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Não poderia jamais imaginar que Hilda, aquele exemplo de estoicismo e de boa educação, pudesse pedir, em casa de uma quase<br />
estranha, uma bebida forte... E ainda mais àquela hora da manhã!<br />
— Mas isso é coisa de alcoólatra! — exclamou, sem conseguir ou, quem sabe, sem querer reprimir suas palavras.<br />
— Sei disso — murmurou Hilda, baixando os olhos — Mas ultimamente não tenho podido fazer outra coisa a não ser beber... Tenho<br />
bebido muito, é verdade... Mas só encontro algum alívio quando já começo a ficar tonta.<br />
Jeanne foi até a cozinha, apanhou um copo com água gelada, pôs dentro dele duas colheres de sopa de mel, misturou algumas gotas<br />
de conhaque e outras de melissa. Deu-o para Hilda e falou:<br />
— Tome isto. Tem um leve perfume de conhaque e é um bom calmante para os nervos. Vai lhe fazer bem e você, depois que me<br />
explicar tudo, depois que me disser onde eu a poderei<br />
ajudar, vai se sentir muito melhor.<br />
Hilda obedeceu, tomou um grande gole da bebida e, olhando para Jeanne com desespero, falou:<br />
— Meu marido está indiferente, comigo! Em relação a mim, está completamente incapacitado, ficou impotente! De um momento para<br />
o outro, ele não conseguiu fazer mais nada comigo, não me procura mais e, quando tentei forçá-lo, disse que não estava disposto,<br />
que não queria nada... E ele está assim há mais de seis meses! No entanto, já chegaram aos meus ouvidos, notícias de que ele<br />
continua o mesmo homem maravilhoso de sempre com as meninas dos inferninhos e cabarés que deu de freqüentar!<br />
Jeanne franziu as sobrancelhas.<br />
Com dificuldade e com um tom de incredulidade em sua voz, ela indagou:<br />
— Mas... Por que diabos você achou que eu seria capaz de resolver esse problema? De que maneira espera que eu possa ajudá-la ou<br />
ao seu marido?!<br />
Hilda baixou os olhos e, depois de um silêncio constrangedor de mais de um minuto de duração, ela disse:<br />
— Ouça, Jeanne... Pelo amor de Deus, não se ofenda...<br />
Jeanne interrompeu-a para dizer:<br />
— Não me peça nada por Deus, Hilda... Ele não tem nada a ver com isso!<br />
Olhando para a visitante com curiosidade, pediu:<br />
— Mas prossiga. Diga o que está pensando.<br />
Hilda ergueu os olhos, tímida e murmurou:<br />
— Todos sabem de seu passado, Jeanne... Não há quem não saiba, na sociedade de São Paulo, de que maneira você chegou ao Brasil<br />
e de que meios lançou mão para sobreviver e progredir até se unir a Tomás Camargo...<br />
Jeanne sentiu o coração falhar.<br />
Não podia acreditar no que estava ouvindo!<br />
Aquela mulher tinha tido o desplante de ir à sua casa, àquela hora da manhã para lhe dizer dessa maneira que ela não passava de<br />
uma prostituta e que todos em São Paulo sabiam disso?!<br />
Jeanne arregalou muito os olhos e ia abrindo a boca para falar, para protestar e, em seguida por para fora aquela desaforada, quando<br />
Hilda, com as lágrimas escorrendo por suas faces, pediu:<br />
— Ajude-me, Jeanne! Sei que você é a única que pode me ajudar! Não quero perder meu marido! Não quero que ele me substitua por<br />
uma dessas mocinhas aventureiras que só estão de olho na fortuna de homens mais velhos!<br />
Jeanne fitou com intensidade os olhos de Hilda.<br />
Pareceu-lhe que aquela mulher estava sendo sincera e que, de fato, estava sofrendo muito com o comportamento e com a atitude do<br />
marido.<br />
Hilda tomou mais um gole da bebida e disse, a voz baixa, arredia:<br />
— Achei que você talvez pudesse me ensinar alguns truques... Algumas dessas artimanhas que as... profissionais... sabem usar para<br />
encantar um homem e para amarrá-lo ao pé de sua cama!