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CAPÍTULO 28<br />
Três meses já tinham passado desde que Jeanne invocara Satã pela última vez e nada acontecera que pudesse dar a ela a idéia de<br />
uma modificação naquele desesperador estado de coisas.<br />
Simone continuava a progredir, sua fortuna aumentava dia após dia e Jeanne, ao contrário, desmoronava. Já era voz corrente que ela<br />
estava sofrendo de uma grave doença e que a transformara numa velha muito antes do tempo.<br />
Havia aqueles, cujo coração era menos empedernido, que tinham pena da pobre mulher mas, a maioria, não pensava assim. Durante<br />
todos aqueles anos, Jeanne pisara sobre muitas<br />
pessoas, causara muitos sofrimentos e humilhara demais aqueles que tiveram o azar de se atravessar em seu caminho. Por isso, era<br />
mais do que natural que não se apiedassem dela e, muito pelo contrário, chegassem a achar que nada poderia ser mais justo do que ela<br />
sofrer alguma coisa.<br />
— É castigo de Deus — comentavam — E Jeanne fez por merecê-lo.<br />
Na Justiça, as coisas também começavam a se precipitar e o advogado de Jeanne apareceu para dizer que dentro de poucos dias, o<br />
Juiz deveria dar a sentença final e ela, Jeanne, seria<br />
prejudicada pois, na certa, perderia a questão.<br />
— Você ainda tem uma chance — falou ele — Pode tentar o acordo com Simone e, apesar de ser prejudicial para ela, tenho certeza<br />
que aceitará. Simone não precisa de dinheiro e tem um coração bom demais para querer vingança nessa altura dos acontecimentos.<br />
Jeanne compreendeu muito bem o segundo sentido das palavras do advogado. Simone não teria interesse nenhum em ver uma<br />
pobre velha, doente e prematuramente decrépita, passar dificuldades. Mesmo que essa velha fosse ela, Jeanne, a pessoa que lutara<br />
durante tanto tempo para lhe tomar as quotas da empresa.<br />
Por um momento, Jeanne ficou irritada.<br />
Pensou em correr dali o advogado chamando-o de incompetente ou de qualquer outra coisa que o pudesse ofender, mas...<br />
Lembrou-se das palavras de Satã.<br />
Ela receberia uma mensagem que lhe possibilitaria um encontro com Simone...<br />
Talvez fosse aquela a oportunidade e, segundo o Príncipe das Trevas, ela deveria seguir à risca as instruções que lhe seriam transmitidas.<br />
Respirou fundo, refletiu por alguns momentos e, finalmente, disse, tentando esboçar um sorriso:<br />
— Está bem... Assinarei o acordo. Mas...<br />
O advogado arregalou os olhos. Parecia-lhe impossível que Jeanne ainda tivesse coragem de impor condições para a assinatura de<br />
um acordo que, na realidade, não seria mais necessário para Simone e que esta mantinha por mera piedade para com a francesa.<br />
— Não creio que você esteja em posição de exigir coisa nenhuma — ponderou ele.<br />
Jeanne balançou a cabeça negativamente e disse:<br />
— Não quero impor nada. Quero apenas pedir um favor para Simone.<br />
Fingida, boa atriz que sempre fora, enxugou uma lágrima no canto do olho esquerdo e murmurou:<br />
— Quero que ela me receba... Que me perdoe...<br />
Ergueu o rosto encarquilhado para o advogado e explicou:<br />
— Veja o meu estado... Estou doente, envelheci muito... Sei que não terei muito tempo mais. E não quero partir para o outro mundo<br />
levando o ódio de Simone.<br />
O advogado sorriu e com benevolência, disse:<br />
— Pode estar tranquila quanto a isso, Jeanne... Simone é uma boa alma. Tenho certeza que não guardará qualquer rancor de você.<br />
— Pode ser... — replicou a velha — Mas eu faço questão de ouvir essas palavras da boca de Simone. Pode marcar o encontro para a<br />
assinatura do acordo mas... Que seja na presença de Simone.<br />
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