário.<br />
Havia algo tétrico...<br />
E Sylvia precisaria rezar muito...<br />
Caminhando pelas ruas do Centro em direção à Capela dos Enforcados, Sylvia lembrou que Simone, pelo menos, estava bem<br />
protegida. Isso era bom...<br />
— Ao menos ela — disse — Minha filha não precisará se preocupar tanto...<br />
Recordou as palavras de Mãe Antônia, quando ela dissera que estaria com Simone dentro de alguns anos.<br />
— O que será que ela quis dizer com isso? — perguntou-se, entrando na ala de queima de velas da capela — Será que Simone virá ao<br />
Rio de Janeiro para procurar por ela? Ou será que Mãe Antônia está achando que vai morrer e, assim, poderá proteger melhor minha filha?<br />
Esse pensamento a assustou e, fazendo meia-volta, Sylvia quis retornar ao terreiro para perguntar à Mãe-de-Santo o que ela estava<br />
tentando dizer com aquela afirmação.<br />
Porém, no instante em que ia saindo da capela, a voz de Mãe Antônia sussurrou em seu ouvido:<br />
— Não queira saber coisas que eu não posso explicar, minha filha... Acenda suas velas, reze um pouco e vá se encontrar com os seus.<br />
Não é hora de você querer saber mais do que deve.<br />
Sylvia estremeceu. Não estava, de maneira nenhuma, acostumada àquele tipo de coisa e teve medo.<br />
Acendeu apressadamente as velas e, rumando para a nave central da capela, ajoelhou-se diante do altar e, por mais de dez minutos, rezou.<br />
Rezou com fervor, pedindo a São Jorge para protegê-la, para proteger Tomás e Simone... Pediu proteção também para Mãe Antônia<br />
e para todos os que participavam de seu terreiro e, quando terminou, parecia estar muito mais aliviada, como se lhe tivessem tirado um<br />
peso enorme de cima dos ombros.