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E havia provas.<br />
O caso de Nildo, por exemplo, a morte das três pessoas que tinham sido praticamente expulsas da casa de Jeanne... E isso, sem falar<br />
dos inúmeros casos de impotência sexual, de frigidez, de traição que sua mulher tinha resolvido.<br />
De posse dessas informações e vendo-as comprovadas, Tomás achou melhor não mexer com Jeanne pelo menos por enquanto...<br />
Não que ele acreditasse piamente nessas coisas mas, como bom quatrocentão, tinha sido criado por uma empregada negra, filha de<br />
escravos e que lhe contara tantas e tantas coisas a respeito de espiritismo, de bruxarias e de feitiçarias as mais diversas, que ele, por<br />
uma questão até de reflexo condicionado, tinha medo de mexer com qualquer coisa que lhe cheirasse a sobrenatural.<br />
Dessa maneira, se ele já tinha uma certa reserva em relação à parte espiritual de sua esposa, era mais do que claro que passasse a<br />
temê-la e, algumas vezes, surpreendeu-se a se persignar depois de cruzar com ela no corredor do apartamento pela manhã...<br />
— Nada de separação — dizia para si mesmo — De repente, ela me roga uma praga e meus negócios vão para o beleléu...!<br />
Era preferível aguentar, engolir mais alguns sapos e, depois...<br />
Bem...<br />
Um dia, a corda haveria de estourar.<br />
Provavelmente quando ele tivesse de voltar ao Rio de Janeiro e reencontrasse Sylvia.<br />
110<br />
*******<br />
A vida do casal seguia nesse ritmo, sem que nenhum dos dois se decidisse a parar para pensar e interpelar o outro embora houvesse<br />
razões de sobra para tanto quando, numa manhã de segunda-feira, Tomás entrou no escritório, na Praça Patriarca, e surpreendeu-se ao<br />
ver Sylvia à sua espera.<br />
Ela estava mais bonita do que nunca, um pouco mais cheia de carnes, o busto parecendo maior e mais generoso, os cabelos<br />
arrumados num penteado elegante.<br />
Tomás não pode deixar de notar que ela estava vestida com simplicidade o que contrastava um bocado com a maneira como a moça<br />
se trajava lá no Rio de Janeiro.<br />
E...<br />
Sylvia trazia no colo uma criança de pouco menos de um ano de idade.<br />
Um pouco perturbado pela surpresa e intrigado com o fato de ela ter vindo procurá-lo em São Paulo após mais de ano e meio, Tomás<br />
convidou-a a entrar em sua sala, dizendo:<br />
— Mas é uma surpresa extremamente agradável, Sylvia! Vamos entrar... Acho que depois de tanto tempo...<br />
Sylvia, sempre carregando a criança, passou para o interior do gabinete de Tomás e disse, assim que ele fechou a porta:<br />
— Sim, Tomás... Depois de todo esse tempo, é claro que nós temos muito o que conversar.<br />
Sorriu e acrescentou:<br />
— Aliás, nós três...<br />
E, mostrando a criança para Tomás, disse:<br />
— É pena que sua filha, Simone, ainda não saiba falar...<br />
Tomás sentiu, de repente, que o chão faltava sob suas pernas.<br />
Sentou-se, depressa, na poltrona ao lado de Sylvia e balbuciou:<br />
— Não entendi direito... Você disse... que essa criança...<br />
Sylvia o ajudou:<br />
— Isso mesmo, Tomás... Simone é sua filha.<br />
Tomás balançou a cabeça negativamente e murmurou, quase em pânico: