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Louis seguiu em frente, atravessou a cidade e, quando já tinham passado a última casa da rua principal, entrou à esquerda numa<br />
variante mal conservada, em direção à floresta.<br />
— Para onde vamos? — quis saber Jeanne — Pensei que eu fosse ficar na casa de alguém, aqui na cidade...<br />
— Você ficará na casa de alguém — riu Louis — Alguém muito especial cujo nome é Gabrielle... Só que esse lugar é um pouco<br />
afastado...<br />
Engrenou uma marcha mais forte para vencer um íngreme tope e completou:<br />
— Teremos de andar um pouco...<br />
— Isso não tem importância — disse Jeanne — Numa paisagem como esta, é um prazer andar a pé!<br />
Louis meneou afirmativamente a cabeça e, depois de alguns momentos de silêncio, murmurou:<br />
— Não se assuste com a velha Gabrielle... Ela tem algumas maneiras estranhas, faz coisas esquisitas... Mas é uma excelente pessoa<br />
e, por aqui, todos acreditam que é graças a ela que toda a região estará sempre livre de inimigos... Mesmo que sejam boches!<br />
Jeanne olhou intrigada para o motorista e este, com um sorriso maroto, procurou tranquilizá-la mais uma vez, dizendo:<br />
— Não se preocupe... Verá que Gabrielle será muito mais do que uma mãe para você...<br />
Cerca de quinze minutos mais tarde, Louis parou o caminhão num trecho onde a estrada se alargava.<br />
— Daqui para a frente teremos que ir a pé — informou — Pode deixar que eu a ajudo com as malas...<br />
Isso falando, apanhou as duas malas de Jeanne e, indicando uma trilha que avançava por dentro da floresta, acrescentou:<br />
— Vamos... Serão apenas dois quilômetros.<br />
Riu da expressão que fazia Jeanne e disse:<br />
— Sei o que está pensando... Que eu escolhi o lugar errado para deixar uma moça grávida... Que tudo aqui é muito isolado e que se<br />
você passar mal, estará em maus lençóis...<br />
Balançou negativamente a cabeça e finalizou:<br />
— Mas pode estar certa de que eu não poderia ter escolhido melhor... E aposto que não encontrará no mundo inteiro maior segurança<br />
do que nas mãos de Gabrielle!<br />
Caminhando à frente de Jeanne por entre as árvores, repetiu:<br />
— Só lhe peço para que não se espante... Para que não se incomode com as esquisitices dessa velha.<br />
— Não vou me incomodar — retrucou Jeanne — Aliás, na minha situação, eu não posso me incomodar com nada, não é verdade?<br />
Tenho é que me dar por muito feliz por me ter encontrado! Estou certa de que, se não fosse o senhor, a esta altura, eu já estaria em<br />
alguma cela úmida e fria, respondendo a perguntas feitas pelos alemães, perguntas para as quais eu jamais teria qualquer resposta!<br />
Louis ficou muito sério e comentou, baixinho:<br />
— É engraçado... Eu não deveria estar ali... Deveria ter ido à Rue 11 Novembre, tinha um compromisso lá. Não consigo entender<br />
porque diabos fui até à estação, não compreendo como fui me esquecer de ir ao centro da cidade!<br />
Ergueu os ombros e concluiu:<br />
— Não costumo esquecer meus compromissos...<br />
— Graças a Deus! — exclamou Jeanne — Graças a Deus o senhor se esqueceu de ir a essa rua e foi parar ali na estação, como se<br />
estivesse à minha espera!<br />
Louis permaneceu em silêncio por todo o resto do trajeto.<br />
Foi quando já estavam chegando à clareira onde se situava a casa de Gabrielle que Louis disse:<br />
— Exatamente... Parecia que eu estava ali _à espera de alguém... Talvez... à sua espera, mocinha!<br />
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