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— Você é diferente... Talvez não chegue a ler pensamentos mas eu sinto que possui um grande poder interior.<br />
Sentando-se na beirada da cama, falou:<br />
— Só precisa saber usá-lo, Jeanne... Saber distinguir a verdadeira felicidade da falsa, perceber que se pode ser feliz com pouca coisa,<br />
simplesmente ajudando os outros. Aí sim, os poderes extra-sensoriais que você com certeza possui, estarão sendo bem usados.<br />
Respirou fundo e acrescentou, quase num fio de voz:<br />
— Mas tenho medo... Tenho muito medo de que não consiga...<br />
Ergueu os olhos, fitou Jeanne com intensidade e completou:<br />
— Você ainda está presa às coisas materiais. Muito presa. Se conseguir se libertar de tudo isso, aí sim, terá atingido o ponto mais alto<br />
de seus conhecimentos e de seus poderes.<br />
Jeanne franziu as sobrancelhas.<br />
As palavras de Gabrielle a impressionavam e assustavam.<br />
Jamais imaginara possuir qualquer espécie de poder a não ser o de fazer com que Jacob se sentisse realizado como homem. O que,<br />
no fundo, sempre fora uma espécie de frustração para Jeanne uma vez que ela não conseguia sentir a mesma realização...<br />
Gabrielle estava pondo à sua frente um horizonte novo, uma nova visão de si mesma e isso, é claro, só poderia assustá-la.<br />
Depois de engolir o que estava em sua boca, Jeanne reuniu coragem suficiente para perguntar:<br />
— Mas... Quem é você, Gabrielle? Como é que consegue ler meus pensamentos, como é que conseguiu mandar Louis ir me buscar na<br />
estação sem nem mesmo falar com ele, sem nem mesmo saber que eu vinha para cá?<br />
Gabrielle sorriu candidamente e respondeu:<br />
— Eu sempre soube que você viria, Jeanne... Até mais ou menos um ano atrás, não sabia seu nome ou como você poderia ser. Apenas<br />
tinha a certeza que apareceria uma jovem que teria poderes suficientemente fortes e bem desenvolvidos para me substituir. Mas, como<br />
dizia, há mais ou menos um ano, fiquei sabendo seu nome, como você é e em que situação chegaria aqui...<br />
Jeanne pousou a xícara sobre o pires e, com os olhos arregalados, perguntou:<br />
— Isso quer dizer que você pode prever o futuro?<br />
E, antes que Gabrielle pudesse responder, muito excitada, acrescentou:<br />
— Quero saber se terei um menino ou uma menina... E quero saber se eu serei feliz... Se reencontrarei Jacob, se...<br />
Com um gesto da mão direita, Gabrielle a interrompeu, dizendo:<br />
— Essas suas perguntas podem ser respondidas sem a necessidade de se poder prever o futuro, minha querida...<br />
Sorriu, bondosa e continuou:<br />
— Posso dizer se o bebê que está em sua barriga é homem ou mulher através de processos muito simples de radiestesia... Já a sua<br />
segunda pergunta, sobre se vai reencontrar Jacob ou não, posso responder pelo conhecimento dos fatos políticos que estão gerenciando<br />
a vida européia na atualidade.<br />
Muito séria, olhou para Jeanne e arrematou:<br />
— Jacob é judeu. Foi preso pela Gestapo e enviado para um campo de prisioneiros. O que é que você acha que vai acontecer com ele?<br />
Pousando a mão sobre o ombro de Jeanne, Gabrielle murmurou:<br />
— Não tenha ilusões, Jeanne... Jacob jamais voltará. E não é preciso ser adivinho para dizer isso. Basta ter bom senso.<br />
Jeanne apertou os lábios e, depois de alguns segundos, disse:<br />
— Mas... Se você é capaz de dizer que a criança que estou esperando é de determinado sexo, então pode prever o futuro...<br />
— Não — replicou Gabrielle — Não posso prever o futuro. Posso, isso sim, sentir as vibrações emanadas por seu bebê e dizer se é<br />
homem ou mulher.<br />
Jeanne baixou os olhos e, tímida, indagou:<br />
— Pode dizer o sexo de meu bebê... agora?<br />
Gabrielle pousou a mão sobre o ventre de Jeanne, ficou assim por quase um minuto e respondeu, com segurança:<br />
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