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Nesses dias, Jeanne ficava de mau humor, sentia-se a mais miserável e abandonada pessoa do mundo, achava-se o exemplo típico<br />
da solidão...<br />
Quando, ainda por cima, num dia como esse, um homem a levava para a cama e, mais uma vez ela era obrigada a fingir um intenso<br />
e extremo prazer, aí sim, que ficava muito mal e, quando se via sozinha em seu quarto, enfiava o rosto no travesseiro e chorava horas<br />
seguidas, tentando lavar, com lágrimas, toda a sua frustração e todo o seu desespero.<br />
Foi numa noite assim, depois de chorar por muito tempo e<br />
adormecer de exaustão, que ela sonhou...<br />
*******<br />
Sonhou que estava na sala do bangalô de Gabrielle e que fazia muito frio.<br />
Ela acendera a lareira e estava olhando para o fogo, muito triste e desanimada, pensando que seu futuro jamais seria sequer uma<br />
sombra daquele que imaginava, daquele que desejava.<br />
— Para viver assim — disse — seria melhor morrer!<br />
Nesse instante, sem que ela fizesse o menor movimento, sem que Jeanne pusesse mais lenha na lareira, o fogo aumentou, as<br />
labaredas cresceram e uma luz avermelhada, intensa e muito<br />
estranha, iluminou todo o ambiente.<br />
Fascinada pelo brilho das chamas, Jeanne fixou o olhar na lareira e viu que ali se formava o rosto de um homem.<br />
Reconheceu imediatamente aqueles lábios finos, os olhos muito vivos e maldosos...<br />
— Você se esqueceu de mim — disse ele — Esqueceu que eu e somente eu posso lhe dar o prazer que está desejando, que está lhe<br />
fazendo falta.<br />
Jeanne ia dizer alguma coisa mas, no sonho, sua voz não saía e, por mais que se esforçasse, não podia emitir o menor som.<br />
— Preste mais atenção ao seu redor, Jeanne... Verá que eu estou presente e que estou sendo desprezado... — continuou ele — E não<br />
se esqueça que eu tenho a solução para todos os seus problemas!<br />
CAPÍTULO 12<br />
Jeanne despertou no meio da noite, trêmula e cheia de raiva.<br />
Aquele sonho trouxera à sua memória cenas que ela fazia questão de esquecer, dores que não desejava recordar e que jamais queria<br />
enfrentar outra vez.<br />
Lembrou-se do parto, do sangue em sua cama, do menino morto... Recordou-se, com um ódio extremo, do pacto que fizera com Satã<br />
e que julgava terminado uma vez que ele a pusera no Brasil e, como não poderia deixar de ser, cobrara e recebera o seu preço.<br />
Ela lhe entregara o filho e com isso, resgatara a sua liberdade.<br />
Por isso, não se via com a obrigação de lembrar de Satã, muito pelo contrário. Pelo seu próprio bem estar mental, Jeanne queria<br />
esquecer tudo quanto passara na França, queria esquecer aquele bangalô de Auvergne e nunca mais lembrar da fisionomia bondosa de<br />
Gabrielle ou do olhar torvo de Louis e de Bertrand.<br />
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