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Olhou preocupada para Jeanne e repetiu:<br />

— Por favor, Jeanne... Não fique ofendida comigo! Eu sei que você tem mil motivos para me detestar... Mas compreenda... Nós<br />

ficamos sabendo de sua escalada, das maneiras e dos métodos que usou para subir. Pense bem e verá que é mais do que natural que<br />

nós tenhamos tentado nos defender!<br />

Criando um pouco mais de auto-confiança, Hilda continuou:<br />

— Veja o que aconteceu com Beatriz... Você a derrotou, você acabou ficando com Tomás!<br />

— O casamento deles já estava mal das pernas — defendeu-se Jeanne — E isso, muito antes de eu aparecer em cena!<br />

— Tem razão — admitiu Hilda — E é justamente o que está acontecendo com o meu casamento! Eu não quero passar pela mesma<br />

experiência de Beatriz! Não quero que depois digam que era lógico que acontecesse isso pois o meu relacionamento com o Ribeiro já<br />

estava indo muito mal!<br />

Jeanne respirou fundo e, ia dizer para Hilda que não poderia fazer nada e que se ela não queria perder o marido que tratasse de se<br />

modificar, de fazer com que ele voltasse a ter interesse por ela mas, em prantos, a mulher a interrompeu mais uma vez, pondo-se de<br />

pé diante da francesa e falando:<br />

— Veja, Jeanne... Sei que não sou mais uma criança mas meu corpo ainda é melhor do que o de muitos brotinhos de dezoito anos!<br />

De mais a mais, a minha experiência é muito maior e eu tenho certeza que um homem que durma comigo uma noite, não vai deixar de<br />

querer uma reprise...<br />

Voltou a sentar e soluçou:<br />

Mas eu não quero outro homem! Eu quero o Ribeiro, quero o meu marido! E você é a única pessoa que pode me ajudar!<br />

Jeanne ficou em silêncio, olhando distraída para as pontas dos sapatos.<br />

Depois, ainda pensando nas palavras de Hilda, ergueu os olhos e, involuntariamente, eles se fixaram no entalhe da porta da<br />

biblioteca, distante quase seis metros de onde ela estava sentada.<br />

Apesar da distância, as imagens entalhadas pareceram saltar aos olhos de Jeanne e, ao mesmo tempo em que ela via aquelas figuras<br />

criando vida e dançando em volta do caldeirão, escutou a voz de Satã, dizendo ao seu ouvido:<br />

— Você vai ajudá-la, Jeanne... Vai ajudá-la com a sua magia e isso fará com que seja respeitada e temida não apenas por ela, mas<br />

por muitas outras que a procurarão.<br />

A voz de Satã se calou, as figuras pararam de dançar e Jeanne, de repente, sentiu uma imensa paz interior e uma grande segurança<br />

em si mesma.<br />

Voltando o rosto para Hilda, falou:<br />

— Está certo, Hilda. Eu vou ajudá-la. Mas em troca, você não deverá comentar com ninguém o que vai acontecer e o que vai fazer...<br />

Lembrando-se das palavras de Satã quando ele dissera que outras a viriam procurar, Jeanne acrescentou:<br />

— Você e só você poderá trazer a mim outras amigas ou amigos que precisem... de meu talento.<br />

Hilda olhou espantada para Jeanne e esta, com uma risada que lhe soou estranhamente diabólica, fez um gesto com a mão direita.<br />

No mesmo instante, o copo que a francesa servira para a outra e que já estava vazio, se encheu, ergueu-se da mesinha em que se<br />

encontrava e foi parar a poucos centímetros da mão de Hilda.<br />

A mulher se pôs de pé com um grito e Jeanne, segurando-a pelo braço, disse:<br />

— Não se assuste... Você veio me pedir ajuda, não é verdade? E vai me prometer que manterá segredo e só revelará o que aconteceu<br />

para pessoas que realmente estejam precisando de mim.. Além disso, antes de falar com essas pessoas, você virá me perguntar se eu<br />

posso atendê-las, está bem assim?<br />

Hilda, trêmula, assustada, fez um sinal afirmativo com a cabeça e Jeanne, fechando os olhos, concentrou-se.<br />

Procurou transportar seu pensamento para o livro de Gabrielle e para aqueles momentos no bangalô, quando a assistia em seus<br />

encantamentos de amor.<br />

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