Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
— Não se preocupe, Mestre — falou ela, já excitada, já imaginando o que aconteceria se conseguisse trazer o Príncipe das Trevas para<br />
sua casa, naquela noite — Daqui a pouco eu o estarei chamando!<br />
*******<br />
Como já acontecera outras vezes, Jeanne notou que ao abrir o livro, seus olhos caíam diretamente nos parágrafos que tinham alguma<br />
relação com o que estava pretendendo fazer. Sorriu percebendo que nem sequer tinha a necessidade de procurar os rituais que deveria<br />
executar pois parecia que o Príncipe das Trevas a dirigia para os textos mais adequados e fazia-a fixar a leitura naquele que seria o<br />
necessário para a conjuração.<br />
Para Jeanne isso era um bom sinal, mostrava que Satã também estava interessado naquele encontro.<br />
— Ele também quer! — exclamou — Satã também está com vontade de me possuir!<br />
Estudou com toda a atenção o ritual em que seus olhos, parecendo de fato comandados por uma força superior, se fixaram e, quando<br />
o relógio da sala marcava onze horas da noite, Jeanne começou a preparar o ambiente para o encontro amoroso com o Mestre.<br />
Já dispensara a empregada dizendo-lhe que aproveitasse a ausência de Tomás para ir fazer aquela visita a uma tia no interior que<br />
havia tanto tempo ela desejava fazer e, sozinha no<br />
grande apartamento, tinha total liberdade para o que bem entendesse.<br />
Foi para a cozinha, apanhou uma velha panela de barro que jamais era usada e que Serafina mais de mil vezes sugerira que fosse<br />
jogada fora, colocou-a sobre o fogão e deixou-a aquecer sem nada dentro.<br />
—E a Serafina que queria jogar essa panela — riu Jeanne — Tive de inventar que ela é uma lembrança de minha avó...!<br />
Quando a panela estava bem quente, Jeanne despejou quase uma lata inteira de azeite em seu interior.<br />
A temperatura excessiva fez com que o azeite fervesse e liberasse uma fumaça azulada com o enjoativo cheiro que lhe é característico.<br />
Jeanne tampou a panela e, depois de alguns minutos, quando a cozinha inteira estava cheia de fumaça, jogou no azeite quente<br />
quatro tocos de vela que se derreteram imediatamente fazendo espuma e respingando óleo para todos os lados.<br />
Em seguida, ela apanhou de um dos vasos da sacada, um punhado de terra, jogando-o na panela.<br />
Mais uma vez, o ruído de fritura se fez ouvir, o azeite espirrou e um cheiro horrível se espalhou pela cozinha.<br />
Jeanne voltou a tampar a panela e, depois de se concentrar um pouco na imagem de Satã, foi para seu quarto. Despiu-se completamente<br />
e, embrulhada apenas num xale negro que comprara havia poucos dias e de que Tomás não gostava dizendo que lhe dava um aspecto<br />
diabólico, voltou para a cozinha trazendo na mão esquerda um frasco com iodo metálico.<br />
Despejou na panela o conteúdo do frasco e alguns segundos depois, uma fumaça arroxeada se desprendeu da panela.<br />
Nesse momento, Jeanne ergueu as mãos acima da cabeça e, mais uma vez se concentrando na figura do Príncipe das Trevas, disse:<br />
— Vinde, Mestre! Sua serva está pronta para recebê-lo! Vinde mostrar o seu poder!<br />
A fumaça parou de sair da panela e Jeanne, seguindo o que lera no livro, tirou-a do fogo, despejando o seu conteúdo na pia.<br />
Mal tinha acabado de fazer isso, sentiu a presença de alguém às suas costas.<br />
Voltou-se vivamente, já com um sorriso nos lábios e com a certeza de que estaria frente a frente com Satã.<br />
Assustou-se ao ver que Tomás estava ali.<br />
Empalideceu...<br />
— T- Tomás...! — gaguejou — Mas o que está fazendo aqui?!<br />
*******<br />
93